PENTECOSTES - MISSIONARIEDADE E PROFETISMO

Estamos prestes a celebrar a Festa de Pentecostes, momento em que revivemos com entusiasmo a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos reunidos no Cenáculo de Jerusalém. Mediante tão importante celebração, resolvi fazer algumas considerações pertinentes sobre a pessoa do Espírito Santo e suas implicações concretas em nossa vida cristã. É extremamente relevante uma nova catequese acerca desse tema. Quem é para nós o Espírito Santo? Como Ele se revela e se manifesta em nossa vida?(...)

Inicio apresentando o que Ele não é! Ele não é propriedade privada de Igrejas, grupos religiosos ou indivíduos, por isso se manifesta livremente em cada gesto de fraternidade, amor e libertação em favor da comunidade. Não é dom para si, mas para os outros. Através de seus dons e carismas, o Paráclito suscita homens e mulheres novos, capazes de erguer a sua voz contra os desmandos deste mundo e colocar a própria vida em risco se necessário for para que o Reino de Deus aconteça verdadeiramente entre nós. Ele é a força profética que nos impulsiona a lutar por um mundo mais justo e fraterno, sem excluídos e marginalizados, sem oprimidos e opressores, onde todos gozem dos mesmos direitos.

O Espírito Santo é presença dinâmica e renovadora dentro e fora da Igreja, a alma da ação missionária e a expressão mais concreta de amor e doação. É o que S. Lucas nos mostra quando descreve o relato do Pentecostes. Com a partida de Jesus, os apóstolos sentiram-se "órfãos" e desanimados para a missão. Com a vinda do Consolador, sentiram-se cheios de fortaleza para anunciar Jesus Cristo e o seu projeto libertador com ousadia e profetismo diante das estruturas político-religiosas que oprimiam e promoviam a exclusão social. Tornaram-se naquele momento, sal da terra e luz do mundo, fermento de transformação da sociedade. Foi isto precisamente que o Espírito Santo operou neles e continua a operar ainda hoje em cada um de nós, quando nos deixamos conduzir por sua ação.

Com efeito, a graça do Espírito Santo nos conduz a uma comunhão profunda com as dores e angústias da humanidade, dos pobres e excluídos. Ele nos conduz a uma militância ativa nas lutas populares, nas campanhas e mobilizações em favor da vida e nas diferentes realidades temporais dais quais muitas vezes nos esquivamos e fugimos por não entendermos verdadeiramente o nosso papel e a nossa missão enquanto batizados. Sob o influxo do Espírito Santo, muitos mártires deram a vida e tombaram neste chão, mas não se calaram diante do erro e da injustiça. O sangue e o testemunho desses cristãos e cristãs continuam encorajando outros tantos profetas do Reino, perdidos nos mais diferentes rincões deste mundo.

Diferentemente dos arroubos eufóricos e emocionais que assistimos dia e noite em alguns canais ou programas católicos, a ação do Espírito não nos faz olhar apenas para as coisas do alto, mas também para as misérias que se desvendam diante de nós. Muito mais importante do que balbuciar palavras desconexas em pretensos êxtases de oração, é ver o Cristo desfigurado no irmão que está ao nosso lado, cuja presença desprezamos ou não percebemos já que estamos completamente inebriados num espiritualismo desencarnado e infantil.

Nessa festa de Pentecostes que se aproxima, diminuamos os cantos e discursos piedosos para resgatarmos a missionariedade e o profetismo que tanto embalaram os primeiros cristãos em sua luta. Que o Espírito Santo faça de nós anunciadores e denunciadores, parceiros de Deus na construção de um mundo melhor.

Por César Augusto Rocha - coordenador do Conselho Diocesano de Leigos/as

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