SOBRE PRESÉPIOS, ESTRELAS E OUTROS NATAIS

Pobres e humildes, Maria e José trazem o espírito de simplicidade e da pobreza que contradizem o ideal novo de Natal, com suas bolas e enfeites coloridos e flocos de neve a riscar o ar, à moda das ruas de Nova Iorque, sem o requinte que se espera de um dos momentos mais especiais do ano, transformado e deformado após tantos modismos(...)



Imaginemos o clima seco e árido da Galileia, que esfriava bastante à noite, chegando quase a gelar; a paupérrima cidade de Belém, esquecida até pelos judeus da época; o casal sem teto e sem acolhida, tendo de se virar para esquentar o recém-nascido numa humilde manjedoura, dividindo o espaço com bois, vacas e cabras. Olhemos para a simplicidade de Maria e José, igualmente pobres e igualmente simples, atraídos pela luz do Cristo que age no escondimento da fé para espalhar a Boa Nova na pequena-grande Graça do Seu nascimento. O Natal de hoje não traz mais essa realidade, nem mesmo presépios são tão comuns hoje quando antes. O Papai Noel serve para tapar nossos olhos a essa Luz com sua imensa barriga e sua inconfundível roupa vermelha, cortês o suficiente para fazer as crianças esquecerem quem é realmente importante nessa época do ano e propaganda ideal para vender de perus gordos a máquinas de lavar. Vive-se a ignorância da clássica ideia de perdão e caridade para o aumento da fantasia do consumo, enquanto que a pequena chama da esperança Naquele que vem se esvai na nossa indiferença e desorientação.


"(O Verbo) é a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu" (Jo 1, 9-10). As palavras de João são, infelizmente, realidade triste para nós, cristãos, que vemos o momento do Natal se transformar numa momentânea celebração de valores superficiais e opacos, estalando em corações que já não se inflamam com a Vida em plenitude que vem até nós como ensinamento de amor. Cristo ilumina a nossa humanidade quando assume, Ele mesmo, o ser homem, para comprovar a ação da Sua imensa Misericórdia sobre as nossas fraquezas e sobre a nossa desesperança. A Igreja olha, com especial louvor, para a cena tocante de Belém, querendo ela também ser humilde e pura para acolher com sinceridade essa Graça singular, quando Jesus invade nosso coração e arrebata-nos à intimidade com Deus, inserindo-se no tempo. E, como não reconhecemos mais o seu singelo olhar na insossa comemoração do Natal, ele perde a sua razão de ser para nós, transformando-se em mera festividade passageira, que nem sequer inspira a contento a comunhão e a paz.



Infelizmente, o Natal está se tornando uma deslumbrante exaltação da nossa superficialidade em detrimento da essencial acolhida do mistério de Deus. Enquanto nos detivermos em vivenciar essa pobre visão de celebridades a brilharem de forma espetacular, pelo gosto da brincadeira e da polêmica, estaremos perdendo o que se esconde na nossa fé e que está bem guardado no íntimo de nós: Deus que nasce e que se faz pobre. Sua Glória, que ilumina nossa vida tão chagada pela covardia e pelo apego às nossas fraquezas, não necessita, para ser plena de bênçãos para nós, de enfeites outros que não a nossa pura e simples acolhida, e é presente na humilde presença do Menino-Deus ignorado por muitos mas substancial em Sua grande pequenez. Repito, então, com ardente fervor, a verdade dita por João: "Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou"(Jo 1, 18).


A sensação que eu tenho é que a cada ano parece que tudo se repete de uma forma mecânica, sem sentido. Todos os anos somos inundados a viver este tempo com um profundo sentido materialista. Nas reportagens da televisão a única coisa falada é o aumento das vendas nas lojas, pois o povo está comprando mais e é necessário pesquisar os preços. Tentam transformar uma festa cristã em um acontecimento pagão.


Mas qual deve ser a atenção principal deste tempo?


Tenho a sensação que a cada dia somos convidados a viver na superficialidade duma vida que não leva a nada, ou melhor, leva à destruição da família, pois os jovens estão cada vez mais perdidos e o mundo está colocando o principal de lado.


Então, onde devemos colocar a nossa atenção? Somos convidados neste tempo a colocar a nossa atenção no Deus-Amor, que se encarnou e nasceu como um bebê indefeso para se colocar em comunhão com a vida humana, melhor dizendo, com cada um de nós!
Esse Deus encarnado tornou-se a luz que ilumina a nossa vida e que transforma a todos os que se encontram nas trevas.


Natal é esperança de um mundo novo, de uma sociedade mais fraterna que, com o nascimento de Cristo, recebe a sua verdadeira libertação, não apenas no âmbito espiritual ou transcendental, mas também das mazelas sociais que ferem a dignidade humana. Pensemos um pouco nisso e tenhamos um verdadeiro Natal!!

Por Breno Gomes F. Alves

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