E OS LEIGOS/AS HOJE, COMO VÃO?

A partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), os leigos do mundo inteiro passaram a ser vistos como os grandes protagonistas da ação evangelizadora, saindo de uma postura passiva e inexpressiva para assumir sua vocação e missão na sociedade. De fato, essa consciência crítica, profética, foi pouco a pouco surgindo entre nós leigos/as, porém, começaram a surgir outros desafios no decorrer da caminhada. Poderíamos nos perguntar hoje: A estrutura eclesial, passados 44 anos, está preparada para essa atuação laical nos diversos serviços e ministérios? Em outras palavras, o trabalho dos leigos está sendo legitimado e apoiado pelo clero, de um modo geral?(...)

Na Diocese de Tianguá, felizmente, contamos hoje com um bispo dinâmico, incansável em seu trabalho missionário e apostólico e com uma visão ampla sobre a atuação dos leigos/as. D. Javier teve e tem um papel fundamental na implantação de diversos ministérios não-ordenados em todas as regiões pastorais desta Igreja particular, na setorização da diocese contribuindo para descentralizar as ações pastorais, na criação de pólos de evangelização etc. Isso é sinal abertura e incentivo. Sempre percebi o seu cuidado e preocupação com as atividades do Conselho Diocesano de Leigos/as e com a situação dos leigos de nossa diocese. Entretanto, a realidade muda um pouco quando partimos para algumas paróquias e comunidades. Ainda, nos deparamos com um modelo de Igreja muito centralizador e distante dos ventos renovadores do Concílio Vaticano II.

A formação dos leigos/as, por exemplo, é uma prioridade na Igreja atualmente. Mas, que projetos de formação estão sendo articulados em nossas paróquias para contemplar essa prioridade? Que incentivo está sendo dado ao nosso laicato para buscar essa formação aprofundada? Existem alguns sinais positivos que começam a surgir, como por exemplo, a implantação da Escola da Fé, da Escola Catequética, mas ainda muito tímidos e discretos diante das necessidades gigantescas de nosso povo. Se olharmos bem, quase sempre não contamos com a representatividade de todas as paróquias nos encontros diocesanos de formação. Todo o recurso gasto na formação dos leigos/as deve ser entendido como um investimento prioritário na própria Igreja. Vemos hoje, com tristeza, alguns agentes de pastoral enfrentando as maiores dificuldades, principalmente de ordem financeira, para poderem participar de encontros e reuniões. Situação incômoda que não deve acontecer, já que o trabalho do laicato é completamente voluntário.

Por outro lado, percebemos o descomprometimento de uma parcela de nossos leigos/as nos trabalhos que lhes são confiados. Como cristãos e cristãs, precisamos assumir a nossa missão de evangelizadores numa postura corajosa: redescobrir o lugar e o significado de nossa vocação. Para que isso aconteça, é necessário rever e até abolir a praxe herdada da cristandade, que terminou transformando a nossa fé em mero costume, em simples e pura tradição, num ato social e banal, sem consequências maiores. Nessa revisão, não se deve excluir a necessidade de uma atuação mais profética na sociedade e menos sacramentalista.

Prestes a celebrar o Dia Nacional dos Leigos/as, somos convidados a festejar os avanços alcançados, as vitórias conquistadas mas, ao mesmo tempo, avançar para águas mais profundas. Que Cristo Rei, Senhor do Universo, nos ajude a responder ao seu chamado em todos os ambientes em que se dá nossa ação, seja no campo pessoal,comunitário ou social. Que pela nossa prática e participação eclesial incentivemos a exigência de novos ministérios, para responder com o contributo cristão aos desafios de nosso tempo.

CÉSAR AUGUSTO ROCHA

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