TEMPO DE INCERTEZAS...O QUE ESPERAR DO NOVO PAPA?

“Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, confiado a mim... 

Com essas palavras corajosas e incisivas, oriundas de um profundo discernimento pastoral, o atual Papa Bento XVI abalou o mundo inteiro na manhã do dia 11 de fevereiro de 2013, com a notícia de sua surpreendente renúncia, fato que não ocorria desde 1415, com o Papa Gregório XII. Sem dúvida alguma, algo inesperado até para muitos vaticanólogos e membros da alta hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana. Mas, quais os impactos, avanços e retrocessos desse momento histórico tão importante para os católicos e a sociedade contemporânea?...


Apesar das crises e das dificuldades enfrentadas pela Igreja, enquanto instituição, adversidades essas que se agravaram significativamente ao longo dos últimos anos, a figura do sumo pontífice ainda exerce um verdadeiro fascínio, goza de um certo prestígio e influencia, sobremaneira, os rumos da cristandade, em meio a tantos desafios éticos e morais presentes na sociedade. É certo que o catolicismo, já há um bom tempo, tem perdido espaço para alguns segmentos religiosos e não tem avançado em determinadas discussões que são prementes, principalmente, naquelas advindas da contemporaneidade, dentro de um processo de rápidas mudanças e transformações, verdade essa que não invalida a relevância do ministério petrino. Há quem diga que “a sociedade é como um gigante que avança em passos largos, enquanto a Igreja caminha lentamente, a passos de tartaruga” – talvez essa constatação tenha certo fundamento!

O atual Papa Bento XVI, ao longo de seus 08 anos de pontificado, procurou consolidar, numa postura ultraconservadora e, portanto, ortodoxa, os principais pontos doutrinais do catolicismo, como um verdadeiro guardião e defensor dos dogmas da fé, ao mesmo tempo, enfrentou com rigor os escândalos e denúncias dentro dos bastidores da Igreja, problemas que, na realidade, já existiam desde épocas imemoriais, só não eram discutidos abertamente. Sua postura inflexível e extremamente racional foi, sem dúvida alguma, um golpe duro naqueles que almejavam um modelo eclesiológico menos romanizado e mais progressista, voltado para as causas populares, numa tentativa de unir fé e vida. 

Cotado como um dos maiores intelectuais da atualidade, tendo inclusive escrito três encíclicas (Deus caritas est, Spes Salvi e Caritas in Veritate) e publicado uma coleção de estudos teológicos sobre a vida de Jesus Cristo, Joseph Ratzinger marcou, profundamente, a história da Igreja, apesar do pouco tempo de pontificado. Se, por um lado, tentou de todas as formas silenciar e impedir o avanço da Teologia da Libertação e do pensamento liberal dentro das estruturas eclesiais, tentativa frustrada, já que  essa corrente teológica continua viva e atuante nas pequenas e grandes comunidades; por outro, numa atitude amplamente vista como conciliatória, é tido por muitos especialistas como alguém que incentivou bastante o diálogo inter-religioso, particularmente com judeus e muçulmanos, apesar de alguns revezes.

E, agora, qual deve ser o perfil do novo papa? Teremos um cardeal latino-americano, um africano ou mais um europeu à frente da maior instituição religiosa do mundo? As especulações são muitas! Independente de suas origens, o grande rebanho de cristãos almeja um bom pastor, um líder carismático, menos sisudo e mais afável, menos burocrata e mais sensível aos clamores dos milhares de pobres e excluídos desta imensa messe, tão carente de bons operários. Particularmente, não acredito em grandes mudanças estruturais. O sucessor de Bento XVI, provavelmente, será alguém que compartilhe das ideias e pensamentos dele: um europeu novamente, quem sabe?! Esperamos que a Igreja trilhe um caminho diferente, mas esse novo vento de mudanças, ainda nos parece muito distante.

Oxalá, tenhamos um papa mais jovem, mais aberto ao diálogo e cheio de sabedoria para exercer dignamente o pontificado. A exemplo de Jesus Cristo, pastor por excelência, e de Pedro, pescador da Galileia, que não faltem a simplicidade e o espírito missionário, a ousadia profética e a coragem para anunciar, incansavelmente, o Evangelho de Jesus Cristo a todas as nações.

Por César Augusto Rocha - Equipe de Comunicação do CNLB

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