ONDE ESTÃO AS RIQUEZAS DO VATICANO E DA IGREJA?

E a “riqueza” da Igreja?

Muito se fala sobre a “riqueza" da Igreja, o ouro do Vaticano, etc…
A Igreja, sendo também uma Instituição humana incumbida por Jesus para levar a salvação a todos os homens e mulheres, precisa evidentemente de um “corpo material”, sem o quê não pode cumprir a sua missão em toda a terra. Nenhuma outra instituição terrena tem uma missão tão ampla e, portanto, cara.
A palavra "Católica" quer dizer "universal". Qualquer instituição que esteja em todas as nações do mundo precisa de meios materiais para isto. O Papa é o único chefe de Estado que tem 1,2 bilhão de filhos em todos os cantos da Terra, falando todas as línguas. No último Concílio, o do Vaticano II, o Papa João XXIII reuniu cerca de 2600 de todas as nações, no Vaticano, durante 3 anos… Hoje são mais de 4000 mil. Que Chefe de Estado faz isto?(...)

Desde 1870, quando a guerra de unificação da Itália tomou, à força, as terras da Igreja (uma parte da Itália!), até o fim da chamada Questão Romana (11/02/1929), os Papas se consideraram prisioneiros no Vaticano, por cerca de 60 anos. Apesar de toda a pressão contrária, os Papas desses 60 anos, Pio IX (1846-1878), Leão XIII (1878-1903), São Pio X (1903-1914), Bento XV(1914-1922) e Pio XI (1922-1939), julgaram que não podiam abrir mão da soberania territorial da Igreja em relação às demais nações, com direito a um território próprio, ainda que muito pequeno, a fim de que tivesse condições de cumprir a missão que Cristo lhe deu.
A cidade do Vaticano, geograficamente situada dentro de Roma, é mínima territorialmente. Quando começou a discussão da Questão Romana, muitos diziam que em caso da restauração da soberania temporal da Igreja, ela deveria ter apenas um Estado do tamanho da República de São Marinho (60,57 Km2); ora, o Estado Pontifício renasceu com apenas 0,44 Km2 que tem hoje o Vaticano.
O patrimônio territorial que a Igreja possui (Cidade do Vaticano com museus, pinacotecas, basílicas…) resulta de doações que foram sendo feitas à Santa Sé desde o século IV. Na Idade Antiga e na Idade Média muitos cristãos, ao morrer ou ao entrar no Mosteiro, doavam suas terras ao bispo de Roma (= o Papa). Em conseqüência, foi-se formando em torno da cidade de Roma o chamado “Patrimônio de São Pedro”; o Papa, sem ser Chefe de Estado, garantia a boa ordem e a paz em favor dos habitantes daquelas terras, enquanto em outras regiões havia desordens e guerras causadas pelas invasões dos bárbaros (vândalos, godos, vikings, celtas, hunos, francos, lombardos…). Finalmente em 756 Pepino o Breve da França reconheceu oficialmente o Estado Pontifício. Em 1870 este caiu, quando a Itália foi unificada. Em 1929 foi restaurado o Estado Pontifício como o menor de todos os Estados existentes (0,44 km²). O Estado Pontifício hoje é uma herança legítima do passado, reduzido ao mínimo e destinado a servir à missão da Igreja.
Os objetos contidos no Museu do Vaticano foram, em grande parte, doados aos Papas por cristãos honestos e fiéis, e pertencem ao patrimônio da humanidade; são inalienáveis, a maioria tem grande custo de manutenção, mas a Igreja os considera um patrimônio da humanidade. Os Papas não vêem motivo para não conservar esse acervo cultural muito importante. Não é a pura venda desses objetos, de muito valor para todos os cristãos, que resolveria o problema da miséria do mundo. Será que a rainha da Inglaterra aceitaria vender o museu de Londres, ou o presidente da França vender o Louvre?…
Os maiores tesouros artísticos do Vaticano não estão escondidos, mas à vista de todos, na própria Basílica de São Pedro, como a “Pietà”, ou na Capela Sistina, onde estão os famosos afrescos, criações, nos dois casos, de Michelangelo. Outras peças de valor impossível de ser sequer estimado são a “Transfiguração”, de Rafael, ou o “São Jerônimo”, de Leonardo da Vinci.
Embora o patrimônio artístico e arqueológico dos museus do Vaticano possa ser comparado ao do Museu Britânico, ao do Metropolitan, de Nova York, e ao do Ermitage, de Leningrado, esse acervo, por disposição da própria Santa Sé, que o considera patrimônio de toda a humanidade, é inalienável, não pode ser vendido.
Outros grandes tesouros, que igualmente jamais passarão para outras mãos, só podem ser vistos por poucos religiosos e por pesquisadores. São documentos, pergaminhos, miniaturas, Bulas papais e outros testemunhos de toda a história do Cristianismo até nossos dias. Compreensivelmente, eles estão guardados, por segurança e conservação, a seis metros abaixo do solo. Não se pode perder esse tesouro da humanidade. Tudo isso faz parte da História de 2000 anos da Igreja e do mundo, e não pode ser danificado ou vendido. Nada há no mundo tão precioso!
Não há motivo, portanto, para se falar, maldosamente, da “riqueza do Vaticano”. Podemos até dizer que a Igreja foi rica no passado, antes de 1870, mas hoje não. Qualquer Chefe de Estado de qualquer pequeno país tem à sua disposição, no mínimo um avião. Nem isso o Papa tem. Nem aeroporto existe dentro do Vaticano. Nem um helicóptero para servir ao chefe de 1,2 bilhões de católicos. E a Igreja é a Instituição que mantém o maior número de representação diplomática na terra, cerca de 180.
O Vaticano tem um órgão encarregado da caridade do Papa, o Cor Unum. No final de cada ano é publicada no jornal do Vaticano, o L’Osservatore Romano, a longa lista de doações que o Papa faz a todas as nações do mundo, inclusive o Brasil, especialmente para vencer as flagelações da seca, fome, terremotos, etc. É uma longa lista de doações que o Papa faz com o chamado óbulo de São Pedro, arrecadado dos fiéis católicos do mundo todo.
A Igreja Católica nesses dois mil anos sempre fez e fomentou a caridade. Muitos hospitais, sanatórios, leprosários, asilos, albergues, etc., são e foram mantidos pela Igreja em todo o mundo. Quantos santos e santas, freiras e sacerdotes, leigos e leigas, passam a sua vida fazendo a caridade… Basta lembrar aqui alguns nomes: São Vicente de Paulo, D. Bosco, São Camilo de Lelis, Madre Teresa de Calcutá… a lista é enorme! 25% das instituições que cuidam dos aidéticos no mundo todo são da Igreja; sem falar nos leprosários, orfanatos, creches, asilos, casas de recuperação de drogados…
A Santa Sé, além do território de 0,44 Km quadrados, correspondente ao Estado do Vaticano, possui dois tipos de bens imóveis em Roma: 1 - as que gozam de estatuto próprio definido pelo Tratado de Latrão, em 1929; e 2 - as que estão sujeitas ao Estado italiano para fins de impostos e taxas. São as basílicas ; a residência pontifícia de Castel Gandolfo, as sedes da Universidade Gregoriana, do Instituto Bíblico, do Instituto Oriental, do Instituto de Arqueologia Cristã, do Seminário Russo, do Colégio Lombardo, os dois palácios de Santo Apolinário e a casa de Retiros dos SS. João e Paulo. Isto é o que restou de todo o antigo Estado Pontifício que cobria boa parte da Itália.
Sem isto os órgãos da Igreja não têm como funcionar. As finanças do Vaticano estão sempre passando por momentos difíceis, pois a Igreja tem desenvolvido e multiplicado seus serviços após o Concílio do Vaticano II, a ponto de sentir sério problema econômico. São muitas as Comissões que se criaram em Roma nos últimos tempos para atender ao diálogo com os cristãos separados, com as religiões não cristãs, com os ateus, com os homens de cultura…; existem Comissões de Justiça e Paz, para o Apostolado dos Leigos, o Pontifício Conselho Cor Unum… Estas Comissões são internacionais, de modo que acarretam despesas de viagens, publicações, pesquisas, etc. Isto explica o aumento de gastos, sem que haja receita regular correspondente.
O cerimonial que cerca por vezes o Santo Padre, é legado de épocas distantes, quando os costumes o exigiam; hoje em dia está sendo mais e mais simplificado; vemos o Papa tomando crianças nos braços, visitando hospitais, prisões, favelas, etc. A Igreja, porém, julga que, para o culto divino (celebração da S. Missa, por exemplo), se deve sempre utilizar o que haja de melhor; não se trata de usar alfaias ricas, mas objetos dignos e capazes de exprimir a grandeza da fé e o amor dos cristãos a Deus.
Aqui no Brasil há dioceses que possuem terras, resultantes de doações feitas aos Bispos na época colonial; essas propriedades ajudam a exercer a missão da Igreja, formar os sacerdotes, manter as obras de evangelização e caridade, publicações, meios de comunicação social, escolas, templos, etc. No entanto, a maioria das dioceses são muito pobres, precisam de recursos de outras dioceses e organizações para poder desenvolver a sua atividade pastoral. Sabemos como é difícil a vida de um Bispo ou de um sacerdote em muitas regiões do Brasil e da América Latina.
Quem fala da “riqueza” da Igreja é porque não a conhece bem, e não sabe a imensidão do seu trabalho e da sua missão. Afinal, que Instituição recebeu missão tão grande de Deus, de preparar a humanidade para ter acesso a salvação trazida por Jesus?

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