DEUS, O BOSQUE E A FELICIDADE

Mais uma vez eu pude contemplar Deus! Foi numa dessas tardes de janeiro, num dia chuvoso, que vi a fugacidade das horas diminuir o seu ritmo e o tempo desacelerar a sua cadência, quando olhando pela janela avistei o grande bosque que havia marcado os meus tempos de adolescência. Era majestoso e imponente, suntuoso e soberanamente divino, do mesmo jeito que lembrava. Certamente, as cenas e imagens que marcam a nossa história são indeléveis e trazem consigo lembranças que não se apagam...

Um pouco antes de chegar ao velho portão carcomido pela ferrugem dos anos que dava acesso à densa floresta, havia uma pequena vereda ladeada por um roseiral e uma vegetação diversificada. Ali, pitorescamente, um pequeno bando de pardais brincava tranquilamente por entre as folhas e arbustos. Cantavam e pulavam de ramo em ramo, fazendo dueto com outros pássaros na copa das árvores. Ouvia-se nitidamente, no contratempo da passarada, o coaxar das rãs que prenunciavam as primeiras chuvas do inverno que se aproximava. Era uma sinfonia perfeita, cheia de brandura e paz. Ao longe, para coroar aquele cenário, podiam-se ver os galhos dos velhos eucaliptos saracotearem de um lado para o outro numa dança frenética, ao sabor do vento frio e impetuoso. A natureza seguia o seu curso normal e tudo estava em perfeita harmonia. Deus sorria e me cumprimentava cordialmente naquele instante.

Ingenuamente, costumamos achar que Deus se revela apenas no extraordinário, nos grandes acontecimentos e milagres prodigiosos. Claro que aí também o percebemos! Todavia, é principalmente nos pequenos fatos e detalhes do dia-a-dia que podemos vislumbrá-lo e sentir a sua presença concreta. Diz uma pequena história oriental:

“Certa vez, um grande mestre passeava por um  jardim refletindo sobre a existência de Deus e diante de um botão de flor, indagou:

- Fala-me de Deus!!

E o botão, subitamente, se abriu.”

Olhando para aquele bosque, lembrei-me que cada um de nós também carrega dentro de si um jardim secreto, lá nas profundezas da alma, onde apenas o sublime criador consegue perscrutar. A arte de viver é como uma longa e tumultuada viagem pelas veredas intricadas desse bosque misterioso, cheio de surpresas e incertezas, momentos de encantamento e nostalgia, onde buscamos desenfreadamente a tão sonhada felicidade. O destino é sempre o mesmo, a realização plena de nossos anseios, a sensação perene de bem-estar consigo, com Deus e com os outros. Ser feliz é o sonho que nos embala, nos motiva e nos faz seguir em frente, apesar das adversidades e intempéries que vez por outra nos surpreendem. Nascemos para a felicidade e vivemos em função dela.

Mas o que é ser feliz??

Indubitavelmente, a felicidade que procuramos não está somente no conforto e na ostentação que o dinheiro pode nos proporcionar. Embora, venhamos e convenhamos, “vita sine pecunia difficilis est”. É outro entendimento que queremos ter e outro caminho que queremos trilhar. Nossa reflexão não passa necessariamente por momentos isolados de alegria, numa felicidade momentânea. Trata-se de um estado de espírito mais totalizante e pleno, que nunca nos abandona mesmo nos momentos mais turbulentos. Ser feliz, nessa ótica, é ter a posse plena de si mesmo.

“Felicidade, segundo Érico Veríssimo, é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente”. A melhor maneira de dar sentido a essa existência fugaz é tentando perceber o toque sagrado de Deus no cotidiano de nossa vida. Assim, conseguiremos nos maravilhar com o grande jardim de Deus ao nosso redor.

Por César Augusto Rocha - Equipe de Comunicação do CNLB
       

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