
"Naquele tempo, muitos dos discípulos de Jesus que o escutaram, disseram: 'Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?'"
O evangelho que estudamos, o do vigésimo primeiro domingo, é continuação do evangelho do décimo nono domingo, que dizia: "Naquele tempo, os judeus começaram a murmurar a respeito de Jesus..."
"Murmurar" é cochichar reclamando. A ideia fixa dos judeus a respeito de Jesus era que Ele seria o Messias glorioso. Eles tinham um enorme apego às coisas temporais e ao pão nosso de cada dia (multiplicação dos pães).
Eis que Jesus estava preparando os seus discípulos para aceitarem o drama ignominioso da paixão e as verdades sobre o pão-eucarístico, do qual o pão-de-cada-dia era apenas símbolo(...)
Os pontos que estavam perturbando a cabeça deles eram quatro:
Primeiro: Jesus tinha dito: "Eu sou o pão que desceu do céu" e no versículo 38 (Jo 6) Ele diz sem pestanejar: "Pois desci do Céu".
Ora Jesus era conhecido pelo povo como "Jesus de Nazaré" e todo mundo conhecia o carpinteiro José e a sua mãe Maria, que moravam em Nazaré. Havia uns de Nazaré que o estavam ouvindo.
Segundo: Jesus tinha dito no vers. 54 (Jo 6): "E eu o ressucitarei no último dia." Nem todo judeu acreditava na ressurreição. Os fariseus a aceitavam, mas os saduceus não acreditavam na "ressurreição".
Terceiro: Jesus tinha dito no versículo 26: "Quem comer minha carne e bebe meu sangue permanece em mim." Ora, entre os judeus havia leis rígidas sobre o consumo de carne de animais. Que dizer da carne humana?
Quarto: O homem não podia beber sangue dos animais. Ainda hoje os frangos que são exportados para os países árabes são sangrados na altura do pescoço para que o sangue escorra antes de os acondicionarem para o transporte.
Então, essas afirmações soavam como escândalo, como pedras de tropeço para os discípulos, tanto que muitos se retiraram.
Jesus sabia do problema e para fortificar a fé dos seus discípulos na sua origem divina (colher de chá) fez o milagre estupendo da multiplicação dos pães e o da sua transfiguração.
Os discípulos não podiam entender (sua inteligência não abrangia) as verdades sobre o pão-eucarístico nem como o Messias esperado podia passar pela humilhação dos suplícios a cruz.
Jesus, no entanto, se redobrava em mostrar que não era a inteligência que contava, mas era uma questão de fé. Não vinha ao caso entender as verdades, mas aceitá-las por terem sido ensinadas pelo filho de Deus. O evangelista São João distingue as duas coisas usando a expressão "espírito e carne". "Carne" significa a aceitação d'Ele pelo "raciocínio humano". "Espírito" é a aceitação pela "fé".
Lições importantes:
No nosso relacionamento com Deus, mais do que entendê-lo é importante aceitá-lo. Deus age à sua maneira, nem sempre o entendemos, mas é preciso sempre aceitá-lo. Os discípulos eram muitos. Ao ouvirem o discurso da Eucaristia, ficaram reduzidos e, no monte Calvário, ficaram ainda mais diminuídos. Mas Jesus manteve firme a sua doutrina. Nós podemos criar uma paábola para retratar o relacionamento de Deus para conosco hoje:
Um pai extremoso convidou a sua filhinha de nove anos para ir ver com ele o castelo maravilhoso que ele tinha feito para ela. Mas, no caminho, ele se escondeu. Sua filha, desamparada, ficou-o procurando aflita, julgando-se inteiramente entregue à sua sorte. Só quando as primeiras lágrimas apontaram e antes que as suas forças fraquejassem, Ele apareceu de surpresa e levou-a para morar com Ele.
Na parábola, o pai extremoso é Deus.
A filha de nove anos é cada um de nós. Cada um de nós por mais adulto que seja, por mais inteligente e sabido, mesmo um Einstein com a sua agudíssima inteligência, não passa de uma criança frente a Deus. Às vezes. Ele se emparelha de nós com desvelos de um pai extremoso, mas, surpreendentemente, falta-nos em determinados momentos para que tenhamos nossos méritos. Mas o que Ele deseja e quer é que nunca o deixemos de procurá-lo.
FRANCISCO VALMIR ROCHA
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