UM PASSEIO FILOSÓFICO ACERCA DE DEUS

Desde tempos imemoriais, o ser humano tenta compreender sua "gênesis" e o funcionamento da natureza, bem como as contínuas transformações do universo. Sendo ele exegeta do infinito e contemplador dos céus, sempre sentiu uma necessidade profunda de se relacionar ou de se "religar" (religião) ao transcendente, àquela força misteriosa que nos irmana a todo o cosmos e nos congrega a nós mesmos.
Ao longo de suas elucubrações, o homem primitivo começa a divinizar as forças da natureza numa explicação muito mais mágica e simplista do que racional. Através dessas arcaicas formas de religiosidade, mergulha-se no sagrado, como experiência simbólica da presença de uma potência, numa ruptura natural, operando-se um encantamento de tudo que existe na natureza e no mundo, como bem diz Marilena Chauí em sua obra "Convite a Filosofia"(...)
Assim, por exemplo, entre os polinésios, há a palavra "MANA" e os índios sul-americanos costumam usar a palavra "TUNPA" E "AIGRES".
À medida que a observação e o conhecimento humano vão se desenvolvendo, surgem tentativas mais ordenadas de explicação do universo e do absoluto. Os mitos, por exemplo, numa determinada época, constituíram a principal forma de entendimento acerca do sagrado. Tratavam-se de narrativas fantasiosas que, contadas pelos poetas-rapsodos, eram tidas como verdades indiscutíveis.
Somente com o advento de determinadas condições históricas e das grandes religiões mundiais, é que surgem ritos e argumentos mais lógicos e - por que não dizer? - "racionais", para entender DEUS. Grandes pensadores, místicos e filósofos tentaram, a seu critério, discutir essa problemática.
É possível entender Deus pela RAZÃO?
"COMPREENDER PARA CRER, CRER PARA COMPREENDER" - com essa tese, um filósofo africano dos séc. IV e V d.C. chamado Agostinho, elabora todo o seu pensamento. Para ele, ainda que as verdades de fé não sejam demonstráveis, é possível provar o "acerto" de se crer nelas. Segundo o principal expoente da Patrística, a Razão se relaciona com a Fé em dois momentos: na sua formação e na sua consequência.
Para "Blaise Pascal", filósofo francês do séc. XVII, o Deus das Escrituras, ao contrário do Deus dos filósofos, não é uma idéia da Razão. É somente pela fé e pela Graça que chegaremos ao conhecimento acerca do divino; e esta fé, segundo ele, nos advém do autoconhecimento.
"René Descartes", contemporâneo de Pascal, tenta, através do seu argumento ontológico, provar a existência de Deus, garantia última de qualquer subsistência e, portanto, fundamento absoluto da objetividade, Para ele, só admitindo, realmente, Deus, podemos explicar a existência do ser finito e imperfeito - o "eu pensante" - porém dotado da idéia de infinito e perfeição.
E hoje, nesta pós-modernidade, como entenderíamos Deus?
Será que a ciência e a tecnologia conseguiram, finalmente, aquietar o espírito humano, elucidando os grandes mistérios da vida? Apesar de tantos sinais e provas, por que ainda duvidamos da existência de uma força superior que rege o universo inteiro?
Talvez pelo fato de termos perdido aquilo que nos é mais precioso: a capacidade de sentir, a forma mais pura de ver o mundo; não nos maravilhamos mais com a visão de um céu estrelado e, com isso, não aproveitamos o melhor desta grande viagem, a paisagem da beira da estrada. Imaginamos Deus como um ser distante e estranho, nos esquecemos que Ele está dentro de nós, naquele recanto escondido e esquecido da alma humana, onde a dor e a alegria, o medo e a incerteza se confundem e se misturam com a Amor. É somente mergulhando nesta "terrenidade", abraçando o nosso húmus, que entraremos em contato com esta beleza "tão antiga e tão nova", Deus.

CÉSAR AUGUSTO ROCHA

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