
A vida de Blaise Pascal foi uma confirmação literal dessas palavras que se encontram no Catecismo da Igreja Católica. Em sua vida, ele soube unir o amor pela verdade e a busca de Deus, dando testemunho de que é possível conjugar com equilíbrio e profundidade: fé e razão, piedade e ciência, amor e sensatez(...)
Num mundo onde o desequilíbrio do pecado se manifesta em todas as áreas da vida do homem: desmatamento ecológico, guerras, corrupção na política, desmoralização dos poderes públicos, intolerância religiosa, violência em diversos graus e formas... o testemunho de vida de Pascal parece oportuno para nos lembrar que o homem, que trás em seu coração o desejo de chegar à Verdade, pode e deve contar com o que o Santo Padre João Paulo II chama de “duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação” da verdade que tanto ele busca. Essas duas asas são a fé e a razão.
Nascido em Clermont, a 19 de junho de 1623, filho de um alto magistrado, homem de vasta cultura, chamado Etienne Pascal e de Antoinette Bégon, desde tenra idade deu mostras de uma extraordinária inteligência e de uma aguçada curiosidade.
Aos sete anos, após a morte de sua mãe, foi morar com seu pai e irmãos em Paris. Dedicado que era aos estudos científicos, matemáticos e físicos, seu pai preferiu que ele se dedicasse ao latim, antes de estudar as ciências e a matemática, matérias pelas quais, a exemplo do pai, nutria maior interesse. Entretanto, Pascal dedicava boa parte de seu tempo livre a estudar as disciplinas “proibidas” por seu pai, principalmente a geometria, se revelando assim um excelente e precoce autodidata.
Com apenas doze anos, Pascal descobriu sozinho as 32 primeiras proposições da Geometria de Euclides. Quando seu pai descobriu o prodígio de seu filho, ao invés de castigá-lo, deixou que ele pudesse livremente dedicar-se aos estudos que mais o interessavam, de modo a não sufocar a grande virtude da inteligência de seu filho.
Quatro anos mais tarde, Pascal, com a idade de dezesseis anos, escreveu um Tratado sobre as Seções Cônicas. Vejamos como sua irmã, a senhora Périer, narra esse período na biografia que escreveu sobre a vida do irmão: “Como [Pascal] encontrava naquela ciência a verdade, que tão ardorosamente procurava, sentia-se tão satisfeito que nela punha todo o seu espírito, e assim progredia tão rapidamente que com a idade de dezesseis anos escreveu um tratado de cones, o qual foi considerado a tal ponto excelente que afirmavam nada ter havido igual desde Arquimedes”.
Nunca tendo freqüentado um colégio, Pascal tinha como preceptor o próprio pai, com quem estudou lógica, filosofia, física.... Aos dezoito anos inventou uma máquina de calcular para ajudar seu pai a efetivar cálculos (em 1650, Pascal ofereceu essa máquina à rainha da Suécia), por volta dessa época começou a sofrer mal-estares freqüentes, que o faziam sofrer muito e iam fragilizando pouco a pouco a sua saúde.
Alguns anos depois, por volta dos vinte e dois anos, Pascal conseguiu demonstrar e confirmar as descobertas de Torricelli a respeito da pressão atmosférica.
Em todo esse itinerário, Pascal buscava a verdade e a felicidade, mas apesar de todas as vitórias e êxitos no campo da ciência, e de tudo de bom que esta oferecia, Pascal ainda não havia encontrado o que tanto procurava...
Depois da morte de seu pai, Pascal se distanciou da vida religiosa tradicional e enveredou por um caminho de distanciamento de Deus, até que na noite de 23 de novembro de 1654, ele teve uma forte experiência mística com Deus. A verdade que ele tanto procurara veio ao seu encontro. Recordando essa experiência, Pascal escreveu depois de algum tempo um memorial: “...Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu me afastei dele, evitei-o, reneguei-o, crucifiquei-o. Que eu jamais me separe dele (...) Renúncia total e doce (...) Submissão total a Jesus Cristo (...) Alegria eterna por um dia de provação na terra. Não me esquecerei de suas palavras. Amém”.
Após sua conversão, Pascal dedicou-se, com o mesmo ardor que antes dedicara à Ciência, à vida espiritual. Dedicou a partir de então a sua extraordinária inteligência aos estudos das Sagradas Escrituras e da moral cristã.
Apesar de todas as possibilidades que teria dedicando-se ao trabalho no âmbito das ciências matemáticas e físicas, Pascal decidiu-se por viver uma vida de recolhimento, oração e penitência, com o intuito de aproximar-se cada vez mais daquele por quem seu coração anelava.
Pondo-se a serviço de Cristo, Pascal entendeu por criticar na época a René Descartes que, segundo Pascal, exagerava na importância que atribuía à Ciência, ao mesmo tempo que dava pouco espaço para Deus em sua concepção filosófica racionalista.
Pretendeu mostrar que a religião cristã oferecia tantas marcas de certeza quanto as coisas aceitas no mundo como inquestionáveis ou indubitáveis. Com clareza expunha os diversos assuntos com maestria e lógica raras.
Levava uma vida pobre, humilde, austera e de prática das virtudes. Passou os últimos quatro anos de sua vida seriamente doente, acamado e sofrendo continuamente. Apesar disso, mantinha-se cordial, alegre, paciente, caridoso e ao mesmo tempo profundo em suas contínuas reflexões.
Entretanto, como todo homem sujeito a falhas, Pascal em sua boa intenção de viver e apregoar a radicalidade do Evangelho, acabou se deixando envolver pela doutrina jansenista, que mais tarde seria condenada pela Igreja como sendo herética. Mas, é bom salientar que quando o jansenismo foi definitivamente condenado pela Igreja, Pascal imediatamente parou de pronunciar-se em favor das idéias desse movimento.
Um dia antes de sua morte, solicitou a extrema-unção e o viático. O sacerdote que veio lhe trazer o sacramento final, ao entrar no seu quarto disse: “Eis Aquele que tanto desejaste”; depois de ser interpelado acerca dos principais mistérios da fé, Pascal respondeu: “Sim, Senhor, creio nisso tudo de todo o coração”, logo após recebeu o viático e chorou comovido de emoção. Suas últimas palavras foram uma verdadeira confissão de fé, daquele que soubera fazer tão bom uso de sua razão: “Que Deus não me abandone jamais”.
Entre seus pensamentos que passaram para a posteridade encontra-se um que é muito conhecido e que expressa de modo inequívoco o perfil desse homem que soube elevar-se até a Verdade pelas asas da razão e da fé: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.
Que o exemplo de Pascal nos leve a refletir e a considerar a importância e a complementaridade destes dois grandes dons que Deus nos deu: A fé e a razão, a razão e a fé...
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