"SER CRISTÃO É ANUNCIAR A ESPERANÇA AOS POBRES E DENUNCIAR OS SEUS OPRESSORES"

Que todos nós, cristãos, tenhamos consciência que o verbo lutar, no âmbito cristão, deve ser uma constância na nossa caminhada histórica. Pois, é a luta por um mundo melhor, onde a cultura da vida prevaleça, que faz com que nossa vida, tão efêmera, tenha sentido e mais ainda, agrade ao Deus da vida, que disse através do seu filho Jesus: “eu vim para que todos tenham vida”.

Num mundo marcado por tanta desumanidade, onde os pobres são tratados como coisas, relegados e maltratados, os cristãos que se dizem seguidores de Jesus Cristo, o Jesus da Galileia, não podem viver de braços cruzados, numa atitude passiva, cômoda, encastelados no seu mundinho ou somente preocupando-se em agradar a Deus com seu devocionismo ingênuo ou seu radicalismo religioso, apegando-se exacerbadamente ao moralismo, às leis humanas e a um espiritualismo vazio(...)
Viver nessa situação cômoda, seria entrar na contramão do Evangelho, que nos convoca a viver intensamente a fé de forma atuante, histórica e libertadora. Aliás, São Tiago é muito categórico ao dizer: “fé sem obras é fé morta”. O próprio Jesus disse: “Nem todos aqueles que dizem Senhor, Senhor, será salvo, mas, sim aquele que faz a vontade do meu Pai”.

Para esse tipo de cristão reacionário, acomodado, apegado a letra morta da Bíblia e possuidor de uma fé alienante, sem vínculo com o chão da história, ou seja, fé sem ação, sem compromisso histórico, descomprometido com o Reino, visando somente a vida após morte, esquecendo que o céu tem seu começo nesta vida, quando os pobres vivem com dignidade, com sua plenitude na escatologia, pesam as palavras do profeta Jesus: “Ai de vós fariseus hipócritas...”

Ora, se esta sociedade é demasiadamente marcada por tantas injustiças cometidas contra os filhos humildes de Deus, afinal, qual é a nossa missão de cristãos, que tanto afirmamos amar a Cristo? É fazer como ele fez, anunciando e denunciando, ou simplesmente reduzir a nossa fé a um espiritualismo puramente emocional, com direito a palmas, lágrimas e orações intimistas pra Jesus, apegando-se a princípios humanos ou normas jurídicas? FÉ NÃO É SÓ EMOÇÃO! Não podemos mais ficar no comodismo dos cultos embelezados, coloridos, com seus atrativos estéticos, porém vazios de sentido? Aliás, sou obrigado a confessar na condição de cristão: muitos de nós, que assumimos certa função hierárquica, quer na igreja, na comunidade, nos preocupamos muito mais com os aspectos exteriores da fé, com uma pregação desencarnada da vida e uma prática pastoral a-histórica e inócua do que com a construção do Reino de Deus.


Para muitos cristãos, que se dizem apaixonados por Jesus, o mais importante é trabalhar dia noite para fazer do templo, prédio, uma verdadeira imponência, esquecendo que o verdadeiro templo, é o Cristo presente em cada pessoa humana: “estava com fome e me deste de comer; estava com sede e me deste de beber...” E há, também, uma preocupação excessiva com o supérfluo, enquanto isso, o Cristo clama pungentemente pela boca de milhares de miseráveis: quero pão, água, roupa, casa, salário, terra, dignidade.

Não foi por acaso que Deus falou por meio do profeta Jeremias: “Se realmente melhorardes os vossos caminhos e as vossas obras, se realmente praticardes o direito cada um com seu próximo, se não oprimirdes o estrangeiro,o órfão e a viúva...então eu vos farei habitar neste lugar" (Jer 7,3ss.). Em síntese, para o Deus da vida, o Deus dos pobres, o verdadeiro culto que lhe agrada é livrar o oprimido das garras da injustiça.

Ser cristão e não ter coragem para assumir de forma incondicional, radical a luta em defesa da justiça para os pobres, não passa de mero farisaísmo, hipocrisia com direito a repreensão de Jesus: “afastai-vos de mim maldito, por que tive fome, sede, doente, nu, abandonado, injustiçado, excluído, marginalizado e não olhastes para mim”. “Ide malditos para o fogo eterno” (Mt, 25,31ss.).

Padre Djacy Brasileiro

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