ESTUDO BÍBLICO SEMANAL - JESUS E OS ENFERMOS

Hoje, nós cristãos falamos da "opção pelos pobres". Quando alguns cristãos fizeram - ou fazem - a opção pelos ricos não houve problema. Alguns se perguntam quam são os pobres. E costuma-se responder que também os ricos são pobres.
No povo judeu do Antigo Testamento, os pobres por excelência eram os órfãos, as viúvas e os imigrantes.
Ao ver a atitude de Jesus de Nazaré com os pobres "doentes" e entender sua razão de ser, talvez possamos também captar melhor por que ele oferece a saúde aos "enfermos", os "pobres" por excelência do Novo Testamento, como sinal de autenticidade de sua missão (cf. Mt 11, 2-6)(...)

Nos Atos dos Apóstolos, Lucas resume o específico de Jesus, dizendo: "Jesus andou por toda parte, fazendo o bem e curando todos os que estavam dominados pelo diabo" (At 10, 38). Jesus quer que todo ser humano, filho de Deus, irmão e próximo, goze já de uma vida plenamente humana aqui na terra.
Nós, cristãos, a Igreja, se quisermos hoje ser fiéis seguidores de Jesus, podemos nos manter alheios a "um dos sintomas mais profundos da impiedade de nossas elites", não só de sua injustiça: "o descuido pavoroso em que mantêm tudo o que se relaciona com a saúde"? Podemos continuar sendo cúmplices, acobertadores, agentes da situação em que está todo o sistema de saúde que afeta o nosso povo de maneira tão grave e mortal?
A Igreja, todos e cada um de nós cristãos, começando pelos que maior responsabilidade têm dentro das comunidades cristãs, nos encarregaremos seriamente do povo doente? O doente poderá ser curado se não se "cura" seu contexto social? Algumas doenças só podem desaparecer quando aquilo que rodeia o doente é curado. As doenças dos indivíduos e, particularmente, seus sofrimentos e abandono, são muitas vezes transtorno, contágios de uma sociedade doente. É preciso curar o social para curar o enfermo. Está em jogo nada menos que a verdade autêntica de nossa fé e vida cristã de nossa Igreja. E essa é a garantia da "outra vida" (Mt 25, 31-46).

O PROBLEMA DA SAÚDE E DA DOENÇA

No tempo de Jesus a medicina era incipiente. Não havia medicina preventiva, hospitais, ambulatórios etc. Quando muito havia remédios que a natureza oferecia e que a experiência comprovava como benefícios.
A saúde era um problema que geralmente se resolvia com a morte; mortes prematuras, vida curta, cegueira, paralisia, doenças de pele que se arrastavam pela vida inteira.
As doenças que pareciam inexplicáveis porque não se lhes via nenhuma causa perceptível eram atribuídas aos "demônios", espíritos maus impuros, que se haviam introduzido dentro das pessoas, apoderavam-se delas e as impediam de realizar corretamente suas funções, privando-as do domínio normal do seu corpo. O "espírito mau" se havia introduzido tão fundo que parecia dobrar o homem e a sua personalidade. Isso acontecia, por exemplo, com a mudez, a surdez, a epilepsia, a loucura etc. Quando se vê claramente que o corpo está mal, com lepra, cegueira, hemorragias, febre, perna ou braço quebrado, atrofiado etc., nunca essas enfermidades, nos evangelhos, são atribuídas aos "espíritos".
Entre os pobres mais pobres estavam os enfermos: cegos, coxos, mutilados, paralíticos etc. e, sobretudo, os leprosos. Normalmente todos eles eram também mendigos. Era sua única chance de subsistência.
Além disso, a enfermidade era vista como castigo de Deus pelos pecados: "Ao passar, Jesus viu um cego de nascença. Os discípulos perguntaram: 'Mestre, quem foi que pecou, para que ele nascesse cego? Foi ele ou seus pais?" (Jo 9, 1-2). Por essa razão os enfermos eram considerados "impuros", discriminados também pela religião judaica. Consequentemente podiam permanecer somente nas portas externas da esplanada do Templo ou, quando muito, no pátio dos gentios ou pagãos, que também eram considerados pecadores e impuros.

O MÉDICO

O médico era considerado um artesão, sangrador, cirurgião, barbeiro.
O pobre não tinha acesso ao médico. Num lugar situado junto ao lago de Genesaré aproxima-se de Jesus uma mulher doente que "tinha padecido muito na mão de muitos médicos, gastou tudo o que tinha e, em vez de melhorar, piorava sempre mais" (Mc 5, 26). Nos documentos da época são abundantes os pareceres desfavoráveis à profissão de médico.
O médico, portanto, é visto com pouca simpatia (cf. Lc 4, 23; Mc 5, 26).

AS CURAS NO EVANGELHO

Ao lado dos pecadores, os enfermos (que segundo a religião judaica são também pecadores) são os preferidos de Jesus em sua atividade em vista do Reinado de Deus.
Jesus une sempre o Reinado de Deus, o anúncio da Boa Notícia, o poder e autoridade que dá a seus discípulos e seguidores, com a cura corporal. Foi assim que a comunidade cristã entendeu, desde o início, sua missão. Comprova-o o texto de Lc 9, 1-6.
As curas que Jesus realiza são sinais de sua missão. O milagre não é simplesmente qualquer coisa extraordinária, mas algo tão extraordinariamente bom que nos revela como é Deus.

FÉLIX MORACHO

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