A FAMÍLIA É SAGRADA NA SOCIEDADE MODERNA, DIZ FILÓSOFO FRANCÊS



Os filhos tomaram o lugar da fé e das ideologias na vida espiritual do homem moderno, apontou o filósofo francês e ex-ministro da Educação da França, Luc Ferry, em entrevista à revista Veja desta semana. "No século XX, o ser humano virou sagrado", disse.
No livro recém lançado "Famílias, amo vocês", Ferry assinala que a família é a "única entidade realmente sagrada na sociedade moderna, aquela pela qual todos nós, ocidentais, aceitaríamos morrer, se preciso".

O filósofo definiu sagrado como "algo pelo qual vale a pena morrer". Afirmou que hoje, no Ocidente, "ninguém mais aceita morrer por um deus, um país ou um ideal".

Ele admitiu, contudo, que religiosos extremistas no Islã sacrificam vidas, e na Chechênia ou na Ossétia cidadãos estão dispostos a morrer pela nação. "Mas garanto que não há cidadãos com tais intenções na Alemanha, na França ou nos Estados Unidos. Em contrapartida, não conheço pai que não arriscaria a vida por seus filhos. Os filhos se tornaram o principal canal para o homem tentar transcender espiritualmente", comparou.

Foi entre os séculos XVII e XVIII que a infância passou a ser definida como um período de fragilidade e de ingenuidade, lembrou. A família da Idade Média era muito mais dividida do que hoje, havia muito mais pais e mães que criavam seus filhos sozinhos. Para o filósofo, o declínio da família e o fim da família nuclear é um clichê que não se sustenta.

Estudioso de Immanuel Kant, Ferry criticou a lógica contemporânea que valoriza o hiperconsumo. "O que nos dá a sensação de progredir, de ser felizes, pelo menos momentaneamente, é comprar, comprar e comprar", o que não basta, alertou.

A sociedade hoje não se inspira em ideais superiores em termos de civilização. "A sociedade se movimenta no sentido de estabelecer a concorrência acirrada entre todos os indivíduos, sem objetivos finais claros. A história não se move pela aspiração a um mundo melhor, mas pela ação mecânica da competição", arrolou.

Na entrevista, Ferry destacou que o cidadão ocidental tem medo de tudo. "Qualquer ameaça, como o terrorismo, o aquecimento global ou a gripe aviária, desperta uma neurose global". No livro "Aprender a viver", o ex-ministro escreveu que o ser humano precisa de filosofia, mais do que se imagina.

"Mais do que nunca, vivemos num mundo no qual a religião não é suficiente para dar ao homem as respostas que ele procura", disse, explicando que a religião procura encontrar a paz interior e a felicidade através da fé, enquanto a filosofia tem o mesmo propósito, mas através da razão e sem a intervenção de um deus.

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