REFLEXÃO DOMINICAL - Mt 4, 1-11 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

-QUARESMA – A quaresma, palavra que vem do latim “quadragésima”, tem por fim comemorar os quarenta dias de Jesus no deserto.

-JESUS FOI TENTADO POR SATANÁS?

A pergunta é inevitável: “Como Jesus podia ser tentado, se não tinha pecados?”(...)

-Para responder a essa pergunta, temos que nos lembrar que em Jesus havia duas naturezas: a divina e a humana. Como homem, ele foi igual a todo ser humano, exceto no pecado. As tentações acompanham toda pessoa humana. E não é só o homem pecador que as tem. Os santos também as tiveram. Por isso Jesus passou por elas e não foi só dessa vez. Pedro, a certa altura, ouvindo que Jesus ia a Jerusalém onde ia ser condenado, quis fazê-lo desistir desse intento. Significa dizer que Pedro quis demovê-lo de cumprir a sua missão de salvador da humanidade. Pedro, então, foi pedra de tropeço para Cristo para não dizer que ele foi tentador. Noutra ocasião, depois da multiplicação dos pães, o povo tentou aclamá-lo rei e, assim, demovê-lo da ignomínia da cruz. Foi outra tentação para Jesus. Esse fato nos ensina que sofrer tentação não é desdouro para nenhum mortal. O que é desdouro é ser vencido pela tentação.

-COMO SE APRESENTOU O DEMÔNIO PERANTE JESUS?

Para tentar o Homem-Deus, o demônio tomou a forma humana. Jesus ficaria assim mais à vontade, mais homem, e podia cair com mais facilidade. Essa era a mentalidade do demônio. Que satanás se apresentou a Jesus na forma humana é consenso entre os exegetas (os interpretadores da Bíblia). A opinião mais seguida também é que as tentações se passaram todas no deserto. Não houve locomoção de Jesus até o monte nem até o pináculo do templo. Aí houve uma influência externa do tentador sobre a fantasia de Jesus para que ele descortinasse as cúpulas douradas dos palácios reais e sentisse a vertigem de pular do ponto mais alto do templo.

-“Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites."

A repetição do nome “quarenta” mostra o significado profético desse número. Ele está em toda fase de acrisolamento e purificação em preparação a algo que acontece na vida de personagens bíblicos. Os judeus passaram quarenta anos no deserto quando também foram tentados, antes de entrarem na Terra Prometida. Moisés passou quarenta dias no monte Sinai antes de receber as tábuas da lei. Abraão passou quarenta dias e quarenta noites de jejum no caminho para o monte Horeb, antes de sacrificar o seu filho Isac.

-“Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.”

Esta expressão “Se és o Filho de Deus” é escarnecedora e mostra a intenção do demônio de provocar em Jesus uma revolta a partir do estado humilhante de privação em que se encontrava depois de quarenta dias de jejum. A mesma provocação usaram os transeuntes de Jerusalém que passavam pela frente da cruz e exclamavam: “Salva-te a ti mesmo, se és o Filho de Deus, e desce da cruz.” (Mt 27,40). Por aí se observa a sagacidade do demônio, contra a qual é preciso estar a postos.

-AS TENTAÇÕES SOFRIDAS POR JESUS SÃO CONHECIDAS NOSSAS E PODEM NOS ACOMETER AINDA HOJE – Senão vejamos:

-A primeira tentação: “Manda que estas pedras se transformem em pães.”

Trata-se do desejo do homem de querer ser Deus. Isso acontece:

-Desde o Gênesis: “Deus sabe que , no dia em que dele (fruto) comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses.” (Gn 3,5)

-Na mitologia grega: Alguém fabricou para si umas asas, colou-as ao corpo com algo parecido com cera e precipitou-se de um penhasco. Mas o sol derreteu a cera e o homem despencou lá de cima.

-Ainda hoje: O homem brinca de ser Deus, tentando criar a vida nas provetas de seu laboratório.

-A segunda tentação: “Lança-te daqui abaixo...e eles te levarão nas mãos...”

Trata-se da OSTENTAÇÃO. Isso acontece:

-Desde o Gênesis: “Vós sereis como deuses, versados no bem e no mal.” (Gn 3,5)

-Ainda hoje: Quando alguém,por um motivo ou por outro, às vezes de maneira desonesta, pega num bolão, compra logo uma mansão com piscinas e torneiras cobertas a ouro.

-Terceira tentação: “Eu te darei tudo isso se te ajoelhares diante de mim...”
Trata-se do DELEITE pela riqueza, pelo dinheiro, pelo ouro. Supõe-se que o tentador tenha posto à vista de Jesus as abóbodas rutilantes dos palácios onde o brilho do ouro faiscava ao brilho inclemente do sol da Palestina. Isso acontece:

-Ainda hoje: Nós conhecemos ou já sentimos esse prazer de olhar ou apalpar as jóias ou contar o dinheiro. Lemos no livro “Memórias de Maria Moura” de Rachel de Queiroz em que a personagem Maria Moura abre a botija onde guarda as moedas de ouro e trancelins tomados pelas estradas e ficava horas perdidas engolfada no prazer de acariciá-los e olhá-los avaramente.

-A CONCLUSÃO para esse fato é que Jesus quis sentir no corpo e na alma as mazelas e as fraquezas do homem. “Quis penetrar no drama da existência humana, atravessá-lo até seu último fundo” (Bento XVI in “Jesus de Nazaré” pag. 40). Também parece-nos que Jesus não quis deixar que nenhum homem jamais pudesse dizer pela vida afora que sofrera mais do que ele.

CONCLUSÕES:

O episódio das tentações de Jesus deixa lições para nós:

Primeira: NÃO ALONGAR A CONVERSA COM O TENTADOR. Jesus retruca de maneira firme e decidida. Não devemos deixar-nos envolver pelo engodo com que suas palavras podem nos enlaçar. O mau pensamento deve ser interrompido no meio e prontamente.

-Segunda: PÔR-SE SEMPRE AO AMPARO DA PALAVRA DE DEUS. Jesus confronta o tentador sempre com um trecho da Sagrada Escritura.

-Terceira: DEIXAR-SE GUIAR PELO ESPÍRITO SANTO PEDINDO A AJUDA DO ALTO.

Por Francisco Valmir Rocha - Membro da Pastoral Bíblica de Camocim/CE

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