COMPARTILHANDO O 12° INTERECLESIAL: “UM NOVO VENTO” NA IGREJA QUE TEM SABOR DE CEBs PARA NÓS

Dando-me o direito de verbalizar meu simples pensamento sobre o que vivi durante minha estadia e participação no Intereclesial acontecido em Porto Velho, Rondônia, digo que a dimensão da fé abraça o que supostamente é "inabráçavel" do ponto de vista de muitos cristãos que vivem em função de luxuosos caprichos, expelindo atitudes que não se coadunam com a Ressurreição de Cristo ou com o seu projeto libertador, que por sua vez, continua provocando a construção de uma fé madura, que ultrapassa os concretos de uma igreja-templo onde a retórica ainda é um fator incoerente, onde o respeito ao pluralismo religioso não deve ser confundido com “apáticas” e "camufladas" atitudes que resumem a fé em atos desconexos do projeto de construção do Reino de Deus, a ser vivido no aqui e no agora(...)
O 12º Intereclesial chamou mais uma vez a atenção para a vida do “povo”, os cuidados que devem emergir em forma de testemunho e evidente desprendimento do supérfluo, de tudo o que é improdutivo e que inviabiliza a prosperidade e a dignidade Humana. Um evento marcado não apenas pelo ciclo de debates, palestras e assessores de renomes, mas também, pela diversidade de experiências partilhadas, vindas dos mais distantes cantos deste mundo. Histórias de lutas de quem tem coragem de se opor ao projeto de morte que se instala contra a vida das comunidades, uma autêntica vivência e compreensão da fé.
É neste campo de atuação onde encontramos as sementes do Reino, e onde se compõe a certeza da necessidade de se ter uma Igreja viva e atenta aos sinais de transformações do mundo, uma Igreja que congregue os valores culturais do povo, que celebre a fé encarnada e que mostre a divindade de Deus a partir do rosto dos excluídos, desde as comunidades extrativistas, perpassando pelos quilombolas, indígenas, ribeirinhos, comunidades agrícolas, moradores de favelas etc. Trata-se de uma complexa e exuberante riqueza de fé, dentro da dimensão ecumênica, compreendida através das relações estabelecidas na inculturação da fé.
E é olhando para o desejo de uma minoria que persiste na militância sócio-transformadora de âmbito eclesial, que conformadamente lamento a pouca visibilidade dada às ações dos “históricos” e “cada vez mais” “raros profetas”, símbolos de uma Igreja que em momentos de penúria, celebra um envolvimento aquém das necessidades do rebanho, nada além de um resumido encantamento momentâneo, e uma fina apreciação pela literatura com conclusões extremamente fundamentalistas.
O desafio é: reverter-se em razão, encarnando-se nas reais necessidades do povo, pois a sensibilidade que aflora, não transforma, e o poder que desejamos e até sentimos não exercemos. As forças ocultas ofertadas, apenas extraem a ânsia de combate, mas não implica em atitudes libertadoras e transformadoras. Submetidos a pública exposição dos fatos cruéis que assolam a vida e a dignidade do povo, somos convidados a repensar nossas atitudes e conceitos que não fazem conexão com aquilo que deve ser apontado como solução.
É neste crítico cenário que o cristão se encontra e é incitado a rever sua vocação, e esta, deve demandar uma reação dinâmica, re-conceituada sobre a ótica que se contrapõe ao sistema mortífero, algo que seja capaz de transformar, que seja significativamente mudança, que seja evangélico, profético, cristológico, humano e divino, e que devolva à Igreja a credibilidade de cristo revelando a maternidade de Deus.
E pra falar das certezas do Intereclesial, a mais concreta deveria ser um desestímulo, pois as CEBs não são prioridades na maioria das Igrejas particulares do Brasil. É uma realidade que não foge da crítica dos profetas populares cebianos e apesar do número de padres e bispos no encontro, ainda se percebe o quanto a Igreja é clerical, muito distante da igreja “Povo de Deus”. Romper com esta estrutura, para muitos de nós, não torna-se uma prioridade, não que o conformismo seja para as cebs uma virtude, mas porque compete ao próprio Espírito Santo soprar dentro de sua casa. Cabe a nós apenas a espera e a certeza da chegada que é característica nossa, “povo de Deus”, que cansa e descansa, lamenta, mas não se entrega às fadigas da caminhada, e que sofre a incompreensão da “Igreja instituição monopolista” e com os poucos aplausos angelicais seguimos rumo ao calvário na certeza da Ressurreição, vestidos com os divinos trapos, erguendo as velhas bandeiras de um novo tempo.

Carlos Jardel dos Santos
Articulador diocesano das CEBs

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