Preocupada com a renovação das
paróquias, a assembleia dos bispos, que terminou na última sexta, incluiu as
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) entre as iniciativas para recuperar a
presença da Igreja Católica nas áreas mais pobres, onde perde fiéis para
evangélicos...
"É um jeito de fazer com que os leigos lá
na base comecem novamente a se articular", disse d. Severino Clasen,
presidente para comissão para o laicato da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), ao defender uma CEB menos ideológica. A reportagem é de Fabiano
Maisonnave e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, nesta segunda-feira (22).
Surgidas após o Concílio Vaticano II
(1962-65), as CEBs foram impulsionadas pelo Documento de Medellín (1968) e pela
Teologia da Libertação. Ligadas ao PT e movimentos sociais, seu auge foi nos
anos 1980, em regiões pobres, com uma crítica que unia princípios cristãos a
uma ótica de esquerda.
Em meio à oposição dos papas
João Paulo II e Bento XVI, que nomearam bispos contrários à aproximação com a
esquerda, perderam força.
Para o padre Benedito Ferraro,
assessor da Ampliada Nacional das CEBs, a volta da discussão é um
reconhecimento de parte dos bispos de que a retração abriu espaço para as
evangélicas, como a Assembleia de Deus.
Hoje, diz, as CEBs são minoria
entre os grupos eclesiais na periferia. Ferraro diz que não há números precisos
sobre as CEBs, mas que elas estão presentes em todo o país.
O início da retomada das CEBs
foi em 2007, na Conferência do Episcopado Latino-Americano, onde foi aprovado
um documento cujo relator foi o bispo argentino Jorge Mario Bergoglio, hoje
papa Francisco, com trechos bastante favoráveis às CEBs.
Os elogios, porém, foram
diluídos quando o Documento de Aparecida passou por uma revisão da Cúria Romana
do então papa Bento XVI. "O modo
como aconteceu repercutiu negativamente", disse o bispo italiano de
Adriano Vasino. "Isso é um dos problemas que a Igreja está tentando
resolver, ter maior transparência em tudo."
Vasino diz que o tema continua
a dividir a CNBB entre "bispos que acreditam claramente nesse modelo"
e "outros que, por experiências negativas, resquícios, consideram as
comunidades ligadas só ao social ou a ideias descritas como comunistas".
Defensores das CEBs esperam
mais apoio do papa Francisco. Tanto por ter participado do Documento de
Aparecida quanto pela defesa de uma "igreja para os pobres" - embora
sem viés esquerdista.
A retomada, porém, não deverá
ter a mesma força de antes, avalia o ex-arcebispo do ABC, cardeal d. Cláudio
Hummes. "[As CEBs] talvez representem uma época, da ditadura militar, e
foi aí que o povo conseguiu ter voz", disse. "Em 30 anos, se faz um
longo caminho. Então eu não posso simplesmente repetir o discurso de 1980 nem a
prática de 1980 ao pé da letra."
Fonte: CNLB SUL I
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