DIA 22 DE ABRIL - DIA INTERNACIONAL DA MÃE-TERRA-SEM-MALES

Bendito seja, Senhor Deus Pai Criador, o dia da Mãe-Terra (a Pacha Mama), dos índios dos altiplanos da Cordilheira dos Andes!... Bendito seja igualmente, Senhor Jesus de Nazaré, Homem e Filho de Deus, o dia da Terra Sem Males (a Yvi Marã Hey), dos índios da planície pampeana, que são heróis e santos guarani, missioneiros, riograndenses dos Sete Povos das Missões e também brasileiros!(...)

Até quando, no Rio Grande do Sul, continuaremos se não com um Deus morto no Pampa, com um Deus semi-morto por uma cultura fajuta, dita tradicionalista que, de tradicional pouquíssimo tem, só 60 anos, ou seja de, no máximo duas gerações. Tradicionalismo criado desde a estaca zero, totalmente inventado, cultuando um farroupilhismo em cujo centro estão, em vez de heróis, autênticos vilões, escravocratas, fazendeirões, imperialistas, assassinos de índios, de quilombolas e de Sem-Terra.

Desde o início das Missões Jesuíticas na América do Sul até estes inícios do século XXI, não cessaram de martirizar e oprimir gerações inteiras de pessoas pobres. Continuam até hoje como classe hegemônica que, ainda na semana passada, se reuniram num Fórum da Liberdade aqui em Porto Alegre, em oposição às classes por eles dominadas, os Movimentos Populares, que se reuniram em Fórum Alternativo: o Fórum da Igualdade.

A própria mídia não consegue esconder o vazio do gauchismo avassalador se cultua por aí. Haja visto o jornal ZH do dia de ontem, sábado 21/04, na página cultural, a manchete: “A escravidão amarrou os farrapos ao Rio e ao Brasil,” com o sub-título explicativo “o pesquisador, historiador e brasilianista americano Spencer Leitman, afirma que farroupilhas queriam conservar os escravos e, por isso, respondiam ser republicanos independentes. Não respeitavam o homem negro.”

Não contentes em chacinar gente pobre, ultimamente essa cultura necrófila, de tradição escravocrata, centraliza seu desafeto infinito sobre a Mãe Terra e a Terra Sem Males, desmatando, desertificando, poluindo mananciais, intoxicando o solo e a alimentação, desvitalizando sementes, envenenando nossas refeições através de transgenia cancerígena, etc. etc.

Essa cultura de araque nos impede até mesmo de ver escritos nos jornais, os infinitos sentimentos de amor dos povos primitivos pelo Planeta Terra. Nossos índios queridos não só cultivavam, mas também cultuavam sua Pacha Mama e sua Terra Sem Males, transmitindo-a toda inteira e sempre com mais fervor, de pais para filhos. Hoje, nos grandes meios de comunicação, em vez de Dia Internacional da Terra (ONU), como está dito e estampado na grande imprensa, por que não “Dia Internacional da Mãe Terra ou Pacha Mama, ou então, Dia Internacional da Terra Sem Males.

Nos referiríamos no próprio instante da leitura, ao modo indígena de respeitar o Planeta, principalmente para nossa juventude tão necessitada do calor do entusiasmo, para com o projeto do Deus Criador. Entregando Deus o Paraíso Terrestre diretamente aos povos indígenas, como povos primitivos que são, isto é, os brotados do ventre de Eva, cuidaram da divina obra da criação e deles, é que herdamos o Planeta como autêntico Jardim do Éden inteiramente conservado.

Contrastar é importante porque hoje, 22 de abril é também a data famigerada do “desembarque de Pedro Álvares Cabral no Brasil”. Desde a escola primária nos fizeram engolir gato por lebre, nos ensinando que era a descoberta de uma nova Terra, como se não fossem terras inteiramente povoadas por milhões de índios das tribos mais variadas, de norte a sul do continente.

O projeto dos índios guarani era da incansável busca de uma Terra sempre e cada vez mais Sem Males e os portugueses invasores começaram neste dia em que se declararam descobridores, um projeto contrário, isto é, uma Terra em que foi implantado um sistema trazido da Europa que nada mais foi, é e certamente continuará sendo muito tempo ainda, uma terra de todos os males. O pior de tudo é que o “descobridor” batizou a “nova Terra” de Ilha da Vera Cruz, mudada posteriormente por Terra de Santa Cruz, dando a entender que seria base para uma autêntica afirmação de fé cristã. Sabemos desde sempre que a prática do império português foi de conquistar as colônias por meio da fé cristã.

O mártir popular São Sepé Tiaraju, hoje proclamado oficialmente no Rio Grande e no Brasil como herói guarani, missioneiro, riograndense e brasileiro, gritara aos quatro ventos: “Esta terra tem dono!... Ela é uma Terra Guarani!... É a Terra que Deus e seu Arcanjo São Miguel nos deixaram em herança!... Somente Eles nos podem deserdar!...”

As classes populares que representam as grandes reservas da Fé Cristã em nosso país, constituída de índios, pobres e excluídos, tão logo Sepé tombou mártir, junto à Sanga da Bica, hoje cidade de São Gabriel, canonizaram-no transformando-o em santo protetor. Por ocasião do aniversário dos 250 anos do martírio, os Movimentos Populares do nosso estado, no ano de 2006, os movimentos populares fizeram-lhe nova cerimônia de canonização popular, proclamando São Sepé como o “Empoderador do Povo” porque, na famosa segunda canonização as Mulheres da Via Campesina se empoderaram para três dias depois, às milhares invadirem a Fazenda de Barra do Ribeiro para demonstrar toda a sua revolta contra as artificiais plantações da monocultura do eucalipto em lugar de alimentos para o povo.

No mesmo Encontro Internacional do povo guarani de 2006, se empoderou também o “Levante da Juventude” que há 15 dias atrás, a fim de dar força à Comissão da Verdade no Brasil, passou a ocupar a frente das residências de torturadores país a fora a fim de chamar a atenção de amigos e vizinhos que é necessário não esquecer nunca mais as torturas oficiais do estado brasileiro infligidas à militância nacional posta a serviço dos mais fracos.

Hoje, no princípio do século XXI, sem a permanente chamada de atenção dos povos mais pobres e abandonados do mundo, pois se encontram desENTERRAdos e desTERRAdos do reino dos vivos, com as raízes de fora do seio da MÃE, em meio a lancinantes sofrimentos, quando entra ano ou sai ano, eles não nos movem de jeito nenhum à compaixão e nem à solidariedade para com suas lutas.

Neste mesmo abril, nossas Câmaras, nosso Senado, nosso poder Judiciário, estão desconstitucionalizando o país e criando legislação nova, a fim de esbulhar índios e quilombolas, de restolhos de terras tradicionais, que ainda havíamos consagrado como de sua propriedade, na última constituição, batizada como cidadã.

Até quando?... Até onde chegaremos?... A língua portuguesa tem uma palavra especial para designar o carinho que a gente deve ter para com os animais. É a palavra cordura, inteiramente diferente de ternura e de cordialidade, que são substantivos relativos ao cuidado de pessoas. Lembremos que o grande jurista Sobral Pinto, de saudosa memória, quando foi defender Luís Carlos Prestes perante a justiça brasileira, teve que chegar ao cúmulo de invocar a Lei de Proteção aos Animais, tal era o que esperava pela frente o grande militante comunista.

Pois bem, ainda não apareceu um sucessor à altura de tão grande e corajosa personalidade da Fé e do Direito de que estava revestido o advogado Sobral Pinto, a fim de ir diante dos tribunais e defender nossos índios e quilombolas com a própria lei que defende nossos animais face à miserabilidade em que se encontram? Os animais, no Brasil, infelizmente, são muito melhor tratados do que os Filhos de Deus feitos à imagem e semelhança do Homem Jesus de Nazaré, o Filho do Pai Criador da Pacha Mama e da Terra Sem Males. Por meio do Verbo ou da Palavra, diz o evangelista João, “tudo foi feito e, de tudo o que existe, nada foi feito sem Ele” (João I,3).

Escreve Antonio Cechin, irmão marista, miltante dos movimentos sociais

Autor: Antonio Cechin

Fonte: Portal do Conselho Diocesano de Leigos/as - Sul I

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