Três palavras chaves para os novos desafios de uma pastoral urbana! A Conferência de Aparecida foi extremamente corajosa ao convocar os discípulos e missionários de Cristo a estarem antenados nos sinais dos tempos. Estar atentos às realidades sociais e culturais que nos cercam é o ponto de partida para uma evangelização mais autêntica e profética, sem tantos romantismos e mais comprometida com os pobres e excluídos da sociedade(...)
Nesse contexto, cabe aqui uma reflexão profunda sobre as nossas estruturas paroquiais, administrativo-pastorais, que precisam ser renovadas e reconstruídas para que possamos dar uma resposta mais adequada aos dilemas e questionamentos do Homem contemporâneo. A sociedade de hoje não é mais àquela de 150 ou 200 anos atrás. Novas perguntas são formuladas por este novo mundo e este novo Homem deve ter uma imensa e corajosa criatividade para conseguir respondê-las.
Onde estão os homens e mulheres que precisam ser alcançados pela Palavra de Deus, na cidade? Devemos reconhecer que o espaço construído, que chamamos de cidade, está cada vez mais segmentado em espaços de vivência nos quais a fé só pode se manifestar no particular, no pessoal. Na periferia, os símbolos religiosos lutam entre si por espaço. Já as classes médias se fecham em seus condomínios horizontais e verticais (por vezes até habitado pelas classes populares, ressalvando-se sempre as peculiares diferenças). Se no primeiro caso a Igreja luta para ocupar espaço, no outro ela é proibida de se fazer presente como um sinal visível.
Os que frequentam as nossas matrizes paroquiais e comunidades eclesiais estão se sentindo devidamente acolhidos e valorizados, distantes do anonimato ou são apenas um número sem rosto e sem nome? Nossas homilias, salvo exceções, são atraentes e inspiradoras ou visivelmente despreparadas? Os nossos movimentos e pastorais estão assumindo a sua missão evangelizadora e missionária na sociedade ou limitam-se a uma verdadeira inércia pastoral, em intermináveis reuniões que se proliferam aqui e acolá, sem nenhum trabalho efetivo na comunidade? Sem mencionar outro aspecto que merece uma reflexão ainda maior. Ainda não conseguimos caminhar pastoralmente de forma orgânica e integrada. Abandonar o "espírito de grupismo", isolamento e competitividade interna na Igreja deve ser uma prioridade absoluta se quisermos realmente avançar na evangelização. Defendemos tanto o ecumenismo e o diálogo com outras Igrejas e nos esquecemos de ser ecumênicos uns com os outros dentro da própria Igreja.
Planejamento e organização não são suficientes. Cumprir o que estabelecemos como metas em assembleias e reuniões é imprescindível. Particularmente, sinto-me angustiado com algumas assembleias que tenho participado, quase sempre infrutíferas e improdutivas. Nossos planos ou "programas pastorais" precisam ser efetivados em nossas paróquias e comunidades, para não estacionarmos em algumas discussões que sempre se repetem e nunca se esgotam. Ainda estamos distantes do vigor e da transparência que impregnavam as palavras e a missão de Jesus, embora já tenhamos avançado.
A Revista Mundo Jovem publicou recentemente um artigo intitulado "A Arte de evangelizar a cidade" sobre o fenômeno da urbanização. Segundo ela, "o fenômeno da urbanização, na verdade, colocou as pessoas numa situação de dispersão, cada um passou a pertencer a vários lugares: lugar de residência, lugar de trabalho, lugar de lazer, lugar de consumo etc, como se as pessoas habitassem espaços descontínuos e continuamente passassem de um para outro. Ora somos cidadãos, ora somos trabalhadores, ora somos clientes, ora somos paroquianos, e assim por diante. Na cidade não encontramos o sentido rural de pertença a um lugar a que corresponde uma população estável com a qual se estabelecem relações duráveis. Grande parte da organização eclesial foi organizada sobre esta coesão: uma população, um território delimitado, uma comunidade estável etc.
Esta concepção deve ser reinterpretada. Um só exemplo nos convencerá disso. Pensemos nos lugares da cidade que deixaram de ser residentes, mas que têm uma enorme densidade de pessoas em situação de trabalho. É o caso de diversas paróquias urbanas onde o comércio e os serviços foram tomando conta do espaço residencial. Será que estas paróquias “sem residentes” podem reinventar a sua forma de inserção social, tendo em vista o modo de como essa população ocupa esse espaço urbano?"
Para responder a esse e outros organismos é preciso investir em novos ministérios, numa nova linguagem e numa nova maneira de viver o cristianismo. A vocação laical é sem dúvida alguma, a ponta de lança nessa investida.
Por César Augusto Rocha - coordenador do Conselho Diocesano de Leigos/as
Com base no texto: "A Arte de Evangelizar a cidade"
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