O ANO DA FÉ PARA REVER "O QUE A FÉ NÃO É"

A leitura do livro – “O que a fé não é” de Mitch Finley – Loyola 2004, despertou em mim uma curiosidade particular, considerando a base religiosa da piedade e tradição popular da minha formação cristã e também da vivência pastoral.

Pelo sumário do mesmo, senti a necessidade deste aprofundamento pessoal, meditando e revendo as exigências de uma fé madura que deve ser, sobretudo, compromisso com Deus e com o outro. Somente “com o olhar da fé podemos ver o rosto humilhado de tantos homens e mulheres de nossos povos e, ao mesmo tempo, sua vocação à liberdade dos filhos de Deus, à plena realização de sua dignidade pessoal e à fraternidade com todos” (DA nº 32)...

Na provocação do autor: “a fé tem uma natureza instigante. Sua fé – seu relacionamento com Cristo – empurra-o, cutuca-o o tempo todo, para ser mais e melhor, para ser mais clemente, mais paciente, mais compassivo, mais corajoso. A sua fé incita-o a ser mais amoroso, esperançoso e alegre do que seria de outra maneira”; nas palavras de Santa Terezinha do menino Jesus, esta “fé em Deus faz crer no incrível, ver o invisível e realizar o impossível”.

Por isso, o itinerário espiritual, pessoal e comunitário necessita de uma consciente retomada desta necessidade de busca profunda da maturidade e pertença da fé.

Neste sentido, estamos diante de um tempo favorável – O Ano da Fé (outubro/2012 a novembro/2013) – como parte das comemorações dos 50 anos do Concilio Vaticano II e os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica.

Em todos os momentos, somos tentados a perder a sensibilidade religiosa, passando a viver a fé com sentimento de fragilidade e precariedade, resultante de uma ausência de espiritualidade permeada da profunda intimidade com Deus.

Esta experiência de descuido, conflito e aridez não são coisas novas, muitos na história da espiritualidade vivenciaram o drama da “noite escura” ou penumbra da fé no seguimento do Mestre Jesus.

Portanto, o ano da Fé deve ser “celebrado de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem consciente e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está vivendo. Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado, nas catedrais e nas Igrejas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre” (Porta Fidei, n. 8)

Logo, a proclamação deste Ano da fé, convocado pelo Papa Bento XVI, tem como objetivo o aprofundamento, a revisão, a proclamação e a nova conversão com um reavivamento de toda ação missionária. A intenção pastoral na convocação de todos para bem celebrar e vivenciar o Ano da fé leva-nos, sobretudo, a redescobrir a beleza e exigência de uma fé viva e compromissada, calcada na esperança e na proclamação do tempo da graça do Senhor em todas as nossas relações. Como afirma a Carta de Tiago: “... a fé, se não tiver obras, está completamente morta. (...) Mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras” (Tiago 2, 17. 18b).

No dinamismo pastoral deste ano da fé, temos que saber apostar no “... processo de educação e amadurecimento na fé como resposta de sentido e de orientação da vida e garantia de compromisso missionário” (DA nº 446d).

Por Dom Benedito Araújo - Bispo de Guajará Mirim (RO)



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