
"Bustão é um pequeno reino nas encostas do Himalaia, espremido entre a China, a Índia e o Tibet. Tem apenas dois milhões de habitantes e a capital é Timfu, com 50 mil habitantes. O país é governado por um rei e por um monge budista que, coordena o judiciário. Juntos dialogam com os conselheiros, responsáveis pelo legislativo. É o único país do mundo, no qual, de acordo com a lei do Estado, o objetivo do desenvolvimento do país não depende apenas do Produto Interno Bruto (PIB), mas, principalmente, do "índice de felicidade interna". A cada ano, as pesquisas sociais não computam apenas o que o país produziu em serviços e bens de consumo, mas procuram saber se as políticas públicas foram capazes de sustentar e fortalecer no povo um "índice de felicidade interna"(L. Boff, Cuidar da Terra, Proteger a Vida, Record, 2010, p. 141).
A experiência humana mostra como a felicidade das pessoas depende de uma série de fatores imponderáveis e misteriosos. Um Estado bem organizado pode favorecer uma boa qualidade de vida nas cidades e no campo, mas não pode garantir que as pessoas sejam felizes. É claro que uma educação à solidariedade e à descoberta de valores mais profundos na vida podem ser fundamentais neste caminho. Em todo o Brasil, as diversas unidades regionais da "Universidade da Paz" e trabalhos similares têm ajudado muita gente a se encontrar e a desenvolver valores de vida mais profundos.
As novas Constituições cidadãs da Bolívia e do Equador ensinam que o sumak kawsat do povo Quétchua, ou o suma qamaña dos Aymara (o bem viver) é um objetivo social a ser perseguido pelo Estado e por toda a sociedade. Não se trata apenas de viver melhor, mas de viver dignamente e a partir da realização profunda das potencialidades da pessoa, sempre dentro da sua comunidade humana e na comunhão com a Mãe Terra e com todo o universo. O "bom viver" é realmente um jeito de viver solidário e afetuoso que respeita a individualidade das pessoas, mas ajuda cada uma a se desenvolver a partir de uma educação essencialmente comunitária e solidária. Ninguém pode ser feliz isolado. E ser feliz não depende da quantidade de objetos de consumo que se possui. Ter dinheiro pode ser útil para satisfazer necessidades básicas, mas se a sociedade as garante de forma saudável e justa, isso se torna relativo. O objetivo da construção de uma comunidade verdadeiramente integrada é o caminho da boa convivência.
No Brasil, para que possamos ter em nossa lei o direito e o dever à felicidade pessoal e comunitária, é preciso que, antes de tudo, criemos a consciência de que esta é a nossa vocação humana e espiritual. Quem é cristão deve se recordar de que o próprio Jesus declarou: "Eu vim ao mundo para que todas as pessoas tenham Vida e a tenham em abundância" (Jo 10, 10).
Por Marcelo Barros - Monge beneditino
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