Francisco nasceu na cidade de Assis, na Itália Central, no ano de 1182. Seu pai se chamava Pedro Bernardone, e sua mãe, provavelmente, Dona Joana. Quando o menino nasceu, Dona Joana lhe deu, na pia batismal, o nome de João. Na ocasião, o pai estava ausente, certamente em uma de suas viagens à França, viagem de negócios, pois era comerciante. Ao chegar a Assis, deu ao filho o apelido de Francisco, uma homenagem à França, objeto de sua admiração, visto que lá obtinha bons lucros em seus negócios. De fato, era na França que ele buscava os tecidos finos para revender em Assis e nas cidades vizinhas, como Perúgia, Espoleto, Foligno. Não consta que Pedro Bernardone tivesse tido sua própria fábrica de tecidos(...)
É muito provável que a mãe de Francisco tenha nascido na França, na província conhecida pelo nome de Picardia, região famosa na época pelas suas confecções de fazendas finas, ponto de convergência de comerciantes de todos os cantos, os quais se abasteciam das preciosas mercadorias que eram posteriormente repassadas, a elevado preço, aos senhores da nobreza e aos ricos da burguesia. A origem francesa de Dona Joana justificaria, para alguns historiadores, o fato de Francisco ter aprendido o francês, língua que ele usava preferentemente nos momentos de maior entusiasmo. Outros historiadores são de opinião de que a aprendizagem da língua francesa pode ter sido ocasionada pela necessidade do comércio, já que Francisco deve ter acompanhado seu pai em suas viagens à França.
Uma das fontes biográficas - Legenda dos Três Companheiros - sugere que Francisco tivesse tido outros irmãos. Um ou outro estudioso, com base no texto dessa fonte, levanta a hipótese de que Dona Joana fosse viúva e que tivesse outros filhos antes de casar-se com Pedro Bernardone. Os historiadores modernos, no entanto, só conseguiram descobrir e identificar apenas um, chamado Ângelo, a quem Tomás de Celano faz rápida alusão.
Pouco se sabe da infância de Francisco. O que se sabe com certeza é que ele frequentou a escola da igreja de São Jorge, onde aprendeu a ler, a escrever e a fazer as operações básicas da matemática. Talvez, ainda adolescente, tenha sido introduzido no trabalho do pai: cuidar da loja, levar tecidos para vender nas feiras das cidades vizinhas e, possivelmente, acompanhar o pai em suas viagens à França a fim de comprar as mercadorias necessárias para renovar os estoques da loja. É possível que, sendo introduzido na profissão do pai, tenha recebido alguma instrução básica do direito comercial da época. Uma coisa, porém, é certa: ele nunca freqüentou universidade, fato que o colocava em pé de igualdade com o povo e que o mantinha consciente de ser sempre um homem simples e iletrado.
O grande ideal de Francisco, no entanto, não era a profissão do pai, mas a cavalaria. Ser cavaleiro dar-lhe-ia não somente riqueza, mas também a nobreza. E seu pai alimentava também esse sonho de conquista, de grandeza e de projeção social.
Francisco transcorreu sua juventude em meio a muita alegria e festas. Frequentemente era nomeado rei de seu grupo de jovens, recebia inclusive o cetro como símbolo de seu reinado e por ser rico, pagava com generosidade as despesas dos banquetes de todo o grupo.
Em 1202, estourou uma guerra entre a nobreza e a burguesia de Assis, guerra que acabou envolvendo a vizinha cidade de Perúgia. Os nobres de Assis, refugiados desde 1198 em Perúgia, aliaram-se à nobreza dessa cidade rival para combater os burgueses de Assis. Francisco, em seu sonho de conquistar o título de cavaleiro, alistou-se nessa guerra. Os burgueses de Assis foram derrotados e Francisco foi feito prisioneiro.
A experiência da guerra e da prisão deve ter sido traumatizante para o jovem que então contava apenas vinte anos. Além das más condições na prisão, onde adoeceu gravemente, certamente a recordação dos horrores da guerra deve ter penetrado fundo na alma de Francisco.
Resgatado pelo pai, Francisco retorna a Assis e passa por uma convalescença de longo tempo. Restabelecido, não desiste de seu ideal de ser cavaleiro. Como passava Walter de Brienne por Assis, a fim de recrutar cavaleiros para uma guerra no Sul da Itália, Francisco se inscreve, sonhando tornar-se um grande príncipe. Adquire todos os apetrechos necessários para o empreendimento e parte.
Após um dia de cavalgada, tendo chegado a Espoleto, a tropa montou acampamento para o descanso. Certamente, durante aquela viagem, Francisco trazia à memória toda a experiência da guerra da qual participara. À noite - Tomás de Celano fala de um sonho -, o jovem aspirante à glória de cavaleiro toma uma decisão inesperada: voltaria a Assis, desistindo definitivamente da cavalaria. Enfrentaria a chacota da população de Assis que o vira partir como um príncipe vitorioso e que, antes mesmo de entrar na batalha, estava voltando como um covarde. Guerra, matar, saquear constituíam realidades que não correspondiam à índole de Francisco.
Em Assis, depois de ter assimilado a irrisão dos assisenses, Francisco voltou a trabalhar na loja do pai. Mas algo que nem ele próprio sabia explicar se passava em seu interior. Questionava-se a respeito de seu passado e buscava um caminho para o futuro. Que sentido dar à sua existência?
Imbuiu-se de compaixão pelos pobres. Certo dia, ao despedir, com certo descaso ou rudeza, um pobre que lhe pedia esmola por amor de Deus, Francisco caiu em si, correu atrás do pobre e encheu-lhe as mãos de moedas, prometendo a si mesmo nunca mais negar esmola a quem lhe pedisse em nome de Deus.
Ainda nesse período em que trabalhava na loja do pai, Francisco tomou vários cortes de fazenda para vendê-los na feira de Foligno. Depois de ter vendido toda a mercadoria, vendeu também o cavalo e, passando no retorno pela igreja de São Damião, ofereceu todo o dinheiro adquirido ao sacerdote, para a manutenção daquela igreja. O sacerdote, conhecedor da índole irascível de Pedro Bernardone, não quis aceitar a generosa oferta. Francisco, então, tomou o dinheiro e atirou-o com desprezo pela janela.
Pouco a pouco, foi-se afastando dos amigos de festas e serestas. Buscava, com frequência, lugares solitários, tais como igrejas abandonadas, grutas, bosques, e aí passava longo tempo em reflexão. Essa transformação não passou despercebida ao povo de Assis, que começava a considerá-lo um louco.
Não se sabe com precisão, mas Tomás de Celano sugere que teria sido nesse período que Francisco teve um encontro que, segundo o próprio Francisco, marcou o início de sua conversão. Francisco tinha verdadeiro pavor e nojo de leprosos. Certo dia, cavalgando pela planície que se estende sob a cidade de Assis - a cidade fica no alto - de repente, viu-se diante de um homem deformado pela lepra. A região da Úmbria, de fato, tinha muitos casos de lepra e naquela planície, no tempo de Francisco, havia cinco leprosários. Ele teve ímpeto de puxar as rédeas e de fugir a galope. Mas conteve-se, desceu do cavalo, ofereceu uma moeda ao homem que lhe estendia a mão e deu-lhe um beijo no rosto já mutilado pela doença. A partir de então, visitava-os e confortava-os com freqüência.
Pedro Bernardone, que já estava tremendamente decepcionado pela inexplicável desistência da cavalaria, estranhava a mudança pela qual Francisco passava e, percebendo que estava perdendo o filho paulatinamente e sofrendo com os julgamentos e zombarias do povo, propôs-se recuperá-lo a todo custo. Usou, inclusive, a violência, arrastando-o para casa e mantendo-o preso em um quarto escuro. Dona Joana, movida de compaixão, libertou-o, aproveitando a ausência do marido.
Quando regressou, não encontrando o filho prisioneiro, foi à procura dele, ameaçando deserdá-lo diante do bispo de Assis. Francisco não fugiu, mas apresentou-se ao pai encolerizado e dirigiu-se espontaneamente à casa do bispo. Então, diante do pai, do bispo e dos funcionários da cúria episcopal, Francisco devolveu ao pai não apenas o dinheiro que ainda trazia consigo, mas também toda a roupa com que estava vestido, ficando completamente nu. O bispo, admirando tão decidida radicalidade, cobriu-o com sua capa. Desse modo, Francisco trocou as vestes finas dos ricos por andrajos próprios de um mendigo.
Depois dessa ruptura dramática com o pai, Francisco se dedicou ao serviço dos leprosos, lavando-lhes as feridas purulentas e tratando-os com a maior dignidade, pois não os via mais como objeto de pavor e de nojo, mas como irmãos, filhos, como ele, do mesmo Deus e Pai.
Poucos meses depois dessa experiência, Francisco é visto com trajes de eremita. Dedica seu tempo à experiência de oração em lugares solitários, ao serviço dos leprosos e inicia, ao mesmo tempo, a restauração de pequenas capelas abandonadas e em ruínas. Entretanto, ele ainda não tem clareza de seu futuro, do significado de sua existência. É um período de, pelo menos, dois anos de busca, de discernimento a respeito do que fazer de sua vida. Uma coisa, no entanto, é muito clara para ele: não retornará à vida anterior.
Depois de ter restaurado três igrejinhas - a de São Damião, a de São Pedro e a de Santa Maria dos Anjos - Francisco obteve a desejada e buscada clareza a respeito do sentido a dar à sua existência. No mês de fevereiro de 1208, ao participar de uma celebração eucarística na igreja de Santa Maria dos Anjos, que ele acabara de restaurar, ouviu o texto do Evangelho em que Cristo envia os discípulos a anunciar o reino de Deus. Depois da celebração, pediu ao sacerdote que lhe explicasse mais detalhadamente o texto que lhe havia causado não pequeno impacto. Ao ouvir a explicação, ele disse: "É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração" (1Cel 22,3). Francisco interpretava aquelas palavras do Evangelho como uma inspiração de Deus que lhe indicava o caminho a seguir.
Tomás de Celano diz que, nesse momento, Francisco depôs o hábito de eremita, a saber, a túnica, os calçados e o cinto com que se cingia, e fez um outro hábito muito pobre e rude, de panos baratos, cingindo-se com uma corda, e começou a pregar ao povo o Evangelho e a paz. Francisco, ao ouvir o Evangelho do envio, não o compreendeu apenas como umas palavras dirigidas por Jesus aos discípulos do primeiro século, mas agora dirigidas pessoalmente a ele. A partir de então, este será sempre o modo como Francisco vai ler o Evangelho: nunca em tempo pretérito, mas sempre em tempo presente.
Dois meses depois de ter clareza sobre como deveria ser a sua vida, Francisco recebe dois companheiros que o querem seguir: Frei Bernardo de Quintavalle e Frei Pedro Cattani. Quando os três amigos estavam restaurando uma cabana perto da igrejinha de Santa Maria dos Anjos que lhes servisse de abrigo, chegou o terceiro companheiro, Frei Egídio de Assis.
Pouco a pouco, o grupo foi crescendo. Um ano depois, já eram onze os seguidores de Francisco. Levavam uma vida muito simples e pobre. A condição para fazer parte do grupo era distribuir, entre os pobres, todos os bens que acaso possuíssem, de acordo com o Evangelho que diz: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e distribui aos pobres" (Mt 19,21). Recebiam, então, um hábito como o de Francisco. Viviam de seu trabalho, ajudando os agricultores na lavoura. Não recebiam dinheiro, mas ganhavam seu salário em gêneros necessários ao sustento e à vestimenta, tais como pão, óleo, verduras, frutas, carne, queijo, panos, capas, cobertas, etc. Dedicavam-se à oração e à exortação do povo e à penitência e à paz.
Entre os meses de março e junho de 1209, os doze companheiros se dirigem a Roma para pedir ao Papa a aprovação para aquele modo de vida. Agora, Francisco queria uma confirmação de que aquilo que ele interpretara, como inspiração por parte de Deus, era realmente uma inspiração e não apenas uma fantasia de sua cabeça. Mandou escrever uma pequena regra, que consistia em algumas opções concretas colhidas do Evangelho, que certamente eles já estavam vivendo, e apresentou-a ao Papa, pedindo que fosse confirmada. Após os questionamentos de praxe, especialmente a respeito de uma pobreza tão radical, o Papa Inocêncio III a aprovou, isto é, reconheceu que aquilo que o grupo se propunha viver era vida evangélica, portanto, inspirada por Deus.
Junto com a aprovação da regra franciscana, o Papa concedeu-lhes a licença da pregação itinerante: em qualquer cidade ou aldeia por onde passassem podiam pregar ao povo a penitência. E prometeu-lhes novos favores quando o grupo crescesse.
Pouco depois, o próprio Francisco deu ao grupo o nome de Ordem dos Frades Menores. E muitos homens pediam ingresso na recém-fundada Ordem. Provinham das mais variadas camadas sociais: ricos e pobres, nobres e plebeus, homens letrados e pessoas sem instrução, membros do clero e leigos, cavaleiros e lavradores, jovens e homens maduros, todos abandonavam seus bens para seguir o novo modo de vida evangélica. Apesar de serem provenientes de camadas sociais tão diferentes, todos viviam e se comprometiam a viver como irmãos.
Percorriam as cidades e vilas em pequenos grupos, exercendo a pregação itinerante, tentado evangelizar não somente pelas palavras, mas especialmente por seu modo de vida. Em algumas cidades eram bem recebidos; em outras, porém, eram maltratados, pois eram confundidos com os grupos de hereges, aos quais exteriormente se assemelhavam.
No ano de 1211, Francisco faz uma primeira tentativa de dirigir-se à Síria, com a intenção de anunciar aos sarracenos o Evangelho e, especialmente, de levar-lhes uma proposta de paz, visto que entre sarracenos e cristãos se desenvolvia terrível guerra - tempo das Cruzadas. Não conseguiu, pois ventos contrários não permitiram que a nave chegasse ao seu destino. Retornou à Dalmácia. Num período não bem determinado pelos historiadores, mas que pode ter sido entre 1213 e 1215, faz nova tentativa, agora tentando chegar a Marrocos, através da Espanha. Adoeceu e teve que retornar.
A Ordem dos Frades Menores desenvolvia-se em ritmo extremamente rápido. Um cardeal, de nome Jacques de Vitry, em sua Historia orientalis (Fontes Franciscanas e Clarianas, p. 1425) fala que não se encontrava cidade ou aldeia na Itália por onde os frades não tivessem passado.
Com o crescimento da Ordem, não tendo condições de acompanhar pessoalmente cada um dos frades, Francisco estruturou-a em províncias, nomeando um ministro provincial que cuidaria dos frades sob sua responsabilidade. Isso aconteceu em 1217, ocasião em que os frades foram enviados para outros países além dos Alpes, para regiões do ultramar (Síria) e, possivelmente, para a França e Península Ibérica.
No ano de 1219, depois do mês de setembro, Francisco conseguiu realizar seu sonho de ir aos sarracenos. Viu de perto os terrores da guerra entre cruzados e sarracenos, pois estivera antes no acampamento dos cruzados, aos quais aconselhou que não enfrentassem o exército do Sultão. Não querendo ouvir o conselho de Francisco, o exército dos cruzados sofreu triste derrota, perdendo num só dia seis mil homens entre mortos e feridos.
Dirigiu-se, assim mesmo, ao acampamento do Sultão, com quem teve um cordial encontro, estabelecendo com ele relações de mútuo respeito e admiração. O Sultão quis dar-lhe presentes, sinal de sua amizade, mas Francisco recusou-os, sinal de sua opção pela pobreza, o que causou maior admiração ainda ao Sultão.
Depois de não muito tempo, ao saber que a Ordem na Itália passava por alguma turbulência, Francisco resolveu voltar. Então, o Sultão deu a Francisco um salvo-conduto que lhe permitia mover-se livremente nas terras ocupadas pelos sarracenos sem ser molestado.
De volta à Itália, Francisco restabelece a Ordem. Com a saúde bastante abalada, pois sofria de várias enfermidades, nomeia Frei Pedro Cattani como seu vice, a fim de que este possa ajudá-lo na organização da Ordem. Poucos meses depois, Pedro Cattani falece, e Francisco nomeia Frei Elias, que tinha sido o primeiro provincial na Síria, como substituto de Frei Pedro Cattani. Frei Elias, homem de senso organizativo que gozava da plena confiança de Francisco, tornou-se seu colaborador de primeira linha.
Nesse período, pessoas casadas e também solteiras, homens e mulheres, queriam, de algum modo, seguir aquele modo de vida inaugurado por Francisco, sem, porém, ter que fazer parte do grupo de frades ou entrar num mosteiro. Francisco dava-lhes orientações para uma vida evangélica na família, na sociedade, sem abandonar seu estado civil e a sua profissão. Esse movimento, formado especificamente por leigos - embora membros do clero também pudessem fazer parte - começou a ser levado para todos os lugares por onde Francisco e seus frades passavam. Era conhecido pelo nome de Terceira Ordem Franciscana - hoje Ordem Franciscana Secular. A característica, desses homens e dessas mulheres, que os diferenciava dos frades que andavam pelo mundo e das monjas que viviam nos mosteiros, é a secularidade, isto é, enquanto as duas primeiras ordens faziam a consagração pelos votos de obediência, pobreza e castidade, esses homens e mulheres viviam, em suas famílias e na sociedade, com seus compromissos matrimoniais e sociais. Procuravam, sim, como os frades e as irmãs clarissas, levar uma vida simples, de caridade, de paz. Os homens não portavam armas, fato que fez com que a Terceira Ordem se caracterizasse como um efetivo movimento de paz.
Em 1223, em razão das dificuldades que a Ordem sofria por parte de alguns setores eclesiásticos, Francisco resolve pedir ao Papa um documento que desse uma garantia ao seu modo de vida. Reelaborou a sua regra de uma maneira mais sucinta e coesa, pois a que fora aprovada inicialmente, em 1209, tinha sofrido uma evolução desordenada, e apresentou-a ao Papa, que lhe deu uma bula de confirmação. Isso aconteceu aos 29 de novembro de 1223.
Ainda nesse ano, Francisco resolve celebrar o Natal de modo original. Queria contemplar com os próprios olhos o nascimento de Jesus. Pediu que organizassem um quadro vivo, e assim foram providenciadas as imagens do Menino Jesus, de Maria, de José; trouxeram o boi e o burro e celebrou-se a missa numa gruta, com muitas velas e tochas. A noite ficou iluminada, o canto de júbilo ressoou pelos vales. Afirma-se que é daí que provém a tradição das famílias cristãs de montar o presépio por ocasião das festas de Natal.
No ano seguinte, no dia 14 de setembro, festa da Exaltação da Santa Cruz, retirado no eremitério do Monte Alverne para contemplar o mistério da paixão de Cristo, Francisco recebeu os estigmas. Estando em profunda e intensa meditação, apareceu-lhe nas mãos, nos pés e no lado direito do peito as chagas da crucifixão de Cristo.
Apesar da dificuldade para andar por causa dos estigmas, Francisco não abandona a tarefa da pregação. Percorre toda a região da Úmbria e da Marca de Ancona, pregando ao povo. Não podendo mais caminhar, usava um burrinho para locomover-se de cidade em cidade.
No mês de abril ou maio de 1225, depois de uma noite de tormentos pela dor, especialmente dos olhos devido ao tracoma, uma doença contraída provavelmente no Oriente, Francisco escreveu o Cântico do Irmão Sol ou Cântico das criaturas, em que ele, mesmo não podendo mais contemplar a criação com os olhos corporais, louva a Deus por todas as belezas criadas.
No dia 4 de outubro de 1226, estando com a saúde muito debilitada, Francisco compôs ainda uma estrofe para o Cântico do Irmão Sol, chamando de irmã a própria morte. Depois, cercado pelos irmãos no leito de morte, entregou a alma a Deus.
Sua canonização teve lugar na cidade de Assis, no dia 16 de julho de 1228, portanto, menos de dois anos depois de sua morte. Após as cerimônias de canonização, o Papa Gregório IX pediu a Frei Elias que construísse uma basílica, e a Frei Tomás de Celano que escrevesse uma biografia em honra do santo.
Esse modo de vida, baseado na pobreza e na pregação itinerante, atraía não somente os homens, mas também as damas. A primeira delas foi Clara de Offreduccio.
É muito provável que a mãe de Francisco tenha nascido na França, na província conhecida pelo nome de Picardia, região famosa na época pelas suas confecções de fazendas finas, ponto de convergência de comerciantes de todos os cantos, os quais se abasteciam das preciosas mercadorias que eram posteriormente repassadas, a elevado preço, aos senhores da nobreza e aos ricos da burguesia. A origem francesa de Dona Joana justificaria, para alguns historiadores, o fato de Francisco ter aprendido o francês, língua que ele usava preferentemente nos momentos de maior entusiasmo. Outros historiadores são de opinião de que a aprendizagem da língua francesa pode ter sido ocasionada pela necessidade do comércio, já que Francisco deve ter acompanhado seu pai em suas viagens à França.
Uma das fontes biográficas - Legenda dos Três Companheiros - sugere que Francisco tivesse tido outros irmãos. Um ou outro estudioso, com base no texto dessa fonte, levanta a hipótese de que Dona Joana fosse viúva e que tivesse outros filhos antes de casar-se com Pedro Bernardone. Os historiadores modernos, no entanto, só conseguiram descobrir e identificar apenas um, chamado Ângelo, a quem Tomás de Celano faz rápida alusão.
Pouco se sabe da infância de Francisco. O que se sabe com certeza é que ele frequentou a escola da igreja de São Jorge, onde aprendeu a ler, a escrever e a fazer as operações básicas da matemática. Talvez, ainda adolescente, tenha sido introduzido no trabalho do pai: cuidar da loja, levar tecidos para vender nas feiras das cidades vizinhas e, possivelmente, acompanhar o pai em suas viagens à França a fim de comprar as mercadorias necessárias para renovar os estoques da loja. É possível que, sendo introduzido na profissão do pai, tenha recebido alguma instrução básica do direito comercial da época. Uma coisa, porém, é certa: ele nunca freqüentou universidade, fato que o colocava em pé de igualdade com o povo e que o mantinha consciente de ser sempre um homem simples e iletrado.
O grande ideal de Francisco, no entanto, não era a profissão do pai, mas a cavalaria. Ser cavaleiro dar-lhe-ia não somente riqueza, mas também a nobreza. E seu pai alimentava também esse sonho de conquista, de grandeza e de projeção social.
Francisco transcorreu sua juventude em meio a muita alegria e festas. Frequentemente era nomeado rei de seu grupo de jovens, recebia inclusive o cetro como símbolo de seu reinado e por ser rico, pagava com generosidade as despesas dos banquetes de todo o grupo.
Em 1202, estourou uma guerra entre a nobreza e a burguesia de Assis, guerra que acabou envolvendo a vizinha cidade de Perúgia. Os nobres de Assis, refugiados desde 1198 em Perúgia, aliaram-se à nobreza dessa cidade rival para combater os burgueses de Assis. Francisco, em seu sonho de conquistar o título de cavaleiro, alistou-se nessa guerra. Os burgueses de Assis foram derrotados e Francisco foi feito prisioneiro.
A experiência da guerra e da prisão deve ter sido traumatizante para o jovem que então contava apenas vinte anos. Além das más condições na prisão, onde adoeceu gravemente, certamente a recordação dos horrores da guerra deve ter penetrado fundo na alma de Francisco.
Resgatado pelo pai, Francisco retorna a Assis e passa por uma convalescença de longo tempo. Restabelecido, não desiste de seu ideal de ser cavaleiro. Como passava Walter de Brienne por Assis, a fim de recrutar cavaleiros para uma guerra no Sul da Itália, Francisco se inscreve, sonhando tornar-se um grande príncipe. Adquire todos os apetrechos necessários para o empreendimento e parte.
Após um dia de cavalgada, tendo chegado a Espoleto, a tropa montou acampamento para o descanso. Certamente, durante aquela viagem, Francisco trazia à memória toda a experiência da guerra da qual participara. À noite - Tomás de Celano fala de um sonho -, o jovem aspirante à glória de cavaleiro toma uma decisão inesperada: voltaria a Assis, desistindo definitivamente da cavalaria. Enfrentaria a chacota da população de Assis que o vira partir como um príncipe vitorioso e que, antes mesmo de entrar na batalha, estava voltando como um covarde. Guerra, matar, saquear constituíam realidades que não correspondiam à índole de Francisco.
Em Assis, depois de ter assimilado a irrisão dos assisenses, Francisco voltou a trabalhar na loja do pai. Mas algo que nem ele próprio sabia explicar se passava em seu interior. Questionava-se a respeito de seu passado e buscava um caminho para o futuro. Que sentido dar à sua existência?
Imbuiu-se de compaixão pelos pobres. Certo dia, ao despedir, com certo descaso ou rudeza, um pobre que lhe pedia esmola por amor de Deus, Francisco caiu em si, correu atrás do pobre e encheu-lhe as mãos de moedas, prometendo a si mesmo nunca mais negar esmola a quem lhe pedisse em nome de Deus.
Ainda nesse período em que trabalhava na loja do pai, Francisco tomou vários cortes de fazenda para vendê-los na feira de Foligno. Depois de ter vendido toda a mercadoria, vendeu também o cavalo e, passando no retorno pela igreja de São Damião, ofereceu todo o dinheiro adquirido ao sacerdote, para a manutenção daquela igreja. O sacerdote, conhecedor da índole irascível de Pedro Bernardone, não quis aceitar a generosa oferta. Francisco, então, tomou o dinheiro e atirou-o com desprezo pela janela.
Pouco a pouco, foi-se afastando dos amigos de festas e serestas. Buscava, com frequência, lugares solitários, tais como igrejas abandonadas, grutas, bosques, e aí passava longo tempo em reflexão. Essa transformação não passou despercebida ao povo de Assis, que começava a considerá-lo um louco.
Não se sabe com precisão, mas Tomás de Celano sugere que teria sido nesse período que Francisco teve um encontro que, segundo o próprio Francisco, marcou o início de sua conversão. Francisco tinha verdadeiro pavor e nojo de leprosos. Certo dia, cavalgando pela planície que se estende sob a cidade de Assis - a cidade fica no alto - de repente, viu-se diante de um homem deformado pela lepra. A região da Úmbria, de fato, tinha muitos casos de lepra e naquela planície, no tempo de Francisco, havia cinco leprosários. Ele teve ímpeto de puxar as rédeas e de fugir a galope. Mas conteve-se, desceu do cavalo, ofereceu uma moeda ao homem que lhe estendia a mão e deu-lhe um beijo no rosto já mutilado pela doença. A partir de então, visitava-os e confortava-os com freqüência.
Pedro Bernardone, que já estava tremendamente decepcionado pela inexplicável desistência da cavalaria, estranhava a mudança pela qual Francisco passava e, percebendo que estava perdendo o filho paulatinamente e sofrendo com os julgamentos e zombarias do povo, propôs-se recuperá-lo a todo custo. Usou, inclusive, a violência, arrastando-o para casa e mantendo-o preso em um quarto escuro. Dona Joana, movida de compaixão, libertou-o, aproveitando a ausência do marido.
Quando regressou, não encontrando o filho prisioneiro, foi à procura dele, ameaçando deserdá-lo diante do bispo de Assis. Francisco não fugiu, mas apresentou-se ao pai encolerizado e dirigiu-se espontaneamente à casa do bispo. Então, diante do pai, do bispo e dos funcionários da cúria episcopal, Francisco devolveu ao pai não apenas o dinheiro que ainda trazia consigo, mas também toda a roupa com que estava vestido, ficando completamente nu. O bispo, admirando tão decidida radicalidade, cobriu-o com sua capa. Desse modo, Francisco trocou as vestes finas dos ricos por andrajos próprios de um mendigo.
Depois dessa ruptura dramática com o pai, Francisco se dedicou ao serviço dos leprosos, lavando-lhes as feridas purulentas e tratando-os com a maior dignidade, pois não os via mais como objeto de pavor e de nojo, mas como irmãos, filhos, como ele, do mesmo Deus e Pai.
Poucos meses depois dessa experiência, Francisco é visto com trajes de eremita. Dedica seu tempo à experiência de oração em lugares solitários, ao serviço dos leprosos e inicia, ao mesmo tempo, a restauração de pequenas capelas abandonadas e em ruínas. Entretanto, ele ainda não tem clareza de seu futuro, do significado de sua existência. É um período de, pelo menos, dois anos de busca, de discernimento a respeito do que fazer de sua vida. Uma coisa, no entanto, é muito clara para ele: não retornará à vida anterior.
Depois de ter restaurado três igrejinhas - a de São Damião, a de São Pedro e a de Santa Maria dos Anjos - Francisco obteve a desejada e buscada clareza a respeito do sentido a dar à sua existência. No mês de fevereiro de 1208, ao participar de uma celebração eucarística na igreja de Santa Maria dos Anjos, que ele acabara de restaurar, ouviu o texto do Evangelho em que Cristo envia os discípulos a anunciar o reino de Deus. Depois da celebração, pediu ao sacerdote que lhe explicasse mais detalhadamente o texto que lhe havia causado não pequeno impacto. Ao ouvir a explicação, ele disse: "É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração" (1Cel 22,3). Francisco interpretava aquelas palavras do Evangelho como uma inspiração de Deus que lhe indicava o caminho a seguir.
Tomás de Celano diz que, nesse momento, Francisco depôs o hábito de eremita, a saber, a túnica, os calçados e o cinto com que se cingia, e fez um outro hábito muito pobre e rude, de panos baratos, cingindo-se com uma corda, e começou a pregar ao povo o Evangelho e a paz. Francisco, ao ouvir o Evangelho do envio, não o compreendeu apenas como umas palavras dirigidas por Jesus aos discípulos do primeiro século, mas agora dirigidas pessoalmente a ele. A partir de então, este será sempre o modo como Francisco vai ler o Evangelho: nunca em tempo pretérito, mas sempre em tempo presente.
Dois meses depois de ter clareza sobre como deveria ser a sua vida, Francisco recebe dois companheiros que o querem seguir: Frei Bernardo de Quintavalle e Frei Pedro Cattani. Quando os três amigos estavam restaurando uma cabana perto da igrejinha de Santa Maria dos Anjos que lhes servisse de abrigo, chegou o terceiro companheiro, Frei Egídio de Assis.
Pouco a pouco, o grupo foi crescendo. Um ano depois, já eram onze os seguidores de Francisco. Levavam uma vida muito simples e pobre. A condição para fazer parte do grupo era distribuir, entre os pobres, todos os bens que acaso possuíssem, de acordo com o Evangelho que diz: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e distribui aos pobres" (Mt 19,21). Recebiam, então, um hábito como o de Francisco. Viviam de seu trabalho, ajudando os agricultores na lavoura. Não recebiam dinheiro, mas ganhavam seu salário em gêneros necessários ao sustento e à vestimenta, tais como pão, óleo, verduras, frutas, carne, queijo, panos, capas, cobertas, etc. Dedicavam-se à oração e à exortação do povo e à penitência e à paz.
Entre os meses de março e junho de 1209, os doze companheiros se dirigem a Roma para pedir ao Papa a aprovação para aquele modo de vida. Agora, Francisco queria uma confirmação de que aquilo que ele interpretara, como inspiração por parte de Deus, era realmente uma inspiração e não apenas uma fantasia de sua cabeça. Mandou escrever uma pequena regra, que consistia em algumas opções concretas colhidas do Evangelho, que certamente eles já estavam vivendo, e apresentou-a ao Papa, pedindo que fosse confirmada. Após os questionamentos de praxe, especialmente a respeito de uma pobreza tão radical, o Papa Inocêncio III a aprovou, isto é, reconheceu que aquilo que o grupo se propunha viver era vida evangélica, portanto, inspirada por Deus.
Junto com a aprovação da regra franciscana, o Papa concedeu-lhes a licença da pregação itinerante: em qualquer cidade ou aldeia por onde passassem podiam pregar ao povo a penitência. E prometeu-lhes novos favores quando o grupo crescesse.
Pouco depois, o próprio Francisco deu ao grupo o nome de Ordem dos Frades Menores. E muitos homens pediam ingresso na recém-fundada Ordem. Provinham das mais variadas camadas sociais: ricos e pobres, nobres e plebeus, homens letrados e pessoas sem instrução, membros do clero e leigos, cavaleiros e lavradores, jovens e homens maduros, todos abandonavam seus bens para seguir o novo modo de vida evangélica. Apesar de serem provenientes de camadas sociais tão diferentes, todos viviam e se comprometiam a viver como irmãos.
Percorriam as cidades e vilas em pequenos grupos, exercendo a pregação itinerante, tentado evangelizar não somente pelas palavras, mas especialmente por seu modo de vida. Em algumas cidades eram bem recebidos; em outras, porém, eram maltratados, pois eram confundidos com os grupos de hereges, aos quais exteriormente se assemelhavam.
No ano de 1211, Francisco faz uma primeira tentativa de dirigir-se à Síria, com a intenção de anunciar aos sarracenos o Evangelho e, especialmente, de levar-lhes uma proposta de paz, visto que entre sarracenos e cristãos se desenvolvia terrível guerra - tempo das Cruzadas. Não conseguiu, pois ventos contrários não permitiram que a nave chegasse ao seu destino. Retornou à Dalmácia. Num período não bem determinado pelos historiadores, mas que pode ter sido entre 1213 e 1215, faz nova tentativa, agora tentando chegar a Marrocos, através da Espanha. Adoeceu e teve que retornar.
A Ordem dos Frades Menores desenvolvia-se em ritmo extremamente rápido. Um cardeal, de nome Jacques de Vitry, em sua Historia orientalis (Fontes Franciscanas e Clarianas, p. 1425) fala que não se encontrava cidade ou aldeia na Itália por onde os frades não tivessem passado.
Com o crescimento da Ordem, não tendo condições de acompanhar pessoalmente cada um dos frades, Francisco estruturou-a em províncias, nomeando um ministro provincial que cuidaria dos frades sob sua responsabilidade. Isso aconteceu em 1217, ocasião em que os frades foram enviados para outros países além dos Alpes, para regiões do ultramar (Síria) e, possivelmente, para a França e Península Ibérica.
No ano de 1219, depois do mês de setembro, Francisco conseguiu realizar seu sonho de ir aos sarracenos. Viu de perto os terrores da guerra entre cruzados e sarracenos, pois estivera antes no acampamento dos cruzados, aos quais aconselhou que não enfrentassem o exército do Sultão. Não querendo ouvir o conselho de Francisco, o exército dos cruzados sofreu triste derrota, perdendo num só dia seis mil homens entre mortos e feridos.
Dirigiu-se, assim mesmo, ao acampamento do Sultão, com quem teve um cordial encontro, estabelecendo com ele relações de mútuo respeito e admiração. O Sultão quis dar-lhe presentes, sinal de sua amizade, mas Francisco recusou-os, sinal de sua opção pela pobreza, o que causou maior admiração ainda ao Sultão.
Depois de não muito tempo, ao saber que a Ordem na Itália passava por alguma turbulência, Francisco resolveu voltar. Então, o Sultão deu a Francisco um salvo-conduto que lhe permitia mover-se livremente nas terras ocupadas pelos sarracenos sem ser molestado.
De volta à Itália, Francisco restabelece a Ordem. Com a saúde bastante abalada, pois sofria de várias enfermidades, nomeia Frei Pedro Cattani como seu vice, a fim de que este possa ajudá-lo na organização da Ordem. Poucos meses depois, Pedro Cattani falece, e Francisco nomeia Frei Elias, que tinha sido o primeiro provincial na Síria, como substituto de Frei Pedro Cattani. Frei Elias, homem de senso organizativo que gozava da plena confiança de Francisco, tornou-se seu colaborador de primeira linha.
Nesse período, pessoas casadas e também solteiras, homens e mulheres, queriam, de algum modo, seguir aquele modo de vida inaugurado por Francisco, sem, porém, ter que fazer parte do grupo de frades ou entrar num mosteiro. Francisco dava-lhes orientações para uma vida evangélica na família, na sociedade, sem abandonar seu estado civil e a sua profissão. Esse movimento, formado especificamente por leigos - embora membros do clero também pudessem fazer parte - começou a ser levado para todos os lugares por onde Francisco e seus frades passavam. Era conhecido pelo nome de Terceira Ordem Franciscana - hoje Ordem Franciscana Secular. A característica, desses homens e dessas mulheres, que os diferenciava dos frades que andavam pelo mundo e das monjas que viviam nos mosteiros, é a secularidade, isto é, enquanto as duas primeiras ordens faziam a consagração pelos votos de obediência, pobreza e castidade, esses homens e mulheres viviam, em suas famílias e na sociedade, com seus compromissos matrimoniais e sociais. Procuravam, sim, como os frades e as irmãs clarissas, levar uma vida simples, de caridade, de paz. Os homens não portavam armas, fato que fez com que a Terceira Ordem se caracterizasse como um efetivo movimento de paz.
Em 1223, em razão das dificuldades que a Ordem sofria por parte de alguns setores eclesiásticos, Francisco resolve pedir ao Papa um documento que desse uma garantia ao seu modo de vida. Reelaborou a sua regra de uma maneira mais sucinta e coesa, pois a que fora aprovada inicialmente, em 1209, tinha sofrido uma evolução desordenada, e apresentou-a ao Papa, que lhe deu uma bula de confirmação. Isso aconteceu aos 29 de novembro de 1223.
Ainda nesse ano, Francisco resolve celebrar o Natal de modo original. Queria contemplar com os próprios olhos o nascimento de Jesus. Pediu que organizassem um quadro vivo, e assim foram providenciadas as imagens do Menino Jesus, de Maria, de José; trouxeram o boi e o burro e celebrou-se a missa numa gruta, com muitas velas e tochas. A noite ficou iluminada, o canto de júbilo ressoou pelos vales. Afirma-se que é daí que provém a tradição das famílias cristãs de montar o presépio por ocasião das festas de Natal.
No ano seguinte, no dia 14 de setembro, festa da Exaltação da Santa Cruz, retirado no eremitério do Monte Alverne para contemplar o mistério da paixão de Cristo, Francisco recebeu os estigmas. Estando em profunda e intensa meditação, apareceu-lhe nas mãos, nos pés e no lado direito do peito as chagas da crucifixão de Cristo.
Apesar da dificuldade para andar por causa dos estigmas, Francisco não abandona a tarefa da pregação. Percorre toda a região da Úmbria e da Marca de Ancona, pregando ao povo. Não podendo mais caminhar, usava um burrinho para locomover-se de cidade em cidade.
No mês de abril ou maio de 1225, depois de uma noite de tormentos pela dor, especialmente dos olhos devido ao tracoma, uma doença contraída provavelmente no Oriente, Francisco escreveu o Cântico do Irmão Sol ou Cântico das criaturas, em que ele, mesmo não podendo mais contemplar a criação com os olhos corporais, louva a Deus por todas as belezas criadas.
No dia 4 de outubro de 1226, estando com a saúde muito debilitada, Francisco compôs ainda uma estrofe para o Cântico do Irmão Sol, chamando de irmã a própria morte. Depois, cercado pelos irmãos no leito de morte, entregou a alma a Deus.
Sua canonização teve lugar na cidade de Assis, no dia 16 de julho de 1228, portanto, menos de dois anos depois de sua morte. Após as cerimônias de canonização, o Papa Gregório IX pediu a Frei Elias que construísse uma basílica, e a Frei Tomás de Celano que escrevesse uma biografia em honra do santo.
Esse modo de vida, baseado na pobreza e na pregação itinerante, atraía não somente os homens, mas também as damas. A primeira delas foi Clara de Offreduccio.
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