REFLEXÃO DO EVANGELHO DOMINICAL - Lc 4, 21-30 - 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C

ANOTAÇÕES PARA COMPREENSÃO DO TEXTO

NAZARÉ - Nazaré fica a oeste da Galileia (região da Palestina) como também Caná, onde houve o retumbante milagre da transformação da água em vinho. Havia uma rivalidade muito grande entre Caná e Nazaré, como acontece ainda hoje entre cidades vizinhas. No tempo de Cristo, Nazaré era apenas uma pequena aldeia, perto do monte Tabor, palco da Transfiguração. Hoje, Nazaré é um ponto de turismo cristão, muito movimentado, empoeirado e barulhento. Avulta sobre o casário a imponente Basílica da Anunciação, que algumas pessoas acham uma das igrejas mais belas do mundo. A basílica foi construída sobre a caverna e a casa de José e Maria, conforme diz a tradição. Mas Nazaré ficou conhecida mesmo foi pela rejeição de seus moradores à pregação de Jesus no começo de sua vida pública. Lá foi onde quiseram precipitá-lo do alto de um rochedo. O nome atual dela, em árabe, é "Em-Nasira"(...)


OS RISCOS DE PROFETIZAR

Os nazarenos estavam tomados de admiração pelo novel pregador. Todos estavam com os olhos fixos nele. Não há nada melhor do que eletrizar o auditório. Porém, assim que Jesus se pôs na figura anunciada por Isaías e todos os profetas do Antigo Testamento, foram mudando de humor. O carpinteiro conhecido desde pequeno na cidade, restaurando tetos, fazendo portas estava sendo um impostor ou um visionário. Estava abusando da credulidade deles, fazendo-se passar por alguém, que foi anunciado por todos os profetas. Assim, foram mudando rapidamente de humor, da euforia em que estavam passaram à indiferença e daí a agressão física, querendo jogá-lo num despenhadeiro.

OS NAZARENOS CHEGARAM A UM PASSO DA FÉ

Os conterrâneos de Jesus, como explica Frei Clarêncio Neotti (Ministério da Palavra - Ano C - pag. 54) fizeram uma longa caminhada de abordagem ao Cristo-Deus. Ficaram encantados com o que saía da boca dele. Maravilhados com os milagres feitos em Cafarnaum, mas pararam aí por causa do lado humano de Jesus, que Lucas mostra muito realisticamente, mas do que os outros evangelistas. O carpinteiro pobre que cresceu ali às vistas deles não podia ser o personagem referido ali na sagrada Torá, lida a poucos momentos. Faltou-lhes o passo da fé. "Para se fazer o passo da fé, necessariamente devemos cortar a autossuficiência. O autossuficiente não sente necessidade da fé, não tem condições para a graça da fé. É como a pedra dura em relação a semente." (Frei Clarêncio Neotti - Ministério da Palavra - Ano C - fl. 54).

CONCLUSÕES

a) Como os nazarenos, nós ficamos, às vezes, "empolgados". Ficamos empolgados, por exemplo, com a nossa missa do fim de semana. Achamos bonitos os cânticos, a vibração com o levantamento de braços do glória, o entralaçamento da hora do pai-nosso. Mas ficamos só nisso. Falta-nos o passo da fé, mesmo sabendo que a missa é um "mistério da fé" (Misterium fidei) e sabendo que ela deve ser continuada no dia-a-dia.

b) Nós discriminamos, com facilidade, os nossos irmãos mais miseráveis, os nossos vizinhos da roda do círculo mais mal trajados e, sobretudo, se iletrados. Achamos que, se Deus quiser falar conosco vai preferir o coordenador do nosso grupo ou pessoas "dessa classe".

c) O papel mais genuíno do profeta, o de denunciar, é muito incômodo para nós. Nós vimos dois exemplos próximos um do outro: João Batista e, depois, Jesus. Assim, estamos quase sempre inventando desculpas e nos dispensando de denunciar. Isto é, falta-nos MILITÂNCIA. A palavra "militância" vem da palavra latina "milites = soldado". Do amigo Jesus queremos os milagres e é preciso defendê-lo, já que somos "soldados de Cristo" e sabemos disso quando fomos catequizados para receber o crisma.

FRANCISCO VALMIR ROCHA

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