REFLEXÃO DOMINICAL - Jo 9, 1 - 42 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

-NOTAS PARA COMPREENSÃO DO TEXTO:

A CEGUEIRA - A cegueira era muito comum na Palestina nos tempos de Cristo, motivada, às vezes, pelo próprio clima. Estava muito longe de haver os recursos para tratar da vista que nós temos hoje, de modo que só uma intervenção sobrenatural podia curar um cego: só um milagre. No entanto, mais do que o mal em si era a discriminação que fazia a pessoa sofrer. Hoje, nós temos uma designação mansa para aplicar à pessoa cega: o “deficiente físico”(...) Naquele tempo, os cegos eram tratados como “pecadores”. Achavam que o mal era aplicado por Deus como castigo dos pecados dele ou dos pais que o tinham gerado (daí a pergunta dos apóstolos no evangelho). Cegos não tinham vez e daí se compreende por que eles eram encontrados mendigando à beira das estradas. Cegos não podiam oferecer sacrifícios no templo (não podiam ser sacerdotes) e até o animal cego era rejeitado na hora do sacrifício.

-UM EPISÓDIO DRAMÁTICO: Mais do que o evangelho da Samaritana do domingo passado, o episódio da cura do cego de nascença é dramático. O capítulo nove de João traz essa particularidade. Os personagens desse drama são:

-o cego de nascença, que é o personagem principal.

-os vizinhos do ceguinho, que o viam pedir esmolas.

-os fariseus, que tinham uma cegueira pior do que a cegueira física: a cegueira da alma.

- os pais do cego , que não queriam se comprometer, são como aqueles que ainda hoje ficam em cima do muro. São os católicos cheios de respeito humano.

-as autoridades judaicas, que tinham prevenção contra Jesus, são outro tipo de cego, que não pode julgar os outros.

"Há (no episódio acima) seis cenas logicamente consecutivas; diálogo magnífico; personagens que são, sucessivamente, misericordiosos, confusos, fortes, valentões, fracos e egoístas. Desempenhando o papel principal – a ponto de roubar a cena de Jesus – está a figura fascinante do cego, corajoso e inteligente, revidando com sucesso cada golpe atirado em sua direção, E a peça se encerra com uma bela fala ( v. 41) que dá a substância da história toda.” (Veja Dianne Bergant e Robert J. Karris no livro “Comentário Bíblico” – pags. 122/123).

-O CEGO DE NASCENÇA, APESAR DE ILETRADO, É UM FERVOROSO MISSIONÁRIO:

O cego de nascença, do mesmo jeito que a Samaritana, não recebe em vão a graça de Deus. Deus começa a operar nele, mas ele não omite a sua parte (vai lavar-se na piscina de Siloé). Apesar da pouca instrução, emprega todas as suas forças e o seu entusiasmo na conquista dos outros (“Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este não viesse de Deus, não poderia fazer nada.”). Sofre perseguição por causa do evangelho, mas não cede, não muda de partido (é expulso da comunidade). Por causa disso, recebe uma segunda cura, a cura da cegueira espiritual, que o faz enxergar o Filho de Deus (“Quem é, Senhor, para que eu creia nele? Tu o estás vendo, é aquele que está falando contigo.”). O exemplo dele nos ensina que não é só a sabença e o brilho das letras que nos tornam aptos a ser missionários. O ceguinho não tinha aprendido nada, por causa mesmo da sua cegueira física, mas encontrou argumentos fortes para conquistar os outros. É desses missionários que a Igreja está precisando nos tempos de hoje.

-REFLEXÕES:

Não podemos ficar passivos ao receber a graça de Deus. Deus não pode ser para nós como alguém que fica lá de cima sacudindo as graças, o pão nosso de cada dia, as benesses, e nós aqui embaixo só aparando-os, de braços cruzados.

-Não é só com palavras bonitas e com estudo que conseguimos pregar o evangelho e conquistar o outro para Deus. Você pode ser o ceguinho do evangelho.

Por Francisco Valmir Rocha - Membro da Pastoral Bíblica

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