IGREJA “BABÁ” OU “MÃE” DOS LEIGOS E LEIGAS?


O Papa Francisco, apesar do pouco tempo de pontificado, tem surpreendido o mundo com seu exemplo de simplicidade e com suas palavras, no mínimo desconcertantes, para aqueles que se acostumaram com um modelo de Igreja extremamente burocratizado, cheio de protocolos institucionais e distante da simplicidade dos pequenos. Antes tarde do que nunca! Acredito sinceramente que as grandes mudanças estruturais que esperamos talvez não aconteçam agora, mas pelo menos percebemos despontar aqui e acolá uma nova mentalidade, uma nova maneira de ser Igreja, aos moldes do espírito franciscano, o que já extremamente significativo...

Uma dessas pérolas ditas pelo sumo pontífice foi a seguinte: “A Igreja precisa ser Mãe e não uma simples Igreja babá, que nina a criança para dormir. Essa última é uma Igreja dormente. Pensemos em nosso Batismo, na responsabilidade do nosso Batismo." A Igreja precisa levar muito a sério essa constatação! Infelizmente, o que percebemos é que os cristãos leigos e leigas, apesar de todos os avanços na legitimação de sua vocação e missão dentro das estruturas eclesiais e sociais, ainda padecem pelo medo, pela timidez e apatia, fruto de um grave desconhecimento de sua identidade e protagonismo. É hora de agir!! Vivemos ainda sob uma espécie de penumbra, á sombra de nossos párocos e bispos, estaticamente à espera de suas próximas decisões e tarefas, sem nos dar conta das incontáveis possibilidades inerentes ao nosso campo de ação nesse mundo. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, já diz oportunamente Geraldo Vandré. Afinal de contas, somos meras ovelhas ou protagonistas nessa grande seara do Senhor??

Interessante observar o galinheiro!! Quem já teve contato com um deles, sabe o que vou falar. Uma das formas de saber quando uma galinha põe algum ovo é o seu canto imponente e rumoroso. Ela canta para avisar às demais a grande novidade que acaba de acontecer. Trazendo para a nossa reflexão, quem só permanece em berço esplêndido, em silêncio, esperando que a Igreja “babá” faça o resto, nunca conseguirá ser sujeito de sua história e o que é pior, estará cristalizando ainda mais as velhas e carcomidas estruturas clericalizadas que precisam ser extintas na Igreja.

Uma Igreja Mãe é aquela que gera filhos e filhas perfeitamente capazes de alcançar a sua maturidade na fé, que respeita e incentiva os diferentes ministérios e potencialidades dos cristãos leigos e leigas e, acima de tudo, que descentraliza as suas ações e decisões, favorecendo as pequenas comunidades. Modelos impositivos e punitivos de ser Igreja, herdados de outras épocas, devem dar lugar ao que o Concílio Ecumênico Vaticano II tanto salientou em seus documentos: UMA IGREJA DE COMUNHÃO E PARTICIPAÇÃO.

O leigo não só pertence a Igreja, ELE É IGREJA. Esse é o momento de resgatar a eclesiologia fundamental, aquela que nos irmana e nos faz, independente de cargos e títulos eclesiais, parceiros e parceiras na construção do Reino de Deus.

Por César Augusto Rocha – Presidente do CNLB/NE I

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