SOMOS A TRANSFORMAÇÃO QUE QUEREMOS PARA O MUNDO

A transformação social, política e religiosa que tanto almejamos, dentro dessa perspectiva utópica de uma sociedade nova – mais igualitária e justa, é o resultado de um processo sistemático e gradativo de conscientização. Na realidade, ninguém conscientiza ninguém e toda mudança que queremos para o mundo começa em nós mesmos! Essa maturidade se dá ao longo da vida quando cada indivíduo vai adquirindo gradativamente novos elementos e percepções da realidade que contribuem para que a sua visão de mundo e de sociedade faça a difícil transição do senso comum para o senso crítico e aí ocorra o que nós chamamos de “MUDANÇA PARADIGMÁTICA” numa terminologia sociológica, ou simplesmente “CONVERSÃO” numa acepção mais teológico-cristã...

Essa passagem de um olhar mais ingênuo da vida para um entendimento mais apurado e consistente da realidade é sempre muito dolorosa, porém, necessária. Toda mudança sempre é geradora de conflitos! Muitos filósofos e pensadores ao longo da história (Sócrates, Platão, Karl Marx, Nietzsche, dentre outros) defenderam veementemente essa concepção de que o homem só se realiza plenamente quando se liberta totalmente de certas concepções, práticas e conceitos arraigados e limitados, provenientes geralmente de uma ideologia vigente, que mascara a realidade e sua verdadeira face.

Nesse aspecto, o mito ou alegoria da caverna de Platão, pode nos ajudar nesse entendimento: “Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali.
        
Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder mover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.

Imagine que um dos prisioneiros consiga se libertar e, aos poucos, vá se movendo e avance na direção do muro e o escale, enfrentando com dificuldade os obstáculos que encontre e saia da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.

Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, correrá, segundo Platão, sérios riscos - desde o simples ser ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles, que o tomaram por louco e inventor de mentiras.”

Transformar-se ou converter-se é exatamente ter a coragem de sair da caverna escura de nosso comodismo, apatia e descompromisso para galgar os degraus íngremes que nos levam a um projeto maior de vida. Para nós, cristãos, esse projeto se chama JESUS CRISTO e o REINO DE DEUS. Claro que, forças internas tentarão nos convencer do contrário, procurando mostrar quão bom, agradável e seguro é permanecer de costas para a realidade, acorrentados e humilhados, sobretudo, pela ignorância. Entretanto, se não for pra colocar a vida em risco, não vale a pena ser cristão.

Pensar comunitariamente talvez seja o primeiro passo dessa transformação. Isso implica em superar a ferramenta mais poderosa do atual sistema capitalista vigente: O INDIVIDUALISMO. Conta a história que:

“Certa vez, havia um homem que estava ocupado construindo a sua casa. Queria que fosse a casa mais bela, aconchegante e confortável do mundo.

Quando menos esperava, alguém vem pedir-lhe ajuda porque o mundo estava incendiando em chamas. Mas ele só tinha interesse em sua casa, não no mundo.

Quando finalmente terminou de construir sua casa, descobriu que não tinha um planeta onde colocá-la.”

Além de ter uma visão coletiva e comunitária da realidade, pautada principalmente na prática da Justiça e do Amor, valores essenciais que acalentamos, é necessário desenvolver nossas potencialidades e nossa capacidade de criar redes de parceria. Inspirados no profeta de Nazaré, Mestre e Senhor da Vida, tenhamos a coragem de assumir uma postura mais crítica e profética neste mundo, assumindo seus avanços e dissabores, sofrimentos e esperanças.

Por César Augusto Rocha - Equipe de Comunicação do CNLB

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