REFLEXÃO DO EVANGELHO DOMINICAL - 22º DOMINGO DO TEMPO COMUM - Lc 14, 1.7-14 - ANO C

NOTAS  PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO

1      OS FARISEUS – Os fariseus eram membros de um partido religioso, que se dedicavam ao estudo e cumprimento da Lei Mosaica e das tradições dos antepassados.

O que marcava o fariseu era o apego servil às exterioridades. Enquanto exigiam do povo o cumprimento de práticas caducas, seu coração estava distante. Esse comportamento formalístico e frio, que Jesus sempre condenou, é que sempre afastava o fariseu de qualquer envolvimento espiritual e fazia-o perder os momentos de graça nos contatos com Cristo. Quando aquele líder fariseu observava Jesus (no caso da mulher mundana que perfumava os pés de Jesus) visava somente verificar se o procedimento de Jesus batia com o deles...

2      UMA REFEIÇÃO JUDIA NOS TEMPOS BÍBLICOS:

Ralph Gower nos conta como eram as refeições entre os judeus nos tempos bíblicos (no seu livro “Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos”, pags. 50 a 56 e 246). Nos primeiros tempos do Antigo Testamento, a maneira mais comum de tomar refeições era sentar-se em redor da vasilha comum sobre um tapete. Os judeus se sentavam, de pernas cruzadas, em torno da vasilha e tiravam dela a comida com um pedaço de pão, que servia de colher. “Não havia colheres, facas e garfos.  Só os ricos possuíam uma mesa, cadeiras ou divãs, como os conhecemos hoje”.

“A disposição dos lugares à mesa era extremamente importante. O hóspede principal sentava-se à direita do dono da casa e o segundo em importância sentava-se à esquerda. Os pratos maiores e melhores de comida eram dados a esses hóspedes.”
                            
Para o judeu, a “refeição” se revestia de um simbolismo muito maior que as nossas refeições de hoje . Através de uma refeição, eles se sentiam mais ligados uns aos outros. Elas eram praticadas para avivar o espírito de solidariedade entre eles. A união comum que um judeu sentia em torno de uma mesa era tão grande, que Jesus comparou, muitas vezes, o Reino do Céu com um banquete, em que o anfitrião é o próprio Deus.

- “...NÃO OCUPES O PRIMEIRO LUGAR...PORQUE QUEM SE ELEVA SERÁ HUMILHADO...”

- Naqueles tempos, havia na Palestina uma prática social que colidia frontalmente com a mentalidade de Jesus. Sem obedecer a qualquer critério como idade, cultura, merecimento, os convidados procuravam sempre, sem mais nem menos, ocupar os primeiros lugares: nas praças públicas, nas sinagogas, nos banquetes. Movidos só pelo “prestígio”, esse prestígio que é feito de superficialidades. No Reino dos Céus, dá-se justamente o contrário: “Quem quer ser o primeiro seja o último”, “vocês hão de ver as raparigas e os publicanos na frente de vocês na fila do Reino”, “há últimos que são primeiros e primeiros que serão últimos.”

Por incrível que pareça, essa prática acontece na nossa sociedade atual de maneira mais virulenta e injusta embora camufladamente. (Vide nas “Nossas reflexões para o círculo bíblico” no fim deste trabalho).
- “QUANDO TU DERES UM ALMOÇO...NÃO CONVIDES TEUS AMIGOS...CONVIDA OS POBRES, OS ALEIJADOS...” – Nos tempos de Jesus, os banquetes na Palestina apresentavam singularidades que vale a pena manifestar aqui. Eram práticas pitorescas e até risíveis. Pessoas eram admitidas dentro do recinto só para observar os convidados que comiam. O dono da casa consentia e até ficava envaidecido quando os penetras louvavam a suntuosidade do banquete. Entre esses havia pobres, aleijados etc. Foi entre eles que entrou a mulher da vida que lavou os pés de Jesus com as suas lágrimas. Os penetras podiam até participar das conversas dos convivas. Quando Jesus disse “convida os pobres, os aleijados...”, estava olhando para eles (pobres e aleijados), que ali apenas tinham o direito de sentir o cheiro das comidas.

- REFLEXÕES:
                      
A busca dos primeiros lugares, infelizmente, está entranhada, de maneira injusta e virulenta, no meio da nossa sociedade atual. Geralmente, os primeiros lugares, hoje, são determinados pela força do dinheiro que a pessoa tem. Nenhum dono de casa vai deixar um milionário no último lugar da mesa. Ninguém vai deixar um doutor no fim da fila e o doutor hoje é feito a peso de dinheiro: faculdades caríssimas, escolas particulares. Os primeiros lugares são daqueles que já são abanados pelos seus serviçais.  No Reino de Deus, importante é aquele que serve. E temos que atentar que promover os humildes para Jesus não é uma questão simples de escolha, nem de caridade. É uma questão de justiça.

- Podemos exercitar essa atitude cristã no trato com os nossos irmãos da roda do círculo bíblico. Podemos também imitar Jesus quando à porta da nossa casa aparecer um mendigo ou uma mulher que já foi da vida e que esmola o seu sustento.

- Vimos que os fariseus procuravam sempre ocupar os primeiros lugares. E nós, hoje, que lugar devemos buscar? Sem dúvida, devemos ficar com a massa dos nossos irmãos. Não devemos ficar acima deles, pairando por conta da nossa suposta sabedoria, recebendo os louvores e as ovações deles. Devemos nos perder no meio da deles, onde Cristo está.

Por Francisco Valmir Rocha - Animação Bíblica de Camocim/CE

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