REFLEXÃO DO EVANGELHO DOMINICAL - Mt 23, 1-12 - 31º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A

-NOTAS PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO:

-OS FARISEUS – Eram membros de um partido religioso e se dedicavam ao estudo e cumprimento da Lei Mosaica e das tradições dos antepassados.

O que marcava o fariseu eram o apego e o valor que davam às exterioridades (“Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos outros.” - Mt 23, 5). Enquanto exigiam dos outros o cumprimento das leis, seu coração estava distante. Apegavam-se a detalhes minuciosos, que se tornavam um fardo para o povo(...) Os mandamentos judaicos eram um verdadeiro cipoal de normas, preceitos, uns que mandavam fazer alguma coisa, outros que proibiam fazer alguma coisa, uns que obrigavam gravemente, outros que obrigavam levemente, uns que se prendiam ao relacionamento direto com Deus, outros que eram meras questões de higiene, como lavar as mãos nas horas das refeições. Desse modo, os Rabinos (mestres nas leis judaicas) haviam relacionado 613 preceitos. Por exemplo, no dia de sábado (dia de preceito) uma pessoa só podia andar até 2000 passos (uma jornada de sábado). Se uma casa caísse sobre alguém, a vítima podia ser deixada lá dentro, se pudesse sobreviver até o dia seguinte a fim de guardar o sábado, conforme diz Ralph Gower no seu livro Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos” – pag 354.

- MESTRE DA LEI OU DOUTOR DA LEI OU ESCRIBA:

“Escriba”, palavra que quer dizer “escrevente”, era aquele judeu que se ocupava em copiar a mão os manuscritos sagrados da Bíblia, já que a imprensa ainda não havia sido descoberta. E, pelo repetitivo ato de repassar as letras sagradas, ficavam peritos nas Sagradas Escrituras. Como as leis que regiam o povo judeu estavam inseridas na Bíblia, os escribas tornaram-se também verdadeiros advogados.

Os escribas praticavam uma religião exibicionista. (“Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos outros.” Mt 23,5). Na sinagoga, eles procuravam sentar-se nas cadeiras bem da frente. Faziam longas orações com gestos espalhafatosos para ganharem a atenção. Voltados para as exterioridades e para a conquista do aplauso humano, seu coração andava distante do cumprimento da prática das leis de Deus. Por isso, eles recebem também hoje a censura de Cristo.

-“Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros.”

Os escribas e os fariseus tinham as suas características próprias, mas numa coisa eles se afinavam: exigir o cumprimento das leis de maneira fanática. Usavam do modo mais ostensivo as caixinhas quadradas contendo textos bíblicos, atadas às roupas, uma bem na testa.

Exigiam o cumprimento das leis, todas elas (os rabinos, mestres nas leis judaicas, haviam relacionado 613 preceitos) de todas as classes sociais. E cumpriam essa tarefa de maneira discriminatória, taxando de “pecadores” os que, por qualquer motivo, não as cumpriam. Pecadores, por exemplo, eram os pastores só por causa da sua profissão de andarem afastados com seus rebanhos, naturalmente muito longe do templo. Pecadores eram os curtidores de couro só por causa da ligação do couro com o sangue.

Depois, eles usavam sua função de guardiães da lei para se promoverem e, assim, se apressavam em ocupar os lugares de honra nos banquetes e no templo.

Diante dessa situação toda, desse zelo incansável pelo cumprimento dos sagrados preceitos, fica difícil justificar as palavras do evangelho de hoje pronunciadas por Cristo diante dos seus discípulos e da multidão: “...deveis fazer tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois ele falam e não praticam (as leis).”

-APLICAÇÃO DO EVANGELHO AOS DIAS DE HOJE:

Será que os fariseus e os escribas ficaram lá pelas arcadas do templo, pelas cátedras das sinagogas com suas vestes aparatosas de franjas largas? Por mais incrível que pareça, os fariseus e os doutores da lei continuam hoje, apenas com as vestimentas mudadas. Quando Cristo chamou a atenção dos seus discípulos e das multidões ao proferir esse discurso, é porque ele queria que a sua fala se estendesse pelos séculos afora até os nossos dias. Aqui, eu apenas transcrevo o que o Pe. Nilo Luza SSP diz na coluna-laranja de O Domingo deste 30 de outubro de 2011: “O alerta de Jesus é para todos. Proferimos palestras maravilhosas sobre o amor, a paz, o respeito; depois, em ambientes privados, somos grosseiros, violentos e desleais. Na comunidade somos zelosos, devotos e nos sentamos em lugares de destaque nas celebrações eucarísticas; depois, em casa, maltratamos a esposa ou não damos atenção aos filhos.”

-REFLEXÕES:

A função de coordenador de um movimento ou pastoral é tentadora para quem quer massagear o seu “ego” ou ser incensado por todos. Às vezes, o nosso grupo fica parecido com uma aula, em que só nós professoramos. Movimento frutuoso é aquele em que todos falam, porque todos sabem que o Espírito Santo sopra onde quer.

Por Francisco Valmir Rocha - Membro da Pastoral Bíblica de Camocim/CE

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