POR QUE O SACRAMENTO DA "ORDEM" SE CHAMA ASSIM?

Iniciamos, agora, nossa meditação sobre o sacramento da Ordem. O Catecismo da Igreja ensina assim, sobre este sacramento: “A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada a Cristo e a seus Apóstolos continua a ser exercitada na Igreja até o fim dos tempos. É, portanto, o sacramento do ministério apostólico” (n. 1536).
É um belo modo, esse, de apresentar o sacramento do ministério ordenado, o sacramento pelo qual os Bispos, os presbíteros e os diáconos são constituídos ministros de Cristo para o bem do Povo de Deus. Mas, vamos por partes. Primeiro, o nome desse sacramento: Ordem! Por quê?(...)
Na Antiguidade, chamava-se “ordem” a um corpo, um grupo de pessoas que tinham uma determinada responsabilidade ou um determinado tipo de vida... chamava-se assim, sobretudo, o grupo dos que governavam. Por exemplo, a ordem dos pretores, a ordem dos magistrados, a ordem equestre... Então, "ordem", na linguagem civil romana, era um grupo de pessoas que exerciam as mesmas funções, reconhecidas publicamente. A entrada de uma pessoa em uma determinada ordem era chamada de “ordenação”. Pois bem, na Igreja, desde os primeiros séculos, tornou-se costume chamar de “ordem” ao grupo dos ministros sagrados. Assim, desde os tempos antigos, encontramos nos documentos e nos livros litúrgicos da Igreja as expressões “ordem dos Bispos”, “ordem dos presbíteros” e “ordem dos diáconos”. Mas, é bom observar que também chamavam-se ordem aos vários outros grupos de pessoas no interior da Comunidade: a ordem das virgens, a ordem dos monges, a ordem dos confessores (= aqueles que haviam sofrido torturas por causa da fé). Aos poucos, a palavra ordem foi sendo reservada para o grupo dos ministros ordenados. Como um ministro da Igreja deve receber um sacramento para ter as condições de exercer seu ministério, esse mesmo sacramento passou a ser chamado de Sacramento da Ordem, quer dizer, o sacramento pelo qual a pessoa é inserida na ordem dos ministros sagrados. A Igreja achou por bem conservar esse termo “ordem” porque, além de ser costume no mundo antigo, tinha respaldo na Sagrada Escritura. Por exemplo: Cristo é, várias vezes, chamado sacerdote eterno “segundo a ordem de Melquisedec” (cf. Sl 110,4; Hb 5,6; 7,11). A nomenclatura ficou, então, assim: “ordem” é o nome do sacramento e “ordenação” é a celebração do sacramento, o rito litúrgico instituído pelo Senhor e praticado pelos apóstolos, que insere na ordem dos bispos, presbíteros ou diáconos aquele que foi escolhido para o ministério sagrado.

Vejamos um pouco como este sacramento foi aparecendo na Sagrada Escritura e como ele está ligado a Cristo e aos apóstolos. No Antigo Testamento, Deus escolheu um povo, Israel. Este povo era um povo real (pois era o povo escolhido por Deus para, através dele, anunciar o seu Reino), um povo de profetas (pois era o povo pelo qual Deus anunciava a sua palavra) e um povo sacerdotal (pois era o povo consagrado ao serviço do louvor do Senhor no culto divino). Mas, no meio desse povo, Deus escolhia pessoas para exercerem funções específicas para o bem de seus irmãos: eram os pastores do povo! Quem eram tais pastores? Fundamentalmente, os sacerdotes, os profetas e os reis. Vejamos um pouco:

a) os reis eram consagrados, ungidos com óleo, símbolo do Espírito do Senhor, para serem guias do povo de Deus (cf. 1Sm 10,1; 16,13; 26,9; 2Rs 9,6). Em Israel somente o Senhor é rei; o rei descendente de Davi é o servo de Deus: ele deve liderar seu povo, defendê-lo dos inimigos externos e, sobretudo, velar pelo cumprimento da lei do Senhor, fazendo justiça aos pobres.

b) os profetas, em geral, não eram ungidos com óleo para exercerem sua missão. A unção era espiritual: o Senhor os marcava diretamente com a força do Espírito e o selo da vocação. Basta recordar a vocação profética como é descrita em Isaías: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu” (61,1). Sua missão era anunciar a Palavra do Senhor e denunciar tudo aquilo que na vida do povo era contrário à vontade de Deus. Os profetas também consolavam e animavam o povo de Israel nos seus momentos de provação.

c) os sacerdotes são o terceiro grupo de pastores do povo. Eles eram da tribo de Levi, da família de Aarão. Sua missão era cuidar do serviço do Senhor no culto divino e orientar o povo no cumprimento da lei. Cabia aos sacerdotes ensinar ao povo a lei do Senhor e guia-lo na observância de seus preceitos (cf. Lv 4,5; 8,12; 16,32; Ex 28,41; 40,15; 30,22s.30-33).

No entanto, esses pastores foram infiéis. Um bom exemplo disso pode ser encontrado em tantos textos do Antigo Testamento. Por exemplo: os reis fracassaram pela sua impiedade (cf. 1Rs 11,1-13; 2Rs 16,2ss; 23,31ss; Os 8,4), os profetas também fracassaram na sua missão (cf. Is 9,15; Jr 2,8; 5,31; 6,13; 23,11.13-17.21-33) e os sacerdotes foram incapazes de corresponder ao que Deus esperava deles (cf. Os 4,4-11; 5,1-7; Jr 2,26ss; Ez 22,26; Mq 3,11; 2Rs 12,5-9; Ml 2,1-9). Diante dessa realidade, Deus promete e envia um verdadeiro rei, justo, santo, fiel. Esse rei, verdadeiro filho de Davi, seria o Messias, verdadeiro pastor de Israel, Jesus, chamado Cristo (= ungido) (cf. Jo 1,49; 18,33.37; Mt 21,5; Lc 19,38; Mc 15,2). Deus também leva à plenitude o profetismo de Israel, enviando o seu próprio Filho: ele é a própria Palavra do Pai, o revelador perfeito de Deus e de sua vontade (cf. Mt 13,13ss. 57; 23,37s; Jo 1,21; 7,40; Mc 6,4; Hb 1,1). No Novo Testamento o verdadeiro pastor de Israel é Jesus: “Eu sou o bom Pastor; conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai” (Jo 10,14s). Ele é o verdadeiro rei, o verdadeiro profeta, o verdadeiro sacerdote, ungido pelo Pai com o Espírito Santo no batismo e na ressurreição. Nele, tudo quanto o Antigo Testamento preparou e prometeu realizou-se e chegou à plenitude. É somente tendo bem presente essa realidade que poderemos compreender o sacramento da Ordem.

Então, deixando bem claro: Cristo é o verdadeiro sacerdote, o verdadeiro profeta, o verdadeiro rei do Novo Testamento. Nele, tudo quanto Deus prometeu se cumpriu e se realizou. Ele é o único sacerdote, o único profeta, o único rei da nova e eterna aliança!

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