FESTA DA SANTA MÃE DE DEUS - Lc 2, 16-21 - ANO A

NOTAS PARA COMPREENSÃO DO TEXTO:

OS PASTORES – Os pastores, cuja imagem nós temos ainda hoje nos beduínos do deserto, eram pessoas que conduziam seus rebanhos de pasto em pasto, de aguada em aguada, como pessoas nômades.

Um pastor cuidava, às vezes, das ovelhas de vários donos.

Eles enfrentavam vários perigos, como os animais selvagens: leões, hienas e chacais. Contra eles usavam armas bastante rudimentares: o cajado, o cacete e a funda, espécie de baladeira mais reforçada. O cajado era uma vara de dois metros com uma curva na extremidade superior, que tinha várias utilidades, entre as quais um arrimo (apoio) para o pastor em terras alcantiladas. Reminiscência do cajado é o báculo dos bispos, usado nas cerimônias maiores(...)


Logo depois da estação das chuvas, havia muita pastagem e água fácil. Depois, era preciso se distanciar e ir longe. Então, não compensava voltar com os rebanhos para a aldeia e eles ficavam nos campos, tendo que vigiar durante a noite. Nesses momentos, para espantar o frio e as feras, acendiam uma fogueira. Foi aí que os foram encontrar os anjos na noite do Nascimento.

A responsabilidade dos pastores era grande. Ele tinha que restituir os animais perdidos. Tinha que pagar os animais roubados e os animais mortos por alguma fera, se não pudesse fazer prova do fato mostrando o resto do animal atacado.

Por causa da sua vida arredia e seminômade, que impedia de marcar presença no templo, os pastores eram desprezados pelos “piedosos” freqüentadores do templo e eram considerados “pecadores”.

CIRCUNCISÃO - A circuncisão era uma cerimônia religiosa seguida por judeus e muçulmanos que consistia fundamentalmente em cortar a prega que cobre a extremidade do pênis (o prepúcio).

Ela é praticada desde a era da pedra lascada. Sabemos que, nesses tempos remotos, a pedra é que servia de faca. Pelo exame das múmias, sabemos que a circuncisão era praticada no Egito desde o Antigo Império e foi, provavelmente, com os egípcios que os judeus aprenderam.

A circuncisão era uma cerimônia que se fazia para marcar a passagem do homem da adolescência para a idade adulta. Entre os judeus ela se fazia, porém, logo no oitavo dia do nascimento para seguir o que ordenava o Levítico (12,30), que dizia: “No oitavo dia, circuncidar-se-á o prepúcio do menino...” Ela era celebrada assim desde Abraão como um sinal de aliança com Deus. Quem praticava a circuncisão era o pai do menino e era nesse momento que se-lhe dava o nome.

FORAM OS PASTORES OS PRIMEIROS CONVIDADOS DO JESUS MENINO

No episódio do nascimento de Jesus, chama-nos a atenção o convite especial e direto feito por Deus aos pastores nos primeiros instantes do Nascimento. Enquanto os Reis Magos, representantes dos pagãos, recebem um convite indireto de Deus através da estrela-guia e a classe judia, que esperava um Messias glorioso, recebe um convite já através dos reis magos. Para os pastores um anjo é o mensageiro de Deus. É que os pastores, uma classe renegada no seu tempo, representava aqueles que mais necessitavam do Messias prometido. É que “esses renegados estavam prontos para o Evangelho.”(Vide Dianne Bergant e Robert J. Karris in Comentário Bíblico – pag. 77).

A pressa com que partiram para a gruta de Belém retrata, por sua vez, a satisfação dos pastores por receberem o convite preferencial do Rei. A vibração em anunciar a novidade do nascimento do Menino contagiava a todos que os ouviam (“E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam.”). Portanto, os pastores foram os primeiros anunciadores da Boa Nova, do Evangelho.

-“Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração,”

Prende-nos a humildade de Maria diante dos fatos estupendos que se passavam dentro das suas entranhas, mas a expressão “guardava todos esses fatos” estava muito longe de indicar uma passividade. Quem explica isso é Frei Clarêncio neotti in Ministério da Palavra – Ano A – Pag. 36. Guardar aqui não tem o mesmo sentido de quem guarda “uma coisa na estante, no arquivo, na geladeira. Significa transformar o que se ouviu em comportamento da gente, em vida da gente, em fé prática. A língua portuguesa tem um verbo bonito para expressar isso: ‘vivenciar’. Esta passagem tem o mesmo sentido de Lucas 8,21, quando Jesus faz um grande elogio à sua mãe dizendo: ‘Minha mãe é aquela que ouve a palavra de Deus e a põe em prática.’"

REFLEXÕES:

Tenhamos a simplicidade dos pastores, que, sem a complexidade dos estudiosos, perceberam o toque de Deus na pobreza de uma gruta e na humildade de uma família desgarrada. Esse comportamento é o chamariz para as atenções divinas.

-Hoje no Dia da Paz, vamos nos engajar entre os que combatem a violência reinante. O Pe. Nilo Luza tem um recado para nós na coluna-laranja de “O Domingo” de 01.01.2011: “A ‘violência visível’ nos assusta cada dia mais. Ela está sempre mais presente nos grandes centros urbanos e começa a se manifestar também nas pequenas comunidades do interior. Essa violência não será vencida enquanto não diminuirmos a ‘violência invisível’ praticada nas famílias, principalmente contra os mais indefesos: crianças, mulheres e idosos.”

Por Francisco Valmir Rocha - Pastoral Bíblica de Camocim/CE

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