SER É ESCOLHER-SE...

Folhas de outono que caem ao sabor do vento reavivando lembranças, despertando emoções, sonhos perdidos que mais parecem fotografias de um passado que não volta mais. Essa é uma imagem poética que nos remete ao pensamento de Jean Paul Sartre (1905-1980), grande expoente da escola existencialista. Somos eternamente responsáveis pelas pequenas e grandes escolhas que fazemos ao longo da vida, o que evidentemente traz consigo uma profunda angústia, elemento próprio da condição antropológica existencial. A existência precede a essência, esse foi o ponto de partida de toda a sua filosofia(...)

Abordaremos, contudo, o tema não numa perspectiva técnico-sartreana, se assim posso chamar, mas numa ótica mais impessoal e informal. Algumas perguntas são relevantes nesse momento: O que representam para nós essas escolhas quase sempre angustiantes que fazemos ao longo da vida? Qual é o sentido da angústia e por que ela sempre nos acompanha? Cada um de nós compõe a sua própria história e destino. Somos como escultores, lapidando a pedra bruta da nossa existência com o cinzel de nossas experiências, desejos, amarguras, conquistas e sonhos. Cuidadosamente, vamos dando forma e contornos, retirando as imperfeições e arestas para que pouco a pouco surja a nossa obra prima, ou não. Tudo depende de nós! Algumas almas insensatas desistem antes de começar o nobre ofício de esculpir. São as escolhas que teremos que fazer aqui e acolá, caminhos que teremos que trilhar, palavras que precisarão ser ditas, atitudes a serem tomadas para que sejamos dignos de receber o grande prêmio: a felicidade. Felicidade que está sempre atrelada a sofrimento e angústia, porque inevitavelmente exige de nós renúncias. Somos capazes de renunciar a muitas coisas para ter uma só? Não há vitória sem sacrifícios, não há paz sem pequenos e grandes conflitos e muito menos ressurreição sem calvário – tão paradoxal e sublime é a arte de viver.

Somos essencialmente possibilidade, um repertório magnífico de alternativas. Descomplicando e aliviando um pouco do peso de nossas pesadas decisões, utilizemos como critério aquilo que nos faz sorrir, pois "o riso é sempre o melhor indicador da alma" (Dostoievski).

Temos medo da liberdade e de nós mesmos muitas vezes. Muitos não suportam esta angústia e para não assumir a liberdade, fogem dela. São homens da má-fé. A má-fé é a atitude característica do homem que não é capaz de escolher. Este tipo de homem aceita passivamente sua situação, pensa que sua vida é assim porque Deus quis e que não pode mudar seu destino. Ele aceita os valores, normas e regras da tradição passivamente sem nunca refletir sobre elas. Ele engana a si mesmo e pensa que é dono de seus atos. Sartre disse certa vez:

“Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”.

O homem é aquilo que ele mesmo faz de si, é a isto que chamamos de livre-arbítrio. Desse modo, o primeiro passo para entendermos quem realmente somos é de submeter-nos à responsabilidade total de nossa existência. A fórmula "ser livre" não significa "obter o que se quer", e sim "determinar-se a escolher". O êxito não importa em absoluto à liberdade. Um prisioneiro não é livre para sair da prisão, nem sempre livre para desejar sua libertação, mas é sempre livre para tentar escapar.

Sendo livres somos responsáveis por nossas ações consequentemente somos livres para pensar e conceber nossos próprios paradigmas, não sendo então aquilo que fizeram de nós e sim nos criando a partir do que fizeram de nós. Somos o que escolhemos ser.

Nossas vidas...nossas escolhas...

“Ser é escolher-se” – Jean Paul Sartre

Por César Augusto Rocha

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