A LIQUIDEZ DAS RELAÇÕES HUMANAS


Fundamentados na obra “Amor Líquido – sobre a realidade dos laços humanos” do sociólogo Zygmunt Bauman, somos convidados a refletir sobre a transitoriedade das relações humanas na contemporaneidade, principalmente, no que se refere ao relacionamento familiar. É uma oportunidade excelente para revermos as nossas concepções sobre o assunto e, se assim for necessário, reconfigurarmos a nossa maneira de viver em família e na sociedade...

Iniciemos como uma constatação: “Vivemos na era da modernidade líquida, num mundo repleto de sinais confusos, propensos às constantes mudanças, fenômeno fatal para a experiência do amor”. Nesta sociedade do descartável, onde tudo é extremamente pragmático e cheio de objetividade, os laços duradouros do amor, da ternura e do aconchego vão aos poucos deixando de existir. Na realidade, nada em tempos como esse, foi feito para durar muito tempo! Nessa dimensão, vão surgindo dois tipos de relacionamento: os chamados “relacionamentos de bolso”, práticos, sempre ao nosso alcance, daqueles que posso dispor sempre que eu achar necessário e os “relacionamentos virtuais”, que aparecem e desaparecem com a mesma velocidade das novas tecnologias, fáceis de manusear e de certa forma, descomprometidos, pelo menos no que se refere ao envolvimento presencial.

A família é a instância social mais afetada nesse processo. Segundo Bauman:

“Os lares deixaram de ser ‘ilhas de intimidade em meio aos mares’ para se transformarem em playgrounds. Nós entramos em nossas casas e fechamos as portas, e então entramos em nossos quartos e fechamos as portas. Se antes os membros de uma família estavam mais conectados de forma concreta e socializavam diretamente uns com os outros, hoje a casa se transformou em um centro de lazer em que os membros da família vivem separados em seus mundos (quarto, computador, tablet) ainda que estejam lado a lado" (pag.39)

Temos medo de nos relacionar mutuamente, de expor a nossa vida e assim, deixamos de construir uma autêntica e harmoniosa convivência humana e social. O ativismo da modernidade nos aprisiona no individualismo e fragmenta os laços familiares, transformando-nos em meros escravos do consumismo e do hedonismo. Urge a necessidade de resgatar o que faz sentido ainda na estrutura familiar, os laços duradouros de amizade, cumplicidade e amor. Um lar não pode existir como uma pensão ou centro de lazer multiuso, onde podemos viver lado a lado, mas separadamente, sem qualquer interação ou compartilhamento de ideias e de vidas.

Por que temos tanto medo de amar o próximo? Essa talvez seja a pergunta crucial. A única forma de superar a couraça de nosso egoísmo e de nossos instintos seja através da vivência concreta desse ato desinteressado de amor e compaixão por todos aqueles que estão ao nosso redor. Aí quem sabe, nossas relações sejam mais duradouras e estáveis.

Por César Augusto Rocha – Presidente do CNLB/NE I

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