
Nesta entrevista, padre Paulo Ricardo também aborda a necessidade de uma constante formação sacerdotal e explica quais virtudes de Cura d'Ars os padres devem tomar como exemplo a ser seguido(...)
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cancaonova.com: Qual foi o objetivo do Sumo Pontífice ao instituir o Ano Sacerdotal?
Padre Paulo: São duas realidades. A primeira é devido à celebração dos 150 anos de falecimento do Padroeiro dos Párocos, São João Maria Vianney. É uma ocasião para renovar o propósito do sacerdócio de se entregar a Deus. Mas também, diante da necessidade real e concreta da Igreja, nós vivemos uma grande crise atualmente. E a crise da Igreja não é em relação aos leigos, porque estes, de uma forma geral e fundamental, são bastante bons, pois se empenham, entregam-se e querem a verdadeira conversão.
Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, a grande reclamação são os sacerdotes, porque, infelizmente, de uns tempos para cá, a 'fumaça' do demônio entrou nos seminários por meio de ideias e ideologias que querem transformar a Igreja naquilo que ela não é, ou seja, num projeto revolucionário. Não apenas o Papa, mas a Igreja inteira está trabalhando para renovar o ministério do sacerdote e a entrega a Deus dos seminaristas. Mas isso é uma batalha espiritual, porque nós não lutamos apenas contra a carne e o sangue, mas também espiritualmente.
cancaonova.com: Como a Igreja pretende trabalhar essa nova formação?
Padre Paulo: Os documentos e as orientações da Igreja já existem, o que precisa é colocá-los em prática. Mas nós esbarramos sempre na realidade de que, uma vez que a doença já se instaurou, ela esperneia para sair. É por isso que nós precisamos também do empenho de cada sacerdote, pois cada um é convocado para crer naquilo que é. O saudoso Papa João Paulo II, numa visita que fez a um país da África, chamado Gana, disse que o primeiro compromisso de um sacerdote é crer no seu próprio ministério. Nós vemos que é exatamente isso o que está faltando, pois, muitos padres não querem ser chamados de sacerdotes; quando muito, aceitam ser chamados de presbíteros. Eles não se colocam diante da Palavra de Deus na meditação diária, na santificação pessoal. Se eles não se entregam em sacrifício a Deus, então fica difícil sustentar outras coisas, como o celibato, a fidelidade à liturgia da Igreja, à Palavra de Deus e aqui está a grande dificuldade. A falta de fidelidade do sacerdote não é apenas nesses casos de pedofilia que vemos por aí e que a mídia alardeia, mas na fidelidade concreta do dia a dia quando ele não quer celebrar a Missa da Igreja, mas a Missa da “cabeça” dele; assim como não quando quer pregar a doutrina de Deus, mas propagar ideias próprias. Então, fica um padre centrado em si mesmo.
É por isso que o Ano Sacerdotal convoca todos os fiéis da Igreja do mundo inteiro para rezarem pedindo o dom da fidelidade do sacerdote, o que é algo importantíssimo. O lema dessa iniciativa papal é este: “Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote”.
cancaonova.com: Existe, por parte da Igreja, a preocupação com a atualização da formação dos sacerdotes ordenados há muitos anos?
Padre Paulo: Sim. A Igreja, nas suas orientações, pede a todas as dioceses que se empenhem num projeto de formação permanente, porque, uma vez que o padre está ordenado, ele não está pronto totalmente. Nós somos mortais e o sacerdócio é uma tarefa dada por Deus a nós e também precisamos cumprir a tarefa de nos realizarmos como pessoa. Então, a formação permanente é algo necessário não só para o sacerdote, mas para todas as pessoas.
O primeiro compromisso de um sacerdote é crer no seu próprio ministério
cancaonova.com: Como os padres respondem a essa formação, a esse chamado a uma renovação?
Padre Paulo: Tenho visto muita generosidade, sobretudo nesta nova geração de sacerdotes que já entram [no seminário] com uma nova mentalidade. Sabemos que a geração anterior foi muito marcada por uma série de revoluções, como a Revolução Estudantil de 1978. Isso prejudicou um pouco esses jovens que ficaram com as "feridas abertas". Isso precisa ser cuidado. Não estou julgando pessoas individualmente, mas fazendo um balanço geral com relação a uma geração. No entanto, agora estamos retomando essa formação; não é uma tarefa fácil, porque estamos numa fase em que os formadores já foram formados pela geração anterior.
Muitas vezes, é o povo quem leva o próprio padre a crer no sacerdócio dele. Tenho vistos muitos padres que transformam suas vidas por intermédio do testemunho da presença dos leigos. Este Ano Sacerdotal veio em boa hora, porque nos dá armas para "combatermos o bom combate".
cancaonova.com: As famílias estão preparadas para formar vocacionados ao sacerdócio?
Padre Paulo: É difícil fazer um juízo geral. Nós sabemos que as famílias, infelizmente, são muito fragmentadas; mas nós estamos numa época em que temos de nos lembrar da Igreja no seu início. Os primeiros cristãos não tinham famílias cristãs; eles fizeram suas famílias cristãs. Eu conheço o caso de sacerdotes que, depois de ordenados, conseguiram, aos poucos, trazer suas famílias para Deus e reestruturar, dentro deles, aquilo que faltou na formação familiar.
Se esperarmos vocações apenas de famílias estruturadas, teremos muito poucas, porque, infelizmente, as famílias estão em situação muito difícil. O natural é que a vocação sacerdotal surja de uma família cristã e estruturada, mas Deus é tão generoso que as faz surgir nos lugares mais inesperados.
cancaonova.com: O Ano Sacerdotal tem início no mesmo dia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, quando a Igreja comemora 150 anos da morte de São João Maria Vianney. Quais virtudes de Cura d'Ars os padres devem tomar como exemplo a ser seguido?
Padre Paulo: Antes de tudo, o amor a Jesus. O Cura d'Ars se realizava por seu profundo amor a Jesus. Ele ficou bastante conhecido pelas muitas confissões que atendia. Ele começou o seu trabalho de joelhos, na frente do sacrário, pedindo a Deus que convertesse a paróquia dele. Foi na súplica desse santo sacerdote, que rezava pedindo a conversão de sua paróquia, que ele alcançou a graça de poder sentar-se no confessionário e atender a tantas pessoas vindas de longe para se confessar com ele.
Ao olharmos para o Santo Cura d'Ars, lembramos dessa realidade que é o centro da vida do sacerdote: a Eucaristia e a confissão.
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