AMÓS, O PROFETA DA ALTERIDADE

Amós, pastor e ovelhas, colono e profeta, está cada dia mais atual no Brasil cada dia mais emergente. Acabo de saber que os ricos do Brasil gastaram, lá fora, num único mês, mais de um bilhão de dólares. O país não está podendo, mas alguns brasileiros, sim! Para eles o atual governo é o máximo! E governo que põe grana no bolso e comida na mesa é imbatível. A oposição já deveria saber disso!(...)

Aí entra o chato profeta da alteridade. Amós não tinha absolutamente nada a ganhar com sua profecia. Enfim aparecera em Israel um profeta imparcial e não assalariado. Foi logo taxado de aventureiro. Profeta é que não era! Não aceitava o marketing do poder, nem o da oposição. Se não estava com ninguém, então não estava com Deus nem com a realidade! O de que Israel menos precisava era um profeta em cimo do muro! Mas Amós não estava nem aí! Falou o que achou que deveria falar!

Profetinha espinhento e perigoso aquele Amós. Não aderira a nenhum grupo de poder, mas era ouvido pelo povo. Nas altas esferas ninguém o considerava capaz de impacto. Além do mais, ele não repercutia muito, porque tiraram-no da mídia da época. Suas idéias eram Pessimistas, ultrapassadas e fora das novas realidades. Israel estava enriquecendo e ele não passava de um mau agourento!

Mas sua pregaçãozinha fez estragos. Não se sabe o fim que levou; se foi morto, ou se, vencido pelo cansaço, calou-se para sempre. Mas o rolo com suas mensagens foi conservado e Amós foi listado entre os profetas menores de Israel. Perdera para o jogo do poder e para a marcha inexorável da História! Só que tem que o que ele predisse aconteceu!...A riqueza passaria depressa e as conseqüências não seriam nada agradáveis. Um país com dinheiro demais, corrupção à solta e pobres eternamente dependentes de ajuda não poderia dar certo! Sucumbiria à violência institucionalizada! E Amós não era nem psicólogo, nem sociólogo, nem historiador e nem economista. Com é que ele sabia?

Viveu por volta de 750 a.C, tempo de Jeroboão II. Era do reino do norte. Seria como o caso de um profeta do Ceará ou do Maranhão que, hoje, escrevesse sobre as realidades do Brasil de agora. O reino estava sem guerras, em paz com os vizinhos, enaltecido por todos e em fase de crescimento econômico. Mas, embora os números indicassem grande prosperidade no país, os ricos continuavam mais ricos e os pobres mais pobres e a violência grassava incontida, enchendo famílias de luto e gerando órfãos e viúvas. O rico Israel estava apodrecendo internamente do câncer da corrupção e da violência. Os bandidos estavam vencendo! Não lembra o Brasil de agora?

Então, Amós que era um misto de pastor e hortifrutigranjeiro e não ganhava apoio nem do governo, nem dos religiosos, nem da oposição para falar, porque não passava de sujeito rude sem classe, começou a questionar aquela fartura que não chegava à mesa da maioria dos pobres. Amós questionou a fé e a religião dos que gastavam a rodo e nada repartiam. Usou então sua mais famosa frase: Que o direito jorre como água e a justiça seja um rio inesgotável (Am 5,24)

Foi expulso do santuário principal em Betel. Ali ele não pregaria mais! Está criando dificuldade para o relacionamento Religião-Estado! A mídia religiosa do tempo não quis ouvi-lo! Ele a acusou de estar a serviço do poder. Convenceram o povo de que ele não era profeta. E ele disse que de fato não era! Leigo, fustigou os sacerdotes que tinham tomado o partido do governo. Predisse a ruína do país em poucos anos por podridão interna. País que não reparte implode porque a injustiça é vírus que corrói suas instituições. Depois, seria fácil um povo dominá-lo.

Ai dos que recostam em leitos de marfim... (Am 6,4) dizia ele. O texto que todos os crentes brasileiros deveriam ler é dos mais fortes. Como um profetinha menor, pastorzinho ignorante e sem importância alguma, que ainda fedia à feno e a animais ousava falar contra um país e um governo que levou o país à prosperidade? Como ousava falar de crime triplo e quádruplo, se Israel estava como nunca estivera?

Pois ele falou! Criticou os juros altos, os impostos escorchantes, os que adulteravam produtos e balanças, os que se entregavam à corrupção ali mesmo, debaixo do nariz do rei e os que repartiam os bens do país entre a curriola. Naquele tempo, todo mundo preferiu calar a boca porque não se mexe com o que vai bem. Mas ele dizia que Deus sabia dos crimes que não eram publicados, porque o poder os abafava e blindava. Falou da violência das ruas e do luto das mães porque, enquanto alguns nadavam em dinheiro, o crime corria à solta e ninguém defendia os pobres. O país chorava enlutado e só se falava do crescimento econômico de Israel.

Deus não queria aquelas canções bonitas, nem o canto triunfal dos vencedores para quem tudo ia bem. Para os do campo não ia, exceto se fossem aliados do rei! Questionou as exportações e o bem estar que elas geravam só para alguns.

No capítulo sete, Amós afirma, ironicamente, que lhe alguns lhe aconselharam a não criticar o que ia bem. ( Amós 7, 12-19). Perderia a popularidade! E ele disse o famoso mote: Não sou profeta nem filho de profeta. Não passo de um pastor e de um cultivador de frutas. Mas não se calou, porque o pobre estava sendo engolido e só um pouco da riqueza da nação ia para os pobres. O resto era repartido entre os aliados do poder. Industriais, comerciantes, sacerdotes enriqueciam e a violência enchia de luto as famílias. Como é que ninguém via aquilo? Como não profetizar?

Amós foi um clássico inconformado e subversivo que não se dobrou nem ao governo, nem aos ricos, nem à oposição. Não engoliu a história da riqueza emergente. O grosso dela não ia para o povo! Anarquista? Nem tanto! Falava do que via. Mas não esperava que Israel se convertesse. Estava bom demais para que os beneficiários do poder entendessem as desigualdades crônicas do país. Profetizou entre 760 e 750 a.C. Ele e Oseias, o profeta que retomou seu discurso, bem que avisaram! Oseias profetizou por mais 20 anos. Em 722 a.C a máquina de guerra dos assírios acabou com a festança. Israel tinha perdido a capacidade de luta. Diagnóstico: vida fácil, dinheiro muito e alteridade pouca...

FONTE: PE. ZEZINHO, SCJ

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