REFLEXÃO DO EVANGELHO DOMINICAL - Jo 20,19-31 - 2º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C

"BEM-AVENTURADOS OS QUE CRERAM SEM TEREM VISTOS!" - Isto é, bem-aventurados os que creram como Abraão e os que creem como nós hoje!

"BEM-AVENTURADOS" - Ser bem-aventurado para os gregos da antiguidade (makários) era sentir a sensação dos deuses: estar sem sofrimentos e preocupações.

- Ser bem-aventurado para os judeus no tempo de Cristo era gozar um bem-estar material, coisa que provinha da fiel observância da Lei.

- Ser bem-aventurado para o cristão hoje é sentir uma felicidade espiritual, que decorre da posse do Reino de Deus(...)


-PAZ - A palavra pronunciada por Cristo na língua aramaica "shalom" significa "a prosperidade", o "passar bem" tanto material quanto espiritual; tanto do indivíduo quanto do grupo." Não é bem o significado da palavra "paz" hoje. É muito magro o conceito de hoje. Quando um judeu dizia "shalom" para outro, desejava-lhe aquele dom que Deus concedia aos israelitas por força da aliança feita com Abraão. Então, num caso particular, para entendermos o sentido da palavra "shalom" tal qual saiu da boca de Cristo, desejar "shalom" a uma comunidade pobre signficaria desejar tanto que todos tivessem prosperidade material quanto que reinasse entre eles.

Nota-se, nesse evangelho, a insistência de Jesus com o desejo de paz. Em poucos versículos, Ele diz três vezes: "A paz esteja convosco!" É que as portas fechadas não deixavam dúvida sobre o medo que reinava nos corações dos discípulos.

"Como o Pai me enviou, também eu vos envio". E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: "Recebei o Espírito Santo..."

Por essa passagem, Jesus faz dos seus apóstolos e dos seus discípulos verdadeiros prolongamentos do seu corpo, continuadores da sua missão evangélica. Eles emprestarão a boca para o Cristo falar, serão os braços de Cristo para abraçar, para abençoar, serão os pés de Cristo para visitar os marginalizados como Zaqueu. E esse recado, esse envio, foi feito não só aos discípulos daquele tempo, mas aos discípulos, que somos nós. Continua a haver Zaqueus, mulheres da vida, pessoas atarentadas. Lá na ponta da rua, onde alguém vai lhe contar suas mágoas e expor sua dúvidas, você é o continuador de Cristo.

Para que esse corpo-Cristo tenha energia, para que entre a palpitar, a pulsar como Cristo, Ele sopra seu hálito de vida como Javé no Gn 2, 7: "Então Iahweh Deus modelou o homem como a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente". É que a Igreja precisa recriar as criaturas para a vida da graça, precisa fazê-las voltar à intimidade com Deus pela absolvição dos pecados. E só o Espírito Santo pode recriar.

TOMÉ - Nome aramaico "Toma", que dá em grego "Dídimo=gêmeo". Tomé passou para a posteridade como "homem sem fé". Ser Tomé é estar sempre duvidando de tudo. Na realidade, nós não podemos ser pessoas crédulas, como diz o comentarista Frei Clarêncio. Se alguém chega para você e diz que Nossa Senhora está aparecendo em tal casa, você não tem obrigação de acreditar sem mais nem menos. Embora a fé seja um dom gratuito de Deus (É Ele quem nos dá a Fé), ela será mais ardente, se envolver nossa inteligência, nossa vontade, nossos sentimentos. Isso é que é "crer de coração", como diz Frei Clarêncio. E isso foi o que pretendeu Tomé.

REFLEXÕES:

- Católico de portas fechadas - "O primeiro dia da semana, estando fechadas as portas por medo dos judeus...oito dias depois, estando fechadas as portas (outra vez)...

Por duas vezes em uma semana que Jesus visitou os seus apóstolos e discípulos, eles que deviam estar continuando o trabalho da evangelização interrompido por Jesus, "estavam de portas fechadas". Eles, naqueles momentos, ainda sem a força do Espírito Santo, representam a grande parte dos nossos católicos de hoje...portas fechadas, bocas fechadas..."falar de Cristo", "falar de Deus" é com o padre. E ser católico é só no fim de semana.

- É tempo de encarecer e valorizar a figura do padre - Prolongamento especial de Cristo na terra, faz-se oportuno acentuar a sua posição e a sua dignidade no nosso meio. Há, mesmo no meio de famílias católicas, quem não ressalta o seu valor. Como se trabalhar para Deus não fosse o melhor dos serviços. O que diria São Francisco de Assis? Mas muitíssimos não se sentem satisfeitos se, afinal, um dia, seu filho diz que quer ser padre. Pense!

FRANCISCO VALMIR ROCHA

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