“O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar” (Cat, 27).A vida de Blaise Pascal foi uma confirmação literal dessas palavras que se encontram no Catecismo da Igreja Católica. Em sua vida, ele soube unir o amor pela verdade e a busca de Deus, dando testemunho de que é possível conjugar com equilíbrio e profundidade: fé e razão, piedade e ciência, amor e sensatez(...)
Num mundo onde o desequilíbrio do pecado se manifesta em todas as áreas da vida do homem: desmatamento ecológico, guerras, corrupção na política, desmoralização dos poderes públicos, intolerância religiosa, violência em diversos graus e formas... o testemunho de vida de Pascal parece oportuno para nos lembrar que o homem, que trás em seu coração o desejo de chegar à Verdade, pode e deve contar com o que o Santo Padre João Paulo II chama de “duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação” da verdade que tanto ele busca. Essas duas asas são a fé e a razão.
Nascido em Clermont, a 19 de junho de 1623, filho de um alto magistrado, homem de vasta cultura, chamado Etienne Pascal e de Antoinette Bégon, desde tenra idade deu mostras de uma extraordinária inteligência e de uma aguçada curiosidade.
Aos sete anos, após a morte de sua mãe, foi morar com seu pai e irmãos em Paris. Dedicado que era aos estudos científicos, matemáticos e físicos, seu pai preferiu que ele se dedicasse ao latim, antes de estudar as ciências e a matemática, matérias pelas quais, a exemplo do pai, nutria maior interesse. Entretanto, Pascal dedicava boa parte de seu tempo livre a estudar as disciplinas “proibidas” por seu pai, principalmente a geometria, se revelando assim um excelente e precoce autodidata.
Com apenas doze anos, Pascal descobriu sozinho as 32 primeiras proposições da Geometria de Euclides. Quando seu pai descobriu o prodígio de seu filho, ao invés de castigá-lo, deixou que ele pudesse livremente dedicar-se aos estudos que mais o interessavam, de modo a não sufocar a grande virtude da inteligência de seu filho.
Quatro anos mais tarde, Pascal, com a idade de dezesseis anos, escreveu um Tratado sobre as Seções Cônicas. Vejamos como sua irmã, a senhora Périer, narra esse período na biografia que escreveu sobre a vida do irmão: “Como [Pascal] encontrava naquela ciência a verdade, que tão ardorosamente procurava, sentia-se tão satisfeito que nela punha todo o seu espírito, e assim progredia tão rapidamente que com a idade de dezesseis anos escreveu um tratado de cones, o qual foi considerado a tal ponto excelente que afirmavam nada ter havido igual desde Arquimedes”.
Nunca tendo freqüentado um colégio, Pascal tinha como preceptor o próprio pai, com quem estudou lógica, filosofia, física.... Aos dezoito anos inventou uma máquina de calcular para ajudar seu pai a efetivar cálculos (em 1650, Pascal ofereceu essa máquina à rainha da Suécia), por volta dessa época começou a sofrer mal-estares freqüentes, que o faziam sofrer muito e iam fragilizando pouco a pouco a sua saúde.
Alguns anos depois, por volta dos vinte e dois anos, Pascal conseguiu demonstrar e confirmar as descobertas de Torricelli a respeito da pressão atmosférica.
Em todo esse itinerário, Pascal buscava a verdade e a felicidade, mas apesar de todas as vitórias e êxitos no campo da ciência, e de tudo de bom que esta oferecia, Pascal ainda não havia encontrado o que tanto procurava...
Depois da morte de seu pai, Pascal se distanciou da vida religiosa tradicional e enveredou por um caminho de distanciamento de Deus, até que na noite de 23 de novembro de 1654, ele teve uma forte experiência mística com Deus. A verdade que ele tanto procurara veio ao seu encontro. Recordando essa experiência, Pascal escreveu depois de algum tempo um memorial: “...Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu me afastei dele, evitei-o, reneguei-o, crucifiquei-o. Que eu jamais me separe dele (...) Renúncia total e doce (...) Submissão total a Jesus Cristo (...) Alegria eterna por um dia de provação na terra. Não me esquecerei de suas palavras. Amém”.
Após sua conversão, Pascal dedicou-se, com o mesmo ardor que antes dedicara à Ciência, à vida espiritual. Dedicou a partir de então a sua extraordinária inteligência aos estudos das Sagradas Escrituras e da moral cristã.
Apesar de todas as possibilidades que teria dedicando-se ao trabalho no âmbito das ciências matemáticas e físicas, Pascal decidiu-se por viver uma vida de recolhimento, oração e penitência, com o intuito de aproximar-se cada vez mais daquele por quem seu coração anelava.
Pondo-se a serviço de Cristo, Pascal entendeu por criticar na época a René Descartes que, segundo Pascal, exagerava na importância que atribuía à Ciência, ao mesmo tempo que dava pouco espaço para Deus em sua concepção filosófica racionalista.
Pretendeu mostrar que a religião cristã oferecia tantas marcas de certeza quanto as coisas aceitas no mundo como inquestionáveis ou indubitáveis. Com clareza expunha os diversos assuntos com maestria e lógica raras.
Levava uma vida pobre, humilde, austera e de prática das virtudes. Passou os últimos quatro anos de sua vida seriamente doente, acamado e sofrendo continuamente. Apesar disso, mantinha-se cordial, alegre, paciente, caridoso e ao mesmo tempo profundo em suas contínuas reflexões.
Entretanto, como todo homem sujeito a falhas, Pascal em sua boa intenção de viver e apregoar a radicalidade do Evangelho, acabou se deixando envolver pela doutrina jansenista, que mais tarde seria condenada pela Igreja como sendo herética. Mas, é bom salientar que quando o jansenismo foi definitivamente condenado pela Igreja, Pascal imediatamente parou de pronunciar-se em favor das idéias desse movimento.
Um dia antes de sua morte, solicitou a extrema-unção e o viático. O sacerdote que veio lhe trazer o sacramento final, ao entrar no seu quarto disse: “Eis Aquele que tanto desejaste”; depois de ser interpelado acerca dos principais mistérios da fé, Pascal respondeu: “Sim, Senhor, creio nisso tudo de todo o coração”, logo após recebeu o viático e chorou comovido de emoção. Suas últimas palavras foram uma verdadeira confissão de fé, daquele que soubera fazer tão bom uso de sua razão: “Que Deus não me abandone jamais”.
Entre seus pensamentos que passaram para a posteridade encontra-se um que é muito conhecido e que expressa de modo inequívoco o perfil desse homem que soube elevar-se até a Verdade pelas asas da razão e da fé: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.
Que o exemplo de Pascal nos leve a refletir e a considerar a importância e a complementaridade destes dois grandes dons que Deus nos deu: A fé e a razão, a razão e a fé...


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