Ao lutarmos pela paz e justiça entre os povos, precisamos lembrar nosso apelo missionário em um mundo macro-ecumênico, onde as Igrejas cristãs se descubram pascais, serviçais, livres dos acordos com as elites, desinteressadas, fiéis ao mandato de Jesus(...) Sendo esta a hora e o tempo de profeticamente denunciar um anti-Reino neoliberal do "DEUS MERCADO" e firmemente anunciar o Reino de Deus, da justiça e da paz, pois se o povo de Deus que compõe as Igrejas cristãs perderem este rumo histórico, perder-se-á o sentido do Evangelho e do próprio seguimento a Jesus.
Não podemos retroceder ou ficar à mercê da cristandade embutida dentro das mentes dos líderes religiosos, onde se determina o esquecimento das conquistas na espiritualidade, nas liturgias, na teologia e, principalmente, na vida religiosa inserida nos meios do viver popular, nas pastorais sociais e na diversidade dos ministérios proféticos dos cristãos leigos e da mulher, que deve ser respeitada em seu ministério.
Hoje vivemos dentro de um Kairós neoliberal, "a noite escura dos pobres", e podemos cair em três grandes tentações, a saber:
- a tentação de renunciar a memória e a história;
- a tentação de renunciar a cruz e a militância;
- a tentação de renunciar a esperança e a utopia"
Como diz Dom Pedro Casaldáglia, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a mundialização na qual vivemos nos empurra para uma fé idolátrica, escatológica - pois anuncia o "fim da história", consumista, privatizadora, narcisista e sem alternativas possíveis. Nega-se com isso a radicalidade do Evangelho, o compromisso com o "kairós do Reino", com a utopia. Nesta lógica substitui a ética pelo estético, se ignora os pobres renegados de Javé atirando-os à programas assistencialistas e compensatórios.
Devemos pensar que não basta cumprir os preceitos religiosos e práticas devocionais para a construção de um Reino; é preciso um compromisso de fidelidade maior com o Evangelho com projeto de Jesus, pois ser discípulo e discípula de Jesus não significa dizer "eu te amo Jesus" ou "Jesus é Dez"; é preciso ir muito mais além: tem-se que ser testemunha do Evangelho, sem negar a TRADIÇÃO da Igreja Primitiva; e, para nós aqui da América Latina, temos o testemunho dos mártires da caminhada, que nos estimulam a assumir a postura do engajamento nessa luta sem perder a mística da contemplação na gratuidade e na exigência do Evangelho, com base na ação libertadora e na espiritualidade da libertação que se enraíza nas culturas oprimidas de nossa história, herdeira do sangue de muitos que tombaram doando a vida e o sangue pelo martírio, profeticamente com corresponsabilidade eclesial e, por fim, com profundo espírito ecumênico e macro-ecumênico.
O perigo desta cultura religiosa neoliberal é o “espiritualismo” centralizador, que nos leva a cairmos numa formação dispersiva, mutilada, dicotômica, unilateral e mecanicista. A vida do ser humano é importante neste processo e ela pode ser entendida como problemática (mistério), como desafio (uma missão), um espaço (graça); assumir este espaço requer atitudes, com a finalidade de se atingir a opção fundamental na vida. Por isso devemos buscar a ESPIRITUALIDADE em uma fé cristã onde descobrimos o Deus presente no cosmo, na vida e na história da humanidade.
Na fé cristã, Deus vem morar conosco. Deus é amor gratuito, sem cobranças vazias. Assim, nossa espiritualidade é religiosa porque o Deus vivo é revelado por meio de Jesus, seu Filho, e é cristã porque somos convidados a seguir o projeto do Reino no seguimento a Jesus. O Deus de Jesus é o nosso Deus. A causa de Jesus é a nossa causa. Já dizia Paulo: "Nosso viver é o Cristo" (Fl 1,21). Jesus é nosso "pathos" - paixão -, e seu Espírito a nossa espiritualidade. Fácil então, seria entender a espiritualidade somente como sendo práticas ritualistas ou compromisso mecânico de ir a um culto ou missa, ou participar de algum evento religioso; mas isso não basta! Temos que crer e viver uma espiritualidade como algo mais comprometedor que nos engaja na luta pela vida, pelo Reino.
Precisamos entender que a espiritualidade possui a liberdade do espírito. Os espiritualismos, ao contrário, fazem com que as pessoas vejam o mundo por outro prisma. Para os cristãos e cristãs de ontem e de hoje, o importante é agir conforme o espírito do Reino tendo como eixo norteador a ESPIRITUALIDADE DO SEGUIMENTO A JESUS, tornando-a patrimônio de toda a humanidade, de todos os povos da terra, pois toda e qualquer pessoa é animada por uma espiritualidade que a contagia na caminhada quando a nutrimos com ideais de vida e, essencialmente, da experiência com o sagrado.
Assim, percebemos que fazer a experiência da espiritualidade não é algo simplesmente "transcendental", "metafísico", assim como ocorre com o crescimento universal das religiões e de comunidades alternativas (teosóficas ou recheadas de teologismo e de superstições), onde a falta de sinceridade com o projeto de Jesus promove a fixação nestas doutrinas, que estimulam a escravidão das consciências das massas, que são chamadas a tornarem-se consumidoras.
Então perguntamos: Como saber qual deve ser nossa espiritualidade?
1) devemos abrir-nos ao clamor dos pobres e de todo o povo que clama por libertação, e ao vento do Espírito "que sopra e age onde quer".
2) querer sempre "beber do poço da água viva" da esperança, ser um seguidor das lutas e da busca pelo Deus da Vida, sem nunca se deixar afogar na água suja que o mundo pós-moderno oferece.
Por Edil Tadeu P. França – Teólogo
Não podemos retroceder ou ficar à mercê da cristandade embutida dentro das mentes dos líderes religiosos, onde se determina o esquecimento das conquistas na espiritualidade, nas liturgias, na teologia e, principalmente, na vida religiosa inserida nos meios do viver popular, nas pastorais sociais e na diversidade dos ministérios proféticos dos cristãos leigos e da mulher, que deve ser respeitada em seu ministério.
Hoje vivemos dentro de um Kairós neoliberal, "a noite escura dos pobres", e podemos cair em três grandes tentações, a saber:
- a tentação de renunciar a memória e a história;
- a tentação de renunciar a cruz e a militância;
- a tentação de renunciar a esperança e a utopia"
Como diz Dom Pedro Casaldáglia, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a mundialização na qual vivemos nos empurra para uma fé idolátrica, escatológica - pois anuncia o "fim da história", consumista, privatizadora, narcisista e sem alternativas possíveis. Nega-se com isso a radicalidade do Evangelho, o compromisso com o "kairós do Reino", com a utopia. Nesta lógica substitui a ética pelo estético, se ignora os pobres renegados de Javé atirando-os à programas assistencialistas e compensatórios.
Devemos pensar que não basta cumprir os preceitos religiosos e práticas devocionais para a construção de um Reino; é preciso um compromisso de fidelidade maior com o Evangelho com projeto de Jesus, pois ser discípulo e discípula de Jesus não significa dizer "eu te amo Jesus" ou "Jesus é Dez"; é preciso ir muito mais além: tem-se que ser testemunha do Evangelho, sem negar a TRADIÇÃO da Igreja Primitiva; e, para nós aqui da América Latina, temos o testemunho dos mártires da caminhada, que nos estimulam a assumir a postura do engajamento nessa luta sem perder a mística da contemplação na gratuidade e na exigência do Evangelho, com base na ação libertadora e na espiritualidade da libertação que se enraíza nas culturas oprimidas de nossa história, herdeira do sangue de muitos que tombaram doando a vida e o sangue pelo martírio, profeticamente com corresponsabilidade eclesial e, por fim, com profundo espírito ecumênico e macro-ecumênico.
O perigo desta cultura religiosa neoliberal é o “espiritualismo” centralizador, que nos leva a cairmos numa formação dispersiva, mutilada, dicotômica, unilateral e mecanicista. A vida do ser humano é importante neste processo e ela pode ser entendida como problemática (mistério), como desafio (uma missão), um espaço (graça); assumir este espaço requer atitudes, com a finalidade de se atingir a opção fundamental na vida. Por isso devemos buscar a ESPIRITUALIDADE em uma fé cristã onde descobrimos o Deus presente no cosmo, na vida e na história da humanidade.
Na fé cristã, Deus vem morar conosco. Deus é amor gratuito, sem cobranças vazias. Assim, nossa espiritualidade é religiosa porque o Deus vivo é revelado por meio de Jesus, seu Filho, e é cristã porque somos convidados a seguir o projeto do Reino no seguimento a Jesus. O Deus de Jesus é o nosso Deus. A causa de Jesus é a nossa causa. Já dizia Paulo: "Nosso viver é o Cristo" (Fl 1,21). Jesus é nosso "pathos" - paixão -, e seu Espírito a nossa espiritualidade. Fácil então, seria entender a espiritualidade somente como sendo práticas ritualistas ou compromisso mecânico de ir a um culto ou missa, ou participar de algum evento religioso; mas isso não basta! Temos que crer e viver uma espiritualidade como algo mais comprometedor que nos engaja na luta pela vida, pelo Reino.
Precisamos entender que a espiritualidade possui a liberdade do espírito. Os espiritualismos, ao contrário, fazem com que as pessoas vejam o mundo por outro prisma. Para os cristãos e cristãs de ontem e de hoje, o importante é agir conforme o espírito do Reino tendo como eixo norteador a ESPIRITUALIDADE DO SEGUIMENTO A JESUS, tornando-a patrimônio de toda a humanidade, de todos os povos da terra, pois toda e qualquer pessoa é animada por uma espiritualidade que a contagia na caminhada quando a nutrimos com ideais de vida e, essencialmente, da experiência com o sagrado.
Assim, percebemos que fazer a experiência da espiritualidade não é algo simplesmente "transcendental", "metafísico", assim como ocorre com o crescimento universal das religiões e de comunidades alternativas (teosóficas ou recheadas de teologismo e de superstições), onde a falta de sinceridade com o projeto de Jesus promove a fixação nestas doutrinas, que estimulam a escravidão das consciências das massas, que são chamadas a tornarem-se consumidoras.
Então perguntamos: Como saber qual deve ser nossa espiritualidade?
1) devemos abrir-nos ao clamor dos pobres e de todo o povo que clama por libertação, e ao vento do Espírito "que sopra e age onde quer".
2) querer sempre "beber do poço da água viva" da esperança, ser um seguidor das lutas e da busca pelo Deus da Vida, sem nunca se deixar afogar na água suja que o mundo pós-moderno oferece.
Por Edil Tadeu P. França – Teólogo
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