"Rasgai
o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso
Deus..." (Jl 2, 13)
Estamos
celebrando o tempo da quaresma, tempo forte de conversão e de preparação para a
solenidade da Páscoa do Senhor. É momento propício para uma verdadeira
“metanoia” – do grego “μετανοεῖν”, termo que designa, originalmente, “mudança
de pensamentos e atitudes”, numa tradução menos literal “virada radical”. A
palavra aparece 34 vezes no Novo Testamento e é a ideia chave deste período
litúrgico...
Converter-se,
para nós cristãos, significa aderir plenamente ao projeto libertador de Jesus
Cristo, o profeta de Nazaré, assumindo em nossa vida os seus ideais, sonhos e
perspectivas. É deixar-se conduzir por seu Espírito e voltar-se decididamente
para aquilo que é o essencial na fé cristã, a construção do Reino de Deus. Para
tanto, faz-se necessário “absolutizar o que é essencial e superficializar o que
é acidental e periférico” em nossa relação com nós mesmos, com Deus, com os
irmãos e com toda a obra da criação. Nesse sentido, como nos mostra o profeta
Joel, é preciso desconstruir essa visão puramente ritualística e formal da
espiritualidade cristã, pois o que vale para Deus é a reta intenção e a prática
inconfundível do amor e da justiça. Só o amor salva, liberta e dá sentido a
essa existência tão fugaz.
“Rasgar o
coração” significa na cultura hebraica “dilacerar, partir ao meio” toda ação e
sentimento que banaliza a nossa relação com Deus e com os irmãos. Isso implica
em deixar cair todas as máscaras e dissimulações para que resplandeça o
autêntico seguimento a Jesus Cristo. Se olharmos com atenção para os bastidores
de nossos templos, ainda há muito “farisaísmo”, práticas desconectadas do
Evangelho e certo distanciamento de suas verdadeiras opções. Como bem dizia
Marilza Schuina, vice-presidenta do CNLB: “Qual é a visão de Jesus Cristo que
queremos fortalecer? A de um Jesus que passa pela experiência da cruz ou de um
Jesus que vive lá no alto? A de um Jesus que anuncia o Reino e o vive
plenamente encarnado na história humana ou de um Jesus afastado da vida do
povo?!”
A quaresma é,
portanto, um convite para “desconstruirmos” nossas concepções e práticas
meramente superficiais de vivência cristã e assumirmos corajosamente uma nova
postura, mais crítica e consciente, no seguimento a Jesus. Até a missa
vespertina da quinta-feira santa, que marca o término deste período, os
cristãos são convidados a realizar um verdadeiro retiro espiritual de oração e
penitência para que a Páscoa, solenidade máxima do cristianismo, seja celebrada
dignamente e não se reduza a uma mera recordação de um acontecimento passado ou
o que é pior, um lucrativo produto de consumo desta sociedade capitalista.
Por César Augusto Rocha - Equipe de Comunicação do CNLB
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