REFLEXÃO DOMINICAL - Jo 4, 5-42 - TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

O encontro de Jesus com a Samaritana – um comovente capítulo

-NOTAS PARA COMPREENSÃO DO TEXTO:

Samaria - Foi uma cidade construída por Omri, rei de Israel, em 880 aC, para servir de capital do reino do Norte. Construída sobre uma colina, era uma cidade muito bem fortificada(...) Tanto que agüentou o cerco dos assírios por três anos. Conquistada, enfim, em 721 aC, sofreu uma intervenção do conquistador Sargão II, que mudou a sua história. O rei deportou de lá 30.000 judeus e no lugar deles colocou colonos estrangeiros (pagãos). A adesão ao monoteísmo judeu não foi integral, parte continuou com o culto aos seus deuses pagãos. Daí veio a animosidade entre os judeus, zelosos defensores do seu monoteísmo, com os samaritanos, habitantes dessa região, que foram até taxados de “odiosos invasores semipagãos”. Então, os judeus não se comunicavam com os samaritanos e esses importunavam os peregrinos que demandavam a Cidade Santa. Daí a estranheza da Samaritana quando Jesus pediu água do seu cântaro.

-SAMARITANA, A FELIZ PECADORA – O episódio da Samaritana é dramático e comovente, talvez o mais dramático e comovente de toda a Bíblia. Pela sua feição, dá para entender que ele não saiu da pena de Mateus, o evangelista escolhido neste ano litúrgico A, mas da pena sensível de João, o discípulo a quem Jesus amava.

Dir-se-ia que Jesus mergulhou fundo no poço de sua misericórdia para pescar a samaritana. De acordo com o costume judeu e samaritano daquele tempo, “nenhum homem decente abordava uma mulher em público.” Também, “um judeu que se prezasse jamais pedia um favor a um samaritano” e “nenhum rabino perdia tempo em passar ensinamentos a mulheres.” (Vide Frei Clarêncio Neotti in Ministério da Palavra – Ano A – PAG 76). Só aí foram três camadas de preconceito que Jesus venceu. Mas Ele foi fundo, ele se fez frágil, sentou-se na beira do poço e pediu água à Samaritana, coisa que não se verifica em nenhuma outra passagem. A Samaritana, por sua vez, foi feliz por vir ao poço numa hora que não era própria das mulheres daquela redondeza. Geralmente, elas vinham em bando pela manhã ou pela tarde. Nunca ao meio-dia. A Samaritana, talvez, por ser pecadora (tinha tido cinco maridos e morava com um sexto, que não era seu marido), veio desgarrada das outras. Mas Jesus foi insinuante na sua conquista. Numa região em que água era artigo de luxo, ele prometeu uma “água viva”, que matava todas as sedes (“Todo aquele que beber desta água terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei , esse nunca mais terá sede”). Para completar, Jesus fez uma confidência que não se encontra em nenhuma outra parte dos evangelhos. Declarou claramente para a Samaritana que era o Messias, aquele que estava falando com ela.

-E A FELIZ PECADORA SE FEZ UMA MULHER MISSIONÁRIA

Saindo dali e até deixando seu cântaro na boca do poço, dando a entender que outro negócio estava fascinando sua vida, foi contar a todos os samaritanos o que tinha acontecido com ela. Só que não falava que tinha encontrado um “judeu”, mas um “homem”, “uma humana criatura”: “Encontrei um homem” (José Bertolini in “O Evangelho de João”, pag. 51). Por causa do seu testemunho, muitos samaritanos abraçaram a fé em Jesus e Ele teve que ficar ali por dois dias.

O exemplo da samaritana deve encorajar a mulher simples e mesmo de poucas letras do nosso meio a assumir o papel de missionária. Aliás, diga-se de passagem, corroborando esse pensamento, é curioso salientar que neste evangelho de hoje por 12 vezes se usa a palavra “mulher”, como bem lembrou o comentarista bíblico Frei Clarêncio Neotti no seu livro “Ministério da Palavra” – Ano A – pag. 75.

-REFLEXÕES:

O evangelho de hoje nos orienta que nem sempre são os letrados, os entendidos, diante dos quais nos enchemos de acanhamento, que devem merecer a preferência do nosso testemunho. A seara mais frutuosa e mais farta pode ser a ponta de rua, o bairro perdido em que moramos.

Por Francisco Valmir Rocha - Membro da Pastoral Bíblica

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