O Natal se aproxima e com ele a possibilidade de renovarmos as esperanças e a dimensão sagrada que existe em cada um de nós, muitas vezes adormecida ou soterrada pelas cinzas do consumismo e do materialismo. Só o nascimento do Filho de Deus mesmo para transformar este mundo caótico, mesmo que por alguns poucos dias(...)Tudo ou quase tudo se transfigura neste tempo mágico! Os olhares, os gestos, o cinza que antes marcava os nossos dias sombrios de correria e trabalho assume um colorido vivo, contagiante e fulgurante. Adoro Natal porque ele me faz acreditar um pouco mais na humanidade, apesar de tanta propaganda contrária, ele me faz respirar um ar diferente, menos individualista e mais impregnado de solidariedade.Na pequena e grandiosa Camocim, uma das muitas cidades interioranas desse imenso Brasil, ainda se consegue vislumbrar o verdadeiro Natal em família. Nos alpendres e varandas costumeiramente presenciamos aquelas rodas de conversa onde o tempo parece parar ou mesmo nem existir. Na alegria do reencontro, dos que moram longe ou perto, experimenta-se a luz do menino Deus que continua nos ensinando o verdadeiro sentido do verbo amar. O Natal é a festa do encontro, da aliança, da imersão de Deus na história. Com a encarnação, não é só Maria que engravida, mas toda a criação torna-se grávida de Deus. Toda a natureza, que antes era reflexo do criador, torna-se agora um imenso sacrário porque penetrada pela presença do Verbo.
Há aqueles que tentam encobrir o grito do universo que anuncia tempos novos, profetizado tantas vezes. Para que o verde desabroche, é necessário que a terra se abra; para que a justiça e a paz floresçam, é necessário que os corações se abram. Natal é o apelo para que relações novas fundadas na justiça, no respeito, na solidariedade e na fraternidade possam emergir entre ricos e pobres, patrões e funcionários, professores e alunos. Ele não deve ser um momento, um dia, uma noite na nossa vida, mas deve ser o nosso viver diuturno, nosso esforço de todas as horas, o nosso sonhar permanente!
Saindo pelo sertão nestes dias, temos a sensação de angústia, de tristeza: plantas ressequidas, riachos e açudes secos, gado magro, terra estorricada, semblante interrogativo e angustiado de nossos camponeses.
Chegando a chuva, o milagre se opera: o deserto se transforma em oásis, as árvores mortas ressuscitam, os rios voltam a correr, o pasto brota e a interrogação sombria dá lugar ao sorriso alegre. As relações entre homem e natureza se reanimam. Natal é a chuva benéfica para toda a terra, para todo o universo. A presença do Verbo no mundo, penetrando no coração do homem, fará correr a justiça como uma torrente, o deserto se transformará em vergel, o fruto da justiça será a paz e o "meu povo habitará em moradas de paz" (Is 32, 15)
Feliz Natal e um próspero ano novo!!
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