O ESPÍRITO SANTO NOS ABRE PARA O INFINITO

Nesta festa de Pentecostes, esbarramos no maior mistério de toda a história humana. Com grande ênfase, os jornais noticiaram que os americanos conseguiram fazer uma célula viva em laboratório. Ficaram radiantes de alegria, mas o que é isso se comparado a nosso Deus criador de bilhões e bilhões de células vivas? É um mistério imenso, gigantesco de um Deus, que é Pai, que é Filho e que também é Espírito Santo. A nossa inteligência não consegue chegar, com a simples razão não conseguimos atinar. Por isso, usamos símbolos, comparações. Para as realidades muito profundas, as palavras coisais não servem. Precisamos procurar imagens que, olhadas na sua visibilidade, nos abram horizontes maiores. Para Deus-Pai e o Filho, temos uma enorme quantidade, mas hoje não é a festa deles(...)

Para o Espírito Santo, podemos começar pelo sinal da cruz. O Pai e o Filho fazem o traço vertical, enquanto o Espírito Santo sozinho faz o horizontal. O Pai e o Filho fazem descer, obviamente, de cima para baixo, e o Espírito Santo vai de leste para oeste. Isso para dizer que é amplo, que abarca toda a humanidade. Quando o sol nasce no leste e se põe no oeste, ele cobriu todo o nosso hemisfério, e depois cobrirá também o outro hemisfério. Todos os dois hemisférios são totalmente iluminados por um só movimento de leste para oeste, que é o movimento do Espírito. Ele nos é dado para que o nosso coração não fique pequeno, para que não fiquemos fechados, para que os nossos olhos se abram para os seis bilhões de pessoas que habitam esta Terra. Quando fizerem o sinal da cruz, abram bem os corações para o Espírito Santo, de ombro a ombro, de leste a oeste, e lembrem-se de que Ele é dado para todos.

A liturgia nos coloca uma enorme quantidade de títulos para o Espírito Santo, mas como o nosso tempo é curto, ficarei apenas com alguns. Um dos mais usados é paráclito, que vem do grego, a língua dos cristãos da diáspora, isto é, os que moravam fora de Jerusalém, até mesmo em Roma, onde o povão também falava grego. Era uma língua muito forte para os cristãos. E eles chamaram o Espírito Santo de "para-kletos". Para significa ao lado, junto, perto, ligado; "kaleo" significa chamado. Portanto, Espírito Santo é aquele que é chamado para estar bem pertinho de nós. É como se o Pai nos dissesse que, quando estivéssemos com problemas, não precisaríamos chamar por Ele, que estaria mais distante; nem pelo Filho, que já subira aos céus. É pelo Espírito Santo que deveremos chamar, pois Ele sempre estará ao nosso lado. Se quisermos falar com Jesus, precisaremos primeiro chamar o Espírito Santo, pois é Ele quem nos recordará o que nos falou o Filho. É Ele que nos dará inteligência, compreensão, afeto, amor, paixão. Sem o Espírito Santo, somos um galho seco, somos uma pedra gelada. É Ele que nos aquece, daí a imagem das línguas de fogo. Nós, depois da luz elétrica, do fogão a gás, não podemos entender a beleza e a importância do fogo. Precisamos imaginar aqueles recantos de nossa infância, e mesmo em muitos lugares no interior desse nosso Brasil, aonde ainda não chegou a eletricidade, aonde a escuridão é mais escura mesmo. Aí só o fogo pode iluminar e aquecer. Portanto, o Espírito Santo é aconchegante, reúne e agrega, como a fogueira que, nas noites frias, junta as pessoas à sua volta. Perto do Espírito Santo faz calor. O amor aquece, e o Espírito Santo é amor.

Outra imagem nos mostra o Espírito Santo como hóspede – “doce hóspede de nossa alma”. Nós estamos perdendo muito a beleza da hospitalidade. Antigamente, as casas eram maiores, a vida era mais simples. Vinham pessoas do interior visitar os parentes e eram acolhidos com festa. Cada um que chegava era uma alegria. O Espírito Santo é o grande hóspede quando o nosso coração está triste, sozinho. Ele vem falar-nos palavras suaves. Como as visitas que, geralmente, trazem um presentinho, o Espírito Santo traz presentes muito maiores, são sete os dons que Ele nos traz generosamente, sem nenhuma economia ou limite. Para Deus, o único limite é a pequenez de nosso coração e não a grandeza do seu amor. Nós somos como o recipiente que acolhe os dons de Deus. Se a nossa vasilha é grande, acolhemos muita água, mas se é pequena, pegamos apenas algumas gotas. A chuva é a mesma, que pode provocar uma inundação e encher os oceanos ou encher uma simples caneca. Depende só de nós abrirmo-nos a esse Espírito.

Há também a imagem da luz, que é muito bonita. Quando há um black-out, ficamos assustados, a escuridão nos apavora. Quando uma luz se acende, é como se a vida voltasse. Sem o Espírito Santo, nós tropeçamos na escuridão de nós mesmos, na nossa própria pequenez. Mas Ele só aquece e ilumina, só é hóspede dentro de nós quando houver quietude, serenidade. Ele não pode atuar em meio ao barulho e agitação. Seria tão bonito se nunca fôssemos dormir sem parar alguns minutos para ouvirmos o Espírito. Garanto que seríamos mais sadios psíquica e espiritualmente. Nossa alma, nossa afetividade necessita de repouso, que só encontramos no Espírito. Recolhamo-nos alguns momentos diante dessa face interior de Deus e nos disponhamos a ouví-lo. Só aí encontraremos ânimo, força, coragem, alegria para irradiarmos também paz e serenidade aos nossos irmãos. Amém.

FONTE: PE. JOÃO BATISTA LIBÂNIO - TEÓLOGO E BIBLISTA JESUÍTA

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