O APOCALIPSE E SEUS SIMBOLISMOS

Trata-se, infelizmente, de um dos livros mais incompreendidos e mal interpretados da sagrada escritura. Alvo de uma interpretação fundamentalista e grosseira, esta obra-prima da literatura cristã tem sido usada ao longo dos séculos, de forma equivocada, para justificar catástrofes e tragédias atuais.

O Livro da Revelação, ou Apocalipse de João, corresponde precisamente ao gênero literário "apocalíptico". Este gênero floresceu na literatura hebraica por quatro séculos, a partir do séc. II a.C. até o séc. II d.C.. A apocalíptica depende da literatura profética e da sapiencial. Porém, diferentemente da literatura profética, onde o elemento essencial é "a palavra", na apocalíptica o elemento essencial é "a visão". Outra característica do gênero apocalíptico é o uso abundante de símbolos.
Os Apocalipses são desenvolvidos em uma época de opressão. No caso concreto do Apocalipse de João, este foi escrito no ano 95, segundo geralmente se pensa. Nesse tempo, Domiciano exigia o "culto imperial" ainda mais que seus predecessores Vespasiano e Tito. É neste contexto histórico onde devemos buscar o verdadeiro significado dos simbolismos empregados por João(...)


NUMEROLOGIA APOCALÍPTICA

Todos os números usados no Apocalipse têm um significado específico. Conhecê-los ajuda a entender os símbolos do texto. Para interpretar a perícope que nos interessa, convém conhecer os seguintes:
Número / Significado
3 - Perfeição
2 - Usado para dar solidez, para reforçar; p.ex.: 2 testemunhas, 2 chifres
6 - Um a menos que o 7; significa imperfeição
7 - Plenitude
666 - 3 vezes o número 6, isto é, a perfeita imperfeição, a imperfeição plena

PERSONAGENS

João


O autor do Apocalipse se dá a conhecer como João (1,1.4.9; 22,8), um homem que, devido à sua fé cristão, sofria o exílio na ilha de Patmos, uma colônia penal de Roma. Ainda que pese o seu nome, é difícil imaginar que o autor deste livro seja o Apóstolo João, o mesmo (ou os mesmos) autor(es) do quarto Evangelho ou das cartas joaninas. O mesmo não fala de si como Apóstolo, nem como autor destes outros textos. Alguns Padres da Igreja o identificaram com o Apóstolo, certamente pela afinidade do nome, inclusive Justino, Ireneu, Clemente de Alexandria, Tertuliano e Hipólito. No entanto, outros como Eusébio de Cesaréia, Cirilo de Jerusalém e, inclusive, Gregório Nazianzeno e João Crisóstomo, negaram esse fato. O vocabulário, a gramática e o estilo apontam dúvidas de que o Apocalipse tenha sido composto pelas mesmas pessoas responsáveis pelos demais escritos neotestamentários firmados por "João". Por outro lado, existem semelhanças lingüísticas e afinidades teológicas com o quarto Evangelho que permitem supor que o autor do último livro da Bíblia possa ter sido discípulo de João Apóstolo.


A primeira Besta - Como explicado anteriormente, o autor do Apocalipse representa o Império Romano com o símbolo da besta surgida do mar.
A segunda Besta - Surgida da terra, a partir desta perícope, o Apocalipse se referirá a ela como "o falso profeta", que está a serviço da primeira Besta, ou seja, do Império Romano. Trata-se, portanto, do imperador romano César Nero.


Os habitantes da terra - Todos os habitantes da terra são seduzidos pela Besta.
Aqueles que não adoram a primeira Besta - Entendendo que a primeira Besta é o Império Romano, resta evidente que aqueles que não adoram a primeira Besta são os cristãos, que desacatavam o mandato do Culto Imperial, que implicava adorar o "Divus Caesar" (=Divino César) e a "Dea Roma" (=Deusa Roma).

O DRAGÃO

O Dragão transmite seu poder à Besta (12,18-13,10)
"O mar" é, na literatura oriental, um elemento associado ao caos, ao abismo, à rebelião. A descrição da besta é semelhante à visão das quatro bestas de Dan. 7,3-8. Ao situar o texto em seu contexto histórico, o mais coerente é relacionar esta besta que surge do mar com o Império Romano, de grande poderio e avassaladora extensão, protótipo de todos os poderes que se levantarão contra a Igreja através dos séculos.
Os dez chifres e as dez diademas representam dez reis romanos. As sete cabeças com títulos blasfemos simbolizam sete imperadores. Deve-se notar que os números usados são símbolos de totalidade.
O poder da besta se estende sobre toda raça, povo, língua e nação, e provém do Dragão. Da mesma forma, o Império Romano ia se expandindo cada vez mais. O versículo 3 menciona uma cabeça ferida de morte, porém curada, a qual pode ser uma alusão a um momento certo em que o Império Romano se viu em perigo, porém subsistiu. Outros autores preferem entender aqui uma menção à lenda segundo a qual Nero, após suicidar-se, regressaria para tomar o poder de Roma.
A Besta profere com sua boca blasfêmias contra Deus, move guerra aos santos, é adorada por todos os habitantes da terra cujos nomes não estão escritos, desde a Criação do mundo, no livro do Cordeiro imolado. O Império Romano perseguia ardentemente os cristãos pelo fato destes, por sua única fé em Cristo Jesus, negarem-se a prestar culto tanto ao Império quanto a César.
Esta situação de rejeição a Deus e cruel perseguição requer "a paciência e a fé dos santos".
Entender que esta besta do mar represento o Império Romano é, talvez, a pista mais sólida para se entender a segunda besta, surgida da terra, como explicarei a seu tempo.

OS RESGATADOS DO CORDEIRO (14, 1-13)

Nesta perícope, João encontra um cordeiro sobre o monte Sião e com ele 144 mil [pessoas], que têm escrito na fronte o nome do Cordeiro e o nome de seu Pai.
Uma interpretação fundamentalista e errônea deste número, como a proposta pelos Testemunhas de Jeová, pretende assegurar que apenas 144 mil almas irão para o céu. Nada mais equivocado!
Aos partidários da besta, marcados com seu nome, João opõe os seguidores do Cordeiro, agrupados de forma simbólica em Sião, Jerusalém, a Cidade Santa eleita por Deus. Eles representam o novo Israel. O número 144 mil equivale a 12 x 12 x 1000, que significa o exagero de um número que representa a totalidade e não uma quantidade como tal. Fala dos resgatados, isto é, dos que alcançaram a salvação. As qualidades destes resgatados, segundo a perícope, são: homens que não se mancharam com mulheres, são virgens; seguem o Cordeiro aonde quer que ele vá; foram resgatados dentre os homens; são primícias para Deus e para o Cordeiro; não se encontrou falsidade e sua boca; não possuem mancha (cf. Sal. 30). É significativo o fato de serem "primícias", razão porque se pode pensão que não se trata neste caso de todos os redimidos, mas um grupo representativo; provavelmente aqueles que já tinham dado a sua vida pela fé.

O NÚMERO 666

Ao invés de fornecer o nome da Besta, João usa uma cifra - 666 - e explica que deve ser calculada. Para totalizar 666, há uma grande quantidade de combinações. A base de onde deve se partir este cálculo é o fato de que em grego e hebraico as letras do alfabeto têm valor numérico, já que estas línguas careciam de numerais. A opinião mais aceita entre os exegetas - com a qual concordo pessoalmente - é que João está se referindo a Nero, já que seu nome em hebraico é NRWN QSR (Nerón César), recordando que no hebraico não se escrevem vogais entre as consoantes (e os pontos vocálicos, que de qualquer forma não têm valor numérico, foram adaptados vários séculos depois da escritura do Apocalipse) e as equivalências numéricas são:
letra/nome hebraica - equivalente - valor
Nun - N - 50
Resh - R - 200
Waw - W - 6
Nun - N - 50
Qoph - Q - 100
Samekh - S - 60
Resh - R - 200
SOMA = 666
Devemos recordar, ademais, que o 6 é um número usado para representar a imperfeição, por vir logo atrás do 7, que significa a plenitude. O fato de ser repetido três vezes o número 6 é significativo, pois o 3 é símbolo da perfeição. Repetir 3 vezes um adjetivo equivale ao máximo superlativo possível. Portanto, repetindo três vezes o 6 - 666 - ou seja, "três vezes imperfeito", "totalmente imperfeito", equivale de maneira anti-ética o "três vezes Santo", "Santo, Santo, Santo", usado para se elevar ao máximo a exaltação da santidade de Deus, o "Todo Santo".

Concluo, este primeiro estudo, dizendo a você, caro irmão internauta: "Não tenha medo de ler o apocalipse!! São João quis transmitir uma mensagem de esperança e não de medo, de vitória e não de desespero. Boa leitura.

FONTE: http://www.veritatis.com.br/article/3112

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