O céu subitamente mudou
a sua aparência naquela manhã, tornando-se nubiloso, melancólico, frio e
enevoado. O vento soprava intrépido balançando as roupas no varal, fazendo as
folhas secas no quintal rodopiarem em pequenos redemoinhos, mudando a rotina da
lida doméstica. A criançada olhava atentamente pela janela o corre-corre
acelerado dos que passavam pelas calçadas, cruzando as ruas movimentadas,
driblando os carros e motos, com seus guarda-chuvas coloridos, desviando-se dos
primeiros respingos que começavam a molhar a terra, anunciando o inverno que se
aproximava. Eis que, na realidade, esperavam o momento certo para correrem
pelas ruas pulando nas poças d'água e banharem-se nas biqueiras das casas...
No velho telhado
ouvia-se claramente o saltitar das águas, formando pequenas goteiras aqui e
acolá, trazendo aquela paz hoje esquecida. Que saudade daqueles tempos pueris
onde se podia viver sem tantas preocupações e inquietudes. Era inconfundível o
cheiro de terra molhada, a brisa benfazeja daqueles dias hibernosos. Nos
alpendres e varandas, em dias como esse, a família no final da tarde se reunia
para relembrar a labuta e tecer a vida partilhando sonhos e esperanças.
Hoje mais do que nunca
entendo a sacralidade do inverno por essas terras tão agrestes. Chuva aqui é
coisa séria! É vida que se renova, esperança que renasce no chão seco,
oportunidade pra se reencontrar, se aconchegar e se sentir parte de algo bem
maior, uma família. Oxalá, nunca perdêssemos o doce aroma das lembranças e a
infância há muito esquecida.
Por César Augusto Rocha - Equipe de Comunicação do CNLB
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