O mundo foi pego de surpresa com o anúncio da
renúncia do Papa Bento XVI. Em seu pronunciamento, o Papa diz: “Depois de ter
examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza
de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para
exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este
ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras
e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando.” (Bento XVI)...
Diante da fragilidade de sua saúde, e por não se
sentir em condições de continuar a missão que lhe foi confiada de chefe da
Igreja Católica, Bento XVI renuncia. Mais do que seu estado de saúde, outros
aspectos serão levantados nas diversas análises que se fará sobre o assunto:
visão de eclesiologia, cristologia, teologia... Um novo conclave se instalará.
Por trás da escolha de um novo Papa, devemos pensar que tipo de Igreja somos?
Que Igreja queremos ser? Queremos ser
uma Igreja que responda aos novos questionamentos do século XXI e ajude a
construir o NOVO? Aparecida (V Conferência do CELAM, DAP 11, 2007) já dizia que
“a Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia
sua missão...”. Qual visão de Jesus Cristo queremos fortalecer: o Cristo da
Cruz ou o Cristo do alto? O Cristo que anuncia o Reino e o vive em sua
plenitude, encarnado na realidade humana ou o Cristo afastado da vida do povo?
Queremos uma teologia que liberta ou oprime? Estas e outras questões virão à
tona no processo de escolha do novo Papa.
Temos vivido a experiência de um retorno ao
passado. Muitas têm sido as tentativas de voltar a uma eclesiologia e
espiritualidade contrárias ao Vaticano II, muito embora “durante o Concílio Vaticano II, Ratzinger
manteve-se na linha de frente em busca de uma teologia voltada ao diálogo com o
mundo, o que permitiu trabalhos que impulsionaram a Igreja e a teologia a uma
postura mais social, mais política e ao mesmo tempo, pastoral. O tempo o
modificou”. (Passos, 2013) E como modificou.
Para além da escolha do novo Papa, a Igreja deve
pensar nos desafios que a cerca:
- ministério ordenado: superação do autoritarismo e
do centralismo pastoral, acesso das comunidades à Eucaristia semanal;
- uma renovação litúrgica popular que aprofunde a
importância teológica da religiosidade popular;
- uma reestruturação da vida interna da Igreja,
colocando a instituição a serviço da vida;
- articular os novos movimentos e as novas comunidades
com a vida pastoral da Igreja, com as Comunidades Eclesiais de Base, com
compromissos sociais na linha da opção preferencial pelos pobres excluídos;
- responder aos desafios da sociedade moderna, os
avanços da ciência, às questões éticas,
- enfrentar a evangelização da cultura – de uma
cultura a partir dos pobres;
- reconhecer
o protagonismo dos leigos e leigas, como sujeitos da evangelização.
Já dizia um jovem teólogo: “Seria presunçoso e
falso... querer identificar simplesmente a obra do Espírito Santo com o
trabalho dos órgãos eclesiásticos... há uma só esperança para católicos e
não-católicos. Todos anseiam pelo único Reino de Deus, no qual não haverá mais
divisões, porque Deus será tudo em todas as coisas". (O novo Povo de Deus,
Paulinas, 2007, p.117). O jovem teólogo é Ratizinger.
Que venha o novo Papa!
Por: Marilza Shuina - Vice-presidência do CNLB
Nenhum comentário :
Postar um comentário