A PARÁBOLA DO RICO “EPULÃO”
No domingo passado, nós falamos sobre o mau uso do dinheiro, que a riqueza pode alienar a pessoa e que o dinheiro precisa ser usado nos fins corretos, por exemplo, angariar amigos que possam nos receber nas “moradas eternas” (a esmola). Hoje nós vemos o desfecho de quem se deixa seduzir por ele e não lhe dá o uso correto. O rico Epulão vê-se em situação oposta à de Lázaro, que na terra visitava sua casa para comer as migalhas que caíam da sua mesa.
É a única parábola do Novo Testamento em que os protagonistas têm nome, diz Frei Clarêncio Neotti in Ministério da Palavra – Ano C – pag. 180. Jesus é quem deu o nome do protagonista pobre. É “Lázaro”, que no Hebraico significa “Deus ajuda”. Os leitores da parábola, por sua vez, acabaram dando um nome sugestivo ao protagonista rico. Deram o nome de “Epulão”, que significa “COMILÃO”(...)
"Lázaro", pelo estado pestilento do seu corpo (coberto de feridas), passou a denominar os leprosos. “Lazareto” passou a denominar “Leprosário” ou local de segregação e isolamento.
“RICO” x “POBRE”
- O evangelho de hoje, embora focalizando fatos de dois mil anos atrás, se aplica, com pequenas mudanças, aos dias de hoje. Ainda hoje, há ricos Epulões que se banqueteiam opulentamente. Só não fazem banquetes todos os dias, porque esse não é o costume da época. Mas, em vez disso, os ricos Epulões estão rodeados de carrões importados e piscinas paradisíacas. Na mansão deles, os Lázaros não podem entrar e sentir o cheiro da comida, porque os barões não querem ser incomodados. Também não há cachorros lambendo as feridas de Lázaro. Os cachorros estão é do lado de dentro a rangerem os dentes e a assustarem os que passam à porta. Todos os dias, vemos essas mansões nos telejornais. O segundo ato do drama, a exaltação de Lázaro, faz parte dos segredos da sepultura. Seria importante, ao menos, que os ricos senhores parassem para ouvir os Moisés e os profetas de hoje, enquanto é tempo. Também seria importante, já que estamos ás vésperas das eleições, escolher candidatos que possam melhorar a sorte dos moradores de rua, os Lázaros ambulantes, e os que morrem às portas dos hospitais porque não têm direito às cirurgias salvadoras no tempo exato que a doença exige. O profeta Amós, lá do seu esconderijo de Técoa, onde criava gado e plantava sicômoros, ainda levanta a voz para nós hoje: “Ouvi isto, vós que maltratais os humildes. Vós que andais dizendo quando passará a lua nova... e o sábado... para dominar os pobres com dinheiro, e os humildes com um par de sandálias.” (Veja primeira leitura da missa do domingo passado).
CONCLUSÕES QUE PRECISAM SER EVITADAS SOBRE O EPISÓDIO ACIMA
1) O evangelho de hoje não sugere uma consagração da “pobreza”. Deus não prega a miséria nem tolera a atitude mansa e preguiçosa dos Lázaros vencidos.
2) Muito menos ele é uma condenação para os ricos. A classe não pode sentir-se discriminada e caminhando inevitavelmente ao encontro das chamas eternas. É preciso é desvencilhar-se dos tentáculos do dinheiro com a ajuda dos Moisés e dos profetas que estão aí a pregar. Lembrar-se de que há ricos misericordiosos e santos como há pobres egoístas e orgulhosos.
O “CÉU” - O “INFERNO”
A parábola de hoje lança luz sobre as duas regiões onde nós seremos premiados pelo que fizemos de bom (o céu) ou castigados pelo mal que fizemos (o purgatório e o inferno). Este é o momento de firmarmos nossa crença nos destinos futuros. O gozo do céu consiste essencialmente na fruição, no gozo da presença de Deus, cujo véu é desvendado até o ponto de dar-nos um prazer nunca dantes experimentado e que jamais se esgota. O inferno consiste principalmente na privação da visão beatífica de Deus, uma privação que nos dá uma sensação tão atroz como a do fogo. O pincel dos pintores renascentistas acabaram entrando em detalhes de “labaredas” e “enxofre”, que são desnecessários para o caso.
REFLEXÕES:
- É bom evitar antagonismos entre as duas classes: os ricos e os pobres, conscientes de que Jesus não destina os pobres para o céu e os ricos para o inferno. Ele lança luz sobre o engodo que o dinheiro oferece, pelo qual ele passa a mandar em nosso coração. Há ricos que são “pobres de espírito” e pobres que são “ricos de espírito”.
- Hoje no dia da Bíblia, procuremos aplicá-la na nossa vida. Escrita há quase dois mil anos, ela se aplica, providencialmente, na nossa vida, como acabamos de ver.
FRANCISCO VALMIR ROCHA
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