“Ensinar
é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles
cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor,
assim, não morre jamais...” O escritor mineiro Rubem Alves descreveu
com propriedade o valor singular de um professor-educador...
Educar
é muito mais do que um simples ofício ou trabalho oneroso. Ao entrar em uma
sala de aula, abre-se um leque amplo de possibilidades, onde o conhecimento
cognitivo talvez seja o menos importante. Entendo o professor/a como um
construtor de valores, sonhos e saberes; uma ponte necessária entre o real e o
lúdico, o abstrato e o concreto. A própria etimologia da palavra “EDUCAÇÃO”
composta de dois termos latinos: “EX = para fora + DUCERE = conduzir”, mostra
com profundidade a importância de um educador como aquele que prepara
o educando para a vida real e concreta, com seus altos e baixos, desenvolvendo
a sua inteligência e estimulando a sua sensibilidade, dando-lhe as condições
necessárias para que ele exerça a sua cidadania e o seu protagonismo na
sociedade, sendo sujeito de sua própria história.
Educadores
são como oleiros ou escultores que revelam com extrema sutileza e habilidade a
beleza escondida por detrás das aparências. Com suas palavras e, sobretudo, com
seu olhar atento e sagaz, ele adentra a realidade complexa de cada ser humano,
questionando paradigmas, verdades, desconstruindo olhares e percepções para
despertar o que há de mais nobre na existência humana, a capacidade de amar e
de servir. A construção de uma sociedade nova, mais justa e igualitária, passa
necessariamente por essa visão corajosa e mais humana da vida.
Ao
celebrar com reverência o Dia dos Professores fico aqui refletindo sobre a real
situação daqueles que abraçam o magistério com entusiasmo e abnegação nos dias
de hoje. Além da completa desvalorização profissional a que é submetido por
parte do governo em todas as suas esferas de poder, o professor ainda é
obrigado a assumir o lugar de outras instâncias sociais, dentre elas, a própria
família. É fato que, muitas famílias hoje, TERCEIRIZAM a educação, confiando
aos professores e a escola de um modo geral, as atribuições que a elas
pertence. O profissional da educação não pode e não deve ocupar o lugar único e
exclusivo de um pai ou mãe, muito menos deve ser visto como uma espécie de
“messias” desta sociedade caótica em que vivemos.
Em tempos difíceis como
esses, de profunda crise civilizacional, as escolas tornam-se espaços vitais
para a sobrevivência da sociedade. A insustentável vida moderna nos consome,
nos mecaniza, nos faz perder a nossa essência. Podemos ver nas grandes
“necrópoles” homens e mulheres perdidos num labirinto interminável de prédios,
ruas e automóveis, olhares hostis, passos rápidos e cadenciados controlados
pelo tempo e pela lógica do mercado. O que fizeram de nós? Máquinas velozes de
aparência humana, desprovidas de emoção e sensibilidade, distantes do grande
sonho do Criador que nos criou a sua imagem e semelhança. Nascemos para o amor
e para amar sem medida, por isso somos reflexos de Deus.
Nas calçadas apertadas
dos grandes e pequenos centros, galgamos o nosso espaço todos os dias, todas as
horas, disputando sonhos, títulos, alegrias e fracassos, selva de pedras e
concretos, onde padecemos a cada instante porque nos esquecemos daquilo que
realmente importa. Somos seres atormentados pelo dilema da solidão, do
estresse, da depressão, do desamor e da falta de cuidado. A felicidade está
ali, próxima, dentro de nós, mas cegamente e inconscientemente, traçamos outros
caminhos, nos deixamos seduzir por outros encantos e luzes nos distanciando em
terras desconhecidas e obscuras. O dia brilha todas as manhãs, mas as noites
escuras continuam a atormentar alguns de nós. Multidão solitária!
Que
saudades das minhas professoras dos tempos de infância! Certamente, elas
fizeram a diferença em minha vida, me ajudaram a ver o mundo de
outra forma, com um olhar carregado de poesia e ternura, cuidaram com zelo e
amor das boas sementes que em mim foram semeadas no convívio familiar. Foi
motivado pelo exemplo e dedicação desses “grandes oleiros” da educação que me
tornei também um professor e um apaixonado pelos caminhos intricados da
educação.
Por César Augusto Rocha - Presidente do CNLB/NE I
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