REFLEXÃO DO EVANGELHO DOMINICAL - Lc 3, 1-6 - 2º DOMINGO DO ADVENTO - ANO C

O evangelista São Lucas, que nos prega neste advento, tem uma característica muito própria: a universalidade. Ele se propõe a provar que Jesus não veio só para salvar os judeus, mas para salvar toda a humanidade. Por isso, procura situar os lugares sagrados de João e Jesus dentro do universo do seu tempo. Dá fronteiras geográficas, históricas e religiosas amplas. Faz questão de mencionar até a vizinhança pagã: Itureia, Traconítide e Abilene. É bom que tenhamos esse cenário diante dos olhos para entendermos o Evangelho. No tempo de Jesus, a Palestina era uma nação cativa de Roma e pagava impostos ao imperador romano(...) O nome do imperador no momento era Tibério. Como era costume, o imperador, ao conquistar uma nação, retalhava-a em regiões e colocava à frente de cada uma um representante para cobrar os impostos. Assim, Pôncio Pilatos era o seu representante na Judeia. Herodes Antipas o representava na Galileia, região de Jesus; e as regiões pagãs vizinhas de Itureia e Abilene tinha também os seus representantes.

- O PROFETA JOÃO BATISTA

João Batista é o último dos grandes profetas do Antigo Testamento e o primeiro do Novo. É filho do sacerdote Zacarias e de Isabel, parenta próxima de Maria. Nasceu num lugar chamado hoje "En Karin", região montanhosa, 7 quilômetros e meio a oeste de Jerusalém. Alguns autores dizem que João se preparou para a sua missão na comunidade essênia de Qumram. No tempo de Jesus, o deserto de Judá era habitado por centenas de monges chamados essênios. O profeta aliava um zelo incomparável no cumprimento da sua missão a uma vida de despojada penitência. Talvez tenha feito o voto do nazireato, pelo qual a pessoa se abstinha, entre outras coisas, de bebidas alcoólicas e de cortar o cabelo. Pregava um batismo de penitência e centrava a sua pregação na preparação da vinda do Messias.

- "Esta é a voz que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor."

João era a voz que gritava no deserto exigindo um caminho para a passagem do Senhor. Quando um rei resolvia visitar qualquer dos seus domínios, perdidos que fossem na imensidão do deserto, era expedido para lá um arauto com a incumbência de preparar um caminho para a carruagem passar. O arauto aqui era João e o rei era Jesus. Isaías (40, 3) descreve como seria abrir um caminho no deserto: "Seja entulhado todo o vale, todo o monte e toda colina sejam nivelados; transformem-se os lugares escarpados em planície, e as elevações, em largos vales."
Abrir uma estrada real, uma estrada para um rei passar, no deserto parece impossível. Pois é justamente essa a grande dificuldade, que é a nossa conversão. Na estrada da nossa vida, os apegos, os vícios são montes, às vezes, intransponíveis. Aliás, o deserto era justamente a imagem da humanidade, uma terra ressequida, mas que tinha tudo para reverdecer. Só faltava a água viva de Cristo. As forças apresentadas por João para resolver os obstáculos eram a penitência e o desprendimento. Está aí o que se pede de nós neste advento.

- REFLEXÕES:

- A figura de João Batista que nos aparece neste momento da preparação do Natal é a de um homem vestido de pele de camelo, que se alimenta de gafanhotos e mel silvestre e não bebe vinho nem bebidas inebriantes. E, da nossa parte, como estamos nos preparando para o nosso Natal? O que temos feito no momento é expedir cartões de Natal para os amigos que moram longe; desejar "feliz Natal", a viva voz, para os amigos que não vamos encontrar até as festas; comprar os presentes com antecedência por causa da futura superlotação das lojas, ver os preços das frutas cristalizadas e dos panetones enquanto ainda estão em conta. Verifiquemos a diferença entre a proposta de João Batista e a nossa preparação.

FRANCISCO VALMIR ROCHA

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