ACREDITO NAS CEBS...

Acredito nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e penso que esse é o verdadeiro modelo de Igreja cristã, o que mais se assemelha àquela descrição de São Lucas nos Atos dos Apóstolos acerca da comunidade de Jerusalém. Mas o que aconteceu com essa maneira fantástica de ser Igreja? Pertence ao passado, como dizem algumas vozes insensatas? Não tem mais sentido e espaço na atual conjuntura eclesial, com dizem alguns mais conservadores? Eu respondo que não se pode calar o Espírito Santo e muito menos o brado profético de Deus. As CEBs são experiências vivas do Reino de Deus encarnadas na história humana, uma alternativa feliz de enraizar os valores da fé cristã num momento histórico determinado(...)

Elas sempre estarão vivas, em um dinamismo subterrâneo em que a seiva continua correndo e produzindo vida, a qual porém não é visível se não na vida da planta que cresce vigorosa. Apesar de vilipendiadas pelos que querem um cristianismo baseado no subjetivismo e num espiritualismo desencarnado, essas comunidades dão visibilidade a opção preferencial pelos pobres, ensinada repetidas vezes nos documentos eclesiais, mas tão esquecida pela imensa maioria dos católicos/as, que hoje estão mais preocupados com uma pretensa satisfação pessoal, quase como que uma terapia emocional, do que com a imensa maioria de excluídos/as da sociedade, frutos de um sistema político e econômico selvagem e desumano. Mas quem questiona isso nas pregações e homilias? Acho que o meu amigo Carlos Jardel, articulador das Cebs em nossa diocese, tem razão quando afirma que as proféticas pedras já sinalizam, por falta de quem ouse tocar em assuntos tão delicados.

Estamos vivendo um avanço ou um retrocesso em nossa maneira de evangelizar? Que face de Cristo estamos mostrando para a humanidade? Estamos sendo uma Igreja pautada numa pastoral de conservação ou de evangelização, como nos recomenda a Conferência de Aparecida? A constatação do saudoso Papa João XXIII se encaixa perfeitamente nesse contexto: “A Igreja está com cheiro de mofo. Precisamos abrir suas portas e janelas para que ela entre de ar novo no mundo”. Mofo de conservadorismos que obscurecem a fé, de discursos incapazes de tocar a realidade humana, de modelos piramidais e hierarcológicos que descaracterizam e inviabilizam o projeto de Jesus Cristo, enfim de uma fé puramente ligada ao templo e ao ritualismo de cerimônias frias e cansativas completamente distantes do Cristo que sofre nas periferias das pequenas e grandes cidades. Nós leigos/as, nos tornamos meros receptores de sacramentos e nos esqueçemos que nós mesmos devemos ser um sacramento vivo de Deus, sinais da Graça de Deus principalmente para os que vivem a margem da sociedade.

Acredito nas CEBs porque elas sim, são comunidades missionárias e ecumênicas, abertas ao diferente e fiéis ao projeto libertador de Jesus de Nazaré. As CEBs foram desde as origens a principal presença da Igreja no mundo popular. Ora, com a imensa migração do campo para as cidades, o mundo popular hoje em dia é principalmente urbano e a presença da Igreja nessas imensas periferias urbanas e nas favelas ou cortiços é o grande desafio para os cristãos e cristãs de boa vontade. Os pobres não frequentam muito as paróquias que não lhes oferecem um ambiente realmente popular. Querem comunidades de pobres, em que tenham a alegria de poder dizer que essa comunidade é nossa. Assim são as CEBs. Nelas, os cristãos do mundo popular não colaboram simplesmente com uma pastoral paroquial definida por outros, mas tomam iniciativas e orientam as atividades comunitárias entre eles mesmos, sempre em comunhão com a grande Igreja. Gozam da mesma liberdade que São Paulo reconhecia nas comunidades fundadas por ele.

Enfim, acredito numa Igreja de Pobres e Pequenos tão presente na dinâmica dos que são CEBs, daqueles que são capazes de perceber que a Vida é a sua maior riqueza, dos que não têm os dias sempre cheios demais para dar importância quotidiana à Palavra de Deus, dos que não estão sempre a pensar no que podem ganhar ou perder em cada opção que tenham que tomar. A Igreja dos Pobres e Pequenos é aquela em que as comunidades não querem possuir nem dominar, onde cada um está disponível para partilhar com os outros o que tem, sabe e é. Os Pobres são aqueles que não se recusam a aderir aos projetos de Cristo por medo do que possam perder ou ter que deixar em seu Nome. Os Pequenos são os que não precisam ser grandes para se sentirem felizes, porque já têm maturidade suficiente para perceber que a única grandeza verdadeira é a do Coração, porque só essa é eterna. A “grandeza” que empequenece os outros à sua volta é uma mentira, nada mais que uma pequenez aumentada até ao ponto de oprimir outros. A verdadeira grandeza é aquela que engrandece os que estão ao lado. Na Igreja dos Pobres e Pequenos todos são profundamente Ricos e Grandes, porque recupera-se o gosto pelas coisas simples e o maravilhamento pelas belezas não maquilhadas da Vida e da Criação. A Palavra de Deus e o Espírito Santo não deixam que se embruteça o Coração com a brutalidade da presunção e da vaidade.

Rogo a Jesus, o primeiro que viveu o espírito das CEBs, que renove o ardor profético de nossas comunidades e de Igreja, para que sejamos bem mais que pequenas doses de “sal da terra” , “fermento” e “grão de mostarda” neste mundo tão complexo.

Nenhum comentário :