REFLEXÃO DO EVANGELHO DOMINICAL - Mc 13, 24-32 - 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

O evangelho de hoje foi escrito em estilo apocalíptico, o mesmo em que São João escreveu o "Apocalipse", o último livro da Bíblia. O ano litúrgico termina no próximo domingo e a solenidade desse estilo serve de arremate ao ano que se finda.

ESTILO APOCALÍPTICO - O estilo apocalíptico é um gênero literário (maneira de escrever) que floresceu entre os anos 200 a.C. e 100 d.C.(...)
O escritor faz uso da sua fantasia de maneira exuberante. Para impressionar, sempre fala em catástrofes que acontecem na natureza. Assim, vemos no Apocalipse de São João:

"Um sinal grandioso apareceu no céu..."
"Sua cauda (a cauda do dragão) arrastava um terço das estrelas do céu."

Não se pode compreender as frases acima no sentido literário, mas é preciso ver, no meio dessa maneira impressionante de se expressar, qual a mensagem que o escritor quer passar. Pegando as frases no sentido literal, a pessoa é levada a crer na eclosão de um cataclisma próximo. Esse é o estratagema dos filmes para causar sensação em suas produções. Assim, São João no seu apocalipse não quer predizer o fim do mundo, mas se dirige às suas comunidades preparando-as e fortalecendo-as contra as perseguições que estavam para se abater sobre elas.
Então, baseado no que dissemos acima, o evangelho de hoje não tem nada a haver com o fim do mundo nem com o juízo final. Ele se refere à vinda de Cristo depois da nossa morte. "O fim do mundo acontece para cada um na hora da morte. Para quem morre, o sol escurece, apagam-se as luzes românticas da lua e das estrelas." Diz o grande biblista Frei Clarêncio Neotti (Ministério da Palavra - ano B - pag. 214). É o que chamamos "a segunda vinda de Jesus". Ela é tratada com grande solenidade, fortificar a nossa vigilância, incentivar o nosso desapego e a prática das boas obras, conselhos que resumem toda a pregação de Cristo e que ficam bem neste fim de ano litúrgico.

"Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará..." Essa é uma maneira solene de falar da segunda vinda de Jesus. Ele não virá mais na fragilidade do seu corpo humano, como o "Filho do Homem", mas em sua majestade divina (virá como juiz). As "nuvens" são usadas na Bíblia nas teofanias (as aparições de Deus) como no Monte Sinai, na entrega das tábuas de pedra.

O Filho do Homem - Jesus se chamou, várias vezes, de "Filho do Homem", isto é, o Deus que quis nascer de um ser humano. É um apelido que ele botava em si quando queria significar "o homem frágil", aquele que, como qualquer homem, sentia as dores e tudo o que sofre a humanidade. A expressão não é original dele: Daniel já a usa na Bíblia. "Filho do Homem" é apenas um lado de Jesus. Esse lado frágil aparecerá revestido de glória no julgamento, depois da nossa morte.

"Ele enviará os anjos dos quatro cantos da terra e reunirá..."
O escritor sagrado continua a usar os termos apocalípticos para solenidade ao momento do julgamento. Os anjos se encarregarão de reunir todos os que serão julgados naquele momento.

"Aprendei, pois, da 'figueira' esta parábola."
A figueira era e é uma árvore muito cultivada na Palestina. Com bastante água e adubo, ele vicejava mesmo em terreno fraco e pedregoso. E podia dar muitos frutos e chegar a dez metros de altura. Por isso, uma figueira estéril (sem frutos) e baixa como um arbusto silvestre irritava quem a encontrasse, como aconteceu na parábola da figueira estéril de "Lc 13, 6-9".
Elas brolhavam como brolham os nossos cajueiros e as nossas mangueiras no mês de setembro, em pleno verão. Daí o versículo: "quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto."

"O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão."
Essa frase não significa que acabará o céu e a terra, mas que, embora o céu e a terra se acabe, as suas palavras não deixarão de se realizar.

REFLEXÃO CENTRAL:

O evangelho deste domingo vem nos lembrar a transitoriedade da vida terrena. Ela passa - não devemos nos esquecer disso. As coisas da terra correm com a mesma espontaneidade com que as águas de um rio procuram o mar, embora, às vezes, pareçam paradas. O meu barco procura um porto e o porto do seu destino se chama "Eternidade". Como acontecem nos remansos, os barcos parecem parados. Essa é uma ilusão traiçoeira da nossa vida. Os nossos dias nunca param, mas continuam singrando para a eternidade. Esse lembrete, cheio de solenidade, fica bem no final deste ano litúrgico, que termina no próximo domingo, o Domingo de Cristo Rei.

FRANCISCO VALMIR ROCHA

Nenhum comentário :